Exaustão, esquecimentos e necessidade de dar conta de tudo são sintomas quase sempre presentes na vida de mulheres com filhos. Mas, o excesso de esgotamento emocional pode significar a síndrome de burnout materno. Ou mommy burnout, no inglês. O termo é utilizado para definir o cansaço e o estresse crônico de mães sobrecarregadas com as funções maternas, tarefas do dia a dia, vida social, entre outras coisas.
A psicóloga Karla Sindeaux, do Instituto Meraki, explica que a síndrome de burnout está relacionada ao esgotamento profissional. Ela esclarece que a patologia é um distúrbio psíquico caracterizado pela sensação de tensão emocional, exaustão e estresse crônico desencadeados pelo acúmulo de funções.
“Essa classificação traz a doença como consequência do estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”, afirma a psicóloga ao revelar que não existe uma Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, mais conhecida como CID, para o burnout materno.
“Porém, a sociedade se transforma muito mais rápido que as classificações. Por isso, passou-se a chamar o esgotamento materno de burnout materno. Esse é um fenômeno antigo, mas as pessoas só estão nomeando agora. E nomear é importante para colocar as coisas em um contexto”, declara a pisicóloga.
Sendo assim, de acordo com Karla Sindeaux, o burnout materno pode ser caracterizado pelo estresse prolongado, relacionado não só aos cuidados maternos mas pela maneira como a mãe exerce as múltiplas obrigações nessa fase de vida, desde o nascimento até os 3 anos da criança, que é quando ela exige mais cuidados e dedicação. Além deste, outros sintomas da doença são:
- sentimentos constante de culpa;
- estresse relacionado a administração do tempo;
- excesso de pessimismo;
- exaustão, mesmo após um período de repouso;
- sentimento de fracasso e impotência;
- irritabilidade sem motivo aparente;
- falta de interesse ou prazer em cuidar do filho;
- baixa autoestima;
- tristeza, medo e insegurança.
“Esses sentimentos podem parecer comuns na maternidade. A grande preocupação é com a intensidade e frequência com que eles aparecem”, explica Sindeaux. Outro problema é que muitas mães não sabem se e quando estão passando pela síndrome. Isso faz com que elas se sintam aprisionadas em um ciclo de culpa constante.
A técnica de enfermagem Érika Bianca da Silva Castro, 26 anos, por exemplo, só ouviu falar sobre a mommy burnout recentemente. Ela é mãe das pequenas Ágata Silva, 6 anos, e Ana Luiza Silva, 5 meses. A primogênita sempre pedia uma irmã. No entanto, quando a caçula chegou, Ágata protagonizou vários episódios de ciúmes e passou a exigir ainda mais atenção da mãe.
“Eu estava naquela fase dos hormônios alterados e não conseguia lidar com as demandas das duas crianças. Não importa o quanto eu me esforçasse, a mais velha sentia muito ciúmes, dizia que eu não a amava. Era muito difícil. E isso me gerava um cansaço extremo e um sentimento de culpa muito pesado”, desabafa Castro.
Paralelo a isso, Érica enfrentou ainda os dilemas da amamentação. “Meu peito enchia e isso causava muita dor. Aliviava quando a Ana Luiza mamava. Ela passava um bom tempo mamando e quando eu achava que ia poder dar continuidade às minhas tarefas, ela já queria mamar de novo. Eu não tinha tempo para nada. Muito menos para dormir”, diz a técnica de enfermagem.
Érika Bianca ainda precisou lidar com a ansiedade da volta ao trabalho presencial. “Desde que minha filha nasceu, eu já comecei a pensar como seria a amamentação quando eu voltasse a trabalhar, com quem ela ficaria, o que aconteceria na minha ausência. Ela mal havia nascido e eu já me culpava porque em breve não estaria com ela em tempo integral”.
O cansaço das atividades de casa, o estresse por não conseguir lidar com as demandas das duas crianças e o sentimento da impotência de Érika se transformaram em excesso de irritabilidade e até desinteresse em cuidar das filhas. “As vezes eu paro, conto até três e respiro. Nesses momentos eu fico sem ar e parece que vou explodir. As vezes minha vontade é sair correndo e deixá-las em casa, como se eu fosse um perigo”, desabafa.
A mãe da Ágata e da Ana Luiza confessa que chorava constantemente e não sabia o que fazer para mudar a situação. “Eu me sinto sufocada, me sinto fracassada, impotente. E ainda tem o marido, que, neste caso, melhor não comentar”, diz a jovem ao revelar que também não conseguia dar atenção ao cônjuge. Ela também revela que, por vezes, se viu arrependida da maternidade. “Antes eu tinha tempo para tudo: tomar um banho, sair. Sei que minhas filhas são bençãos de Deus, mas tem horas que eu sinto que não vou aguentar mais”.
Saiba Mais
Diagnóstico
A essa altura, Érika sabia que precisava de ajuda profissional para lidar com o desgaste emocional que enfrentava mas, além de não saber como priorizar sua saúde mental, ela também não sabia onde encontrar auxílio.
A psicóloga Karla Sindeaux recomenda que, em primeiro lugar, a mãe com esses sinais procure um profissional da psicologia, que vai avaliar a intensidade e frequência dos sintomas da doença e verificar se eles estão afetando ou atrapalhando as funções cotidianas da mulher.
“Os sinais passam do aceitável quando impedem a mulher de realizar suas atribuições, senão, começa a gerar uma disfuncionalidade, gerando prejuízo nas atividades laborais, familiares e sociais. E isso não pode acontecer”, afirma Sindeaux
Além disso, segundo a psicóloga, são levadas em consideração as questões hormonais, que também podem agravar o esgotamento. Em alguns casos mais graves, o psicólogo encaminha a paciente para avaliação psiquiátrica, especialmente se for necessário a utilização de medicamentos.
Como prevenir?
É muito comum que, após o parto, a mulher se dedique integralmente ao novo membro da família e esqueça de dedicar tempo para si. Há ainda o anseio de conseguir realizar todas as tarefas com a mesma dedicação de antes da chegada do bebê. Sendo assim, a Karla Sindeaux faz algumas recomendações que podem ser valiosas na prevenção do esgotamento materno.
- ter uma rede de apoio. Nesse momento, é muito importante poder contar com pessoas que possam ajudar com os cuidados da criança, das tarefas do cotidiano ou simplesmente contribuir com uma conversa;
- ter relacionamentos que não tenham a ver com a maternidade. É extremamente importante que a mãe converse sobre outros assuntos além de fraldas e amamentação;
- reservar um tempo para cuidar de si. Realizar pequenas atividades que trazem prazer e ajudam a alívio do estresse. Às vezes, um banho sozinha, tranquilo, mais demorado e sem preocupações ajuda muito.
- Ficar sozinha e em silêncio é outra coisa que traz bastante alívio;
- Ser benevolente consigo mesma. Entender que você faz o melhor que pode, que ninguém dá conta de tudo e não existe mãe 100%;
- jamais deixar de cuidar de si e se auto dedicar amor.
Como ajudar uma mãe sobrecarregada?
- Olhar para a mãe como alguém que também precisa de cuidado;
- Evitar visitas em horários críticos, como a hora da soneca;
- Caso vá visitar uma mãe, se ofereça para levar o lanche para que ela não se preocupe com a recepção;
- Se tiver intimidade, se ofereça para segurar a criança enquanto ela toma um banho tranquila ou faça um cochilo;
- Não competir quem está mais cansado ou fazer com que a mãe tente provar o motivo do seu cansaço;
- Levar um copo de água gelada para a mãe enquanto ela amamenta;
- Convidar a mãe para um momento de distração. Se não for possível sair, servir um bolo com café e um papo agradável;
- Ouvir e dar atenção aos sentimentos da mulher nessa fase é um grande presente.
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