Jornal Correio Braziliense

'Aplicação rápida e segura' em humanos

Nos últimos anos, os cientistas desenvolveram medicamentos destinados ao tratamento da dermatite atópica, amortecendo a resposta das células TH2. Quando o patologista Sagar Bapat tratou camundongos obesos com uma dessas drogas, a estratégia não só não aliviou os sintomas, como, na verdade, piorou significativamente a doença. "O tratamento tornou-se um antitratamento robusto", diz Bapat. "Isso sugere que você pode ter gêmeos idênticos no hospital com a mesma doença, mas se um é obeso e o outro é magro, talvez o mesmo medicamento não funcione em ambos."

Os pesquisadores suspeitaram que a disfunção em uma proteína chamada PPAR-gama pode estar mediando a ligação entre obesidade e inflamação. Em 1995, Ronald Evans e sua equipe descobriram que o PPAR-gama era um regulador mestre das células de gordura, e alvo de um medicamento aprovado para diabetes.

Inflamação

Quando os cientistas trataram camundongos obesos com dermatite atópica com uma dessas drogas ativadoras de PPAR-gama, chamada rosiglitazona, a pele dos animais melhorou, e o perfil molecular da doença mudou. Além disso, os medicamentos destinados à inflamação do tipo TH2 foram, então, quase como nos roedores magros, capazes de melhorar a dermatite atópica nos com obesidade. "Essencialmente, nós 'desengordamos' imunologicamente camundongos obesos sem alterar seu peso corporal", diz Bapat.

A equipe também analisou dados de pacientes humanos com doenças alérgicas, incluindo 59 pessoas com dermatite atópica, bem como centenas de indivíduos com asma (outra condição que também envolve uma reação do sistema imunológico) inscritos em um grande estudo longitudinal existente. Eles descobriram que aqueles com obesidade eram mais propensos a apresentar diminuição dos sinais da inflamação de TH2 esperada.

Embora sejam necessários mais estudos em humanos, os dados sugerem que, tanto em pessoas quanto em camundongos, a obesidade causa uma mudança na inflamação que tem consequências para a patologia da doença alérgica e para a eficácia das terapias imunológicas que visam a inflamação associada ao TH2 . "O que gostaríamos de saber mais agora é exatamente como acontece a troca de células T", diz Ye Zeng, professor de imunologia em Salk. "Há mais detalhes aqui para descobrir que podem ter relevância para uma série de doenças relacionadas à alergia e à asma."

No entanto, o novo estudo aponta para a utilidade de combinar a terapia que tem como alvo a inflamação TH2 com uma droga PPAR-gama, como, a rosiglitazona para tratar pacientes obesos com dermatite atópica. "Este é um caso em que nossa descoberta científica pode ter uma aplicação muito segura e rápida à terapia em humanos", diz Evans. "Nossas descobertas pré-clínicas sugerem que esses medicamentos já aprovados pela FDA (órgão regulatório norte-americano) podem ter um benefício exclusivo de cotratamento em certos pacientes."