Pesquisadores norte-americanos descobriram um importante mecanismo associado à forma como a obesidade afeta o sistema imunológico, o que poderá ajudar a tratar pessoas acima do peso, que sofrem de doenças como asma e alergias. O excesso de gordura corporal está associado a diversas enfermidades e também atrapalha o funcionamento das defesas do organismo, impactando negativamente a resposta a diversos tipos de medicamentos. O estudo foi publicado ontem, na revista Nature.
Mais de 1 bilhão de pessoas estão obesas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta condição, caracterizada por um índice de massa corporal acima de 30kg/m², afeta 19,8% da população brasileira, uma tendência em crescimento. Alex Marson, diretor do Instituto Gladstone da Universidade da Califórnia, câmpus de San Francisco (UCSF), e autor sênior do estudo, conta que já se sabe que o excesso de peso — um estado inflamatório crônico — altera o sistema imunológico de inúmeras maneiras.
Na obesidade, o curso de doenças como infecções, alergia e câncer costuma ser diferente, assim como a resposta a alguns tratamentos. "Estamos vivendo em uma era em que a taxa de obesidade está aumentando em todo o mundo", diz Marson. "Mudanças na dieta e na composição corporal podem afetar o sistema imunológico, por isso temos que pensar em como as doenças que envolvem o sistema imunológico podem diferir entre os indivíduos", afirma.
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Dermatite
No estudo, a equipe constatou que, quando camundongos com dermatite atópica — um tipo comum de inflamação alérgica da pele — são tratados com medicamentos que visam o sistema imunológico, a pele espessa e com coceira desses animais é curada rapidamente. Mas os cientistas descobriram também que a mesma terapia em cobaias obesas piora os sintomas. Isso ocorre porque a obesidade altera os fundamentos moleculares da inflamação alérgica, tanto em animais quanto em humanos. "Nossas descobertas demonstram como as diferenças em nossos estados metabólicos individuais podem ter um grande impacto na inflamação e como os medicamentos disponíveis podem melhorar os prognósticos de saúde", diz Ronald Evans, um dos autores do estudo e diretor do Laboratório de Expressão Genética do Instituto Salk, na Califórnia.
Durante os estudos de pós-graduação em Salk e em pesquisas subsequentes no laboratório de Alex Marson, o patologista e agora professor da UCSF Sagar Bapat, queria saber, em nível molecular, como a obesidade afetava a dermatite atópica. Ele descobriu que, quando os camundongos se tornavam obesos por comerem uma dieta rica em gordura antes da indução da doença, eles desenvolviam sintomas mais graves do que os animais magros. Para entender o porquê, Bapat e os colegas analisaram as células e moléculas do sistema imunológico que estavam ativas em cada grupo de cobaias.
"O que esperávamos ver nos camundongos obesos era apenas um grau maior do mesmo tipo de inflamação", diz Bapat. "Em vez disso, vimos um tipo completamente diferente de inflamação." Ele explica que as células T auxiliares do corpo, que ajudam a proteger contra infecções, mas também se tornam hiperativas em doenças autoimunes ou alergias, podem ser agrupadas em três classes: TH1, TH2 e TH17. Os cientistas consideraram a dermatite atópica uma doença TH 2; isso significa que as células TH2 são as que causam a inflamação da pele.
Em camundongos magros com dermatite atópica, Bapat e os colegas realmente descobriram que as células TH2 estavam ativas. Nos animais obesos com a mesma condição, no entanto, essas mesmas estruturas foram ativadas. Em nível molecular, isso significava que a dermatite atópica era completamente diferente nos roedores com obesidade, levantando a questão se as drogas que funcionam nos magros também seriam eficazes naqueles com excesso de peso.