A Agência Espacial Europeia (ESA) confirmou, ontem, a suspensão dos seus projetos com a Rússia, incluindo a missão ExoMars, que enviaria, em setembro, um rover a Marte. A medida foi tomada em represália à invasão à Ucrânia e faz parte de um pacote de sanções que também prevê trazer de volta a equipe de centenas de engenheiros e técnicos europeus que trabalham com a agência espacial russa, a Roscosmos.
Em comunicado, a ESA argumentou que há uma "impossibilidade de manter a atual cooperação com a Roscosmos" devido "às consequências trágicas da agressão contra a Ucrânia". "É muito amargo para todos os entusiastas do espaço", criticou o chefe da agência russa, Dmitri Rogozin, que também sinalizou a possibilidade de o seu país seguir sozinho nessa empreitada. "Sim, levará alguns anos, (...) mas seremos capazes de realizar essa viagem de pesquisa a partir do novo local de lançamento no Cosmódromo de Vostochny", escreveu, no Telegram.
Diversas missões da ESA utilizaram o lançador russo Soyouz a partir do porto espacial europeu de Kourou, na Guiana Francesa. A parceria envolve, ainda, o uso do lançador Proton, e missões com esse instrumento também foram suspensas. A ExoMars, que lançaria o rover europeu Rosalind Franklin, estava prevista, inicialmente, para 2020, mas foi adiada em função da pandemia de covid-19.
Com a decisão mais recente da ESA, a expedição espacial pode ficar ainda mais comprometida, considerando que será preciso correr contra o tempo para usar a próxima janela de lançamento em direção ao planeta vermelho, que se abre de dois em dois anos. Uma cooperação com a Nasa, a agência espacial americana, "é uma opção", segundo o diretor-geral da agência europeia, Josef Aschbacher. Porém, uma das alternativas para substituir o lançador russo, o foguete Ariane 6, está com a "agenda cheia".
Segurança na ISS
Também estão suspensos o lançamento de dois satélites que seriam enviados à Constelação Europeia de Posicionamento Galileo, um sistema avançado de observação estelar; a missão científica Euclid, que utiliza um supertelescópio para avaliar a história da formação do universo; e a missão de observação da Terra EarthCARE, em parceria também com os japoneses.
Outro temor em relação às consequências no espaço do conflito entre Moscou e Kiev é a manutenção da Estação Espacial Internacional (ISS), coordenada por americanos e russos. A ISS se mantém em funcionamento com o auxílio de equipamentos de ambos os países, como a nave russa Progress, responsável pelo abastecimento do centro. Aschbacher descartou, ontem, um impacto na segurança da estação devido às sanções espaciais. "As operações são estáveis e seguras", garantiu.