Eugene Parker, um astrofísico americano pioneiro que desenvolveu um modelo matemático que identificou o fluxo de partículas carregadas do Sol conhecido como vento solar, morreu aos 94 anos, informou a Nasa nesta quarta-feira(16).
Parker, que em 2018 se tornou a primeira pessoa a presenciar o lançamento de uma espaçonave com seu nome, é considerado um visionário que lançou as bases para o campo da heliofísica, a ciência que aborda as interações do Sol com a Terra e o Sistema Solar, incluindo o clima espacial.
"Ficamos tristes ao saber que uma das grandes mentes científicas e líderes do nosso tempo faleceu", disse o administrador da Nasa, Bill Nelson, em comunicado.
Parker morreu na terça-feira, segundo a Universidade de Chicago, onde trabalhava havia muito tempo.
"Gene Parker foi uma figura lendária em nosso campo: sua visão do Sol e do Sistema Solar se antecipou ao seu tempo", acrescentou Angela Olinto, decana da Divisão de Ciências Físicas da Universidade de Chicago.
O astrofísico nasceu em 10 de junho de 1927 no Michigan, é bacharel em física pela Michigan State University e Ph.D. pelo California Institute of Technology.
Posteriormente, lecionou na Universidade de Utah antes de se estabelecer em 1955 na Universidade de Chicago, sua casa por muito tempo.
Ele começou a estudar a temperatura da coroa do Sol e seus cálculos mostraram que as condições deveriam liberar um fluxo supersônico de partículas para fora da superfície.
Inicialmente, a ideia foi recebida com ceticismo, inclusive com piadas.
"Um disparate absoluto"
"O primeiro revisor do artigo disse: 'Bom, sugeriria que Parker vá à biblioteca e leia sobre o tema antes de tentar escrever um artigo a respeito porque isto é um disparate absoluto", relatou o próprio Parker ao jornal UChicago News em 2018.
Sua ideia só foi publicada pelo Astrophysical Journal quando seu então editor e futuro ganhador do Prêmio Nobel, Subrahmanyan Chandrasekhar, percebeu que não conseguia encontrar nenhum erro na matemática de Parker e anulou as objeções de dois revisores científicos.
A teoria foi provada correta em 1962, quando a nave espacial Mariner II da Nasa encontrou tal fluxo de partículas ou vento solar.
Os cientistas agora sabem que o vento solar cobre todos os planetas, protegendo-os da radiação nociva, mas também às vezes interrompendo as comunicações aqui na Terra quando ocorrem explosões solares.
"Qualquer um que conheceu o Dr. Parker sabia que ele era um visionário", disse Nicola Fox, diretor da divisão de heliofísica da Nasa.
Também propôs a ideia das "nanolabaredas", pequenas explosões que ocorrem no Sol e são responsáveis de que a coroa seja mais quente do que a superfície, algo que não podia ser explicado pela física conhecida naquele momento.
Parker passou a estudar os raios cósmicos, os campos magnéticos das galáxias e um leque de outros temas, e obteve vários reconhecimentos, entre eles a Medalha Nacional de Ciência dos Estados Unidos, o Prêmio Kioto, o Prêmio Crafoord e a Medalha da Sociedade Americana de Física por Feitos Excepcionais na Pesquisa.
"Qualquer um que conhecesse o dr. Parker sabia que era um visionário", disse Nicola Fox, diretora da divisão de heliofísica da Nasa.
A sonda solar Parker da Nasa, assim nomeada por causa de Eugene Parker, foi lançada em 2018 e orbitou o Sol a uma distância mais próxima do que nenhuma nave espacial que se aventurou anteriormente.
A sonda já enviou à Terra grande quantidade de dados valiosos que levam a novas descobertas sobre a meteorologia do espaço e a detecção de uma zona sobre a qual teorizou-se durante muito tempo, onde a radiação do Sol vaporiza toda a poeira cósmica.