Em fevereiro, batemos novamente um recorde de desmatamento na Amazônia – o mês registrou um aumento de 62% em comparação ao mesmo período em 2021. Um novo estudo de pesquisadores do Brasil, Colômbia e Estados Unidos mostra que peixes sensíveis a alterações no ambiente estão começando a desaparecer devido ao desmatamento desenfreado.
As espécies estão sendo substituídas por espécies mais resistentes aos impactos da devastação da floresta amazônica. Na pesquisa, os cientistas coletaram dados em 75 riachos na bacia do rio Machado, Rondônia, e usaram imagens de satélite da região feitas entre 1984 e 2011. O grupo analisou o histórico de desmatamento em águas com diferentes graus de preservação.
“A partir dos dados históricos, separamos as áreas em bacias que nunca passaram por mudança, as que sofreram desmatamento há muito tempo e as de degradação recente. Observamos que, onde o desmatamento é recente, a taxa de substituição de espécies [mais sensíveis por mais resistentes] era mais alta do que nas áreas florestadas e nas de desflorestamento antigo”, explica.um dos autores do estudo e pós-doutorado no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Ibilce-Unesp), Gabriel Brejão.
Como resultado, perdemos uma série de funções ecológicas exercidas pelos peixes que desaparecem. É como explica Lilian Casatti, professora da Unesp: “Ao perder espécies de cascudos que raspam troncos que caem na água, por exemplo, pode-se perder processamento de matéria orgânica. A perda de peixes insetívoros pode aumentar a quantidade de insetos que transmitem doenças. Peixes carnívoros, como traíras e dourados, exercem uma pressão em espécies mais básicas que podem se reproduzir descontroladamente sem predadores. A qualidade do habitat tem papel muito importante para manter não apenas uma diversidade de espécies, mas de funções ecológicas.”
Janeiro tem aumento de 400% e recorde histórico
O recorde de desmatamento em fevereiro não é um caso isolado. Comparado ao mesmo mês em 2021, janeiro registrou um aumento de mais de 400% na devastação da floresta amazônica.
22,5% da área com alertas de devastação entre 1º e 21 de janeiro de 2022 se concentraram nas florestas públicas não destinadas, que são o principal alvo de de grilagem de terras.
*Estagiária sob supervisão de Mariana Fernandes.