Um estudo com dados de mais de 50 mil pessoas revela novas peças genéticas relacionadas à forma grave da covid-19. No trabalho, cientistas identificaram genes associados a problemas como coagulação do sangue, intensidade da inflamação e resposta errônea do sistema imune em infectados pelo Sars-CoV-2 que evoluíram para quadros graves. Detalhes do trabalho foram apresentados na revista especializada Nature.
"Esses resultados explicam por que algumas pessoas desenvolvem covid-19 com risco de vida, enquanto outras não apresentam nenhum sintoma. Mas o mais importante é que ele nos dá uma compreensão profunda do processo da doença e é um grande passo à frente na busca por tratamentos mais eficazes", enfatiza, em comunicado, Kenneth Baillie, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
A equipe do GenOMICC, um grupo científico de colaboração global para a análise de doenças críticas, sequenciou o genoma de 7.491 pessoas tratadas em centros médicos do Reino Unido devido à infecção pelo novo coronavírus. Esse material foi comparado com o DNA de 48.400 indivíduos que não tiveram a doença e com o de um terceiro grupo, composto por 1.630 voluntários com covid leve.
A análise indicou diferenças significativas em 16 genes presentes no DNA de infectados que precisaram de tratamento na UTI, quando comparados ao restante da amostra. Os cientistas também observaram o envolvimento de sete outras variações genéticas já associadas à forma severa da covid-19 em estudos anteriores conduzidos por eles. Os pesquisadores, então, deram destaque a um gene que interrompe uma molécula mensageira-chave na sinalização do sistema imunológico, a interferon alfa-10. Quando presente, essa variante foi suficiente para aumentar o risco de agravamento da infecção pelo Sars-CoV-2.
Segundo a equipe, os resultados podem ser usados para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e até ajudar a prever quais infectados apresentam maior risco de complicação. "A coagulação do sangue é uma das principais razões pelas quais os pacientes com covid desenvolvem falta de oxigênio. Portanto, isso é potencialmente direcionável para impedir a formação desses coágulos", ilustra Baillie.