Pessoas que morreram com covid-19 podem ter órgãos abdominais doados sem risco de infecção para os receptores, afirmam cientistas americanos. Eles chegaram a essa conclusão ao avaliar os desdobramentos de seis implantes — de fígado, rins e pâncreas — e detalharam os resultados do trabalho na revista Clinical Microbiology and Infection.
Os autores do estudo relatam que, com a pandemia, surgiu uma expectativa de que as filas de transplantes poderiam "andar mais rápido" devido ao aumento significativo de óbitos. "Mas ainda sabemos pouco sobre possíveis riscos, mesmo adotando um protocolo de segurança apurado", ponderam.
Há, segundo eles, a possibilidade de doação de órgãos. "Se o vírus é encontrado na base dos pulmões, eles seriam considerados inadequados para transplante, mas outros órgãos ainda podem ser transplantados com segurança, desde que o doador não tenha apresentado um estado hiperinflamatório grave ou mostrando sinais de coagulação excessiva", explicam. Também é preciso "considerar a causa final da morte do doador e avaliar se isso provavelmente afetará negativamente a qualidade do órgão e/ou o risco cirúrgico".
Considerando todas essas questões, a equipe avaliou seis transplantes de órgãos abdominais retirados de pessoas que morreram com o coronavírus. Na análise, que durou 46 dias, constatou-se que, em todos os casos, os órgãos executaram, nos receptores, as funções esperadas com normalidade, sem rejeições e diagnóstico positivo para a covid-19. "Embora limitada, nossa experiência, até o momento, apoia o uso de órgãos abdominais de indivíduos que testaram positivo para a covid-19 e reforça que eles são seguros e eficazes, mesmo no caso de pacientes com a forma grave ou com doença pulmonar causada pelo novo coronavírus", enfatizam.
Para reduzir o risco de infecção, os autores indicam que os receptores dos órgãos devem ser fortemente encorajados a serem totalmente vacinados contra o Sars-CoV-2. "Não ser imunizado pode aumentar o risco de covid-19 grave em pacientes transplantados devido aos medicamentos imunossupressores pós-transplante. Por esse motivo, incentivamos nossos pacientes na lista de espera a serem vacinados", justifica, em comunicado, Emily Eichenberger, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Universidade de Duke.
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Anticorpos
Também divulgado ontem, um estudo conduzido na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, revela que bebês e jovens que tiveram covid-19 apresentaram níveis mais altos de anticorpos contra o vírus quando comparados aos adultos. Os cientistas avaliaram amostras sanguíneas de 682 pessoas diagnosticadas com a enfermidade e não vacinadas. "Vimos taxas de anticorpos três vezes maiores em crianças de 0 a 4 anos e quase nove vezes maiores naqueles com 5 a 17 anos", relatam em artigo divulgado na revista especializada JCI Insight.
Os autores destacam que compreender as respostas de anticorpos ao Sars-CoV-2 em diferentes faixas etárias é importante para o desenvolvimento de novas estratégias de combate à covid-19. "Essas descobertas nos ajudam a formular as melhores medidas de vacinação entre o público infantil, auxiliando até a formular a dosagem de imunizantes que são indicados para cada público", indica, em comunicado Ruth Karron, uma das autoras do estudo.
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