Pesquisa

Bebês nascidos com zika vírus têm 11 vezes mais risco de morte

Pela primeira vez, pesquisadores comparam a taxa de óbitos de bebês com síndrome congênita do zika a de nascidos sem o problema. Eles alertam que a doença, transmitida pelo Aedes aegypti, ainda está ativa globalmente

Bebês nascidos com síndrome congênita do zika (SCZ), devido à infecção por esse arbovírus durante a gravidez, correm 11 vezes mais risco de morrer durante os primeiros três anos de vida do que aqueles nascidos sem a síndrome, segundo um estudo publicado no The New England Journal of Medicine. A pesquisa foi realizada por equipes da Universidade Federal da Bahia, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres, na Inglaterra.

Dos quase 11,5 milhões de nascidos vivos no Brasil, 3.308 nasceram com SCZ confirmada ou provável — dos quais 12% (398) morreram no período do estudo (2015 a 2018). Em comparação, dos mais de 11,4 milhões de bebês sem a síndrome, apenas 1% (120.629) sobreviveram. A taxa de mortalidade daqueles cujas mães tiveram zika, portanto, foi mais de 11 vezes maior do que os demais em até 36 meses de idade.

"Muitos podem pensar que o zika é uma doença do passado, mas, apenas em novembro de 2021, houve um surto do vírus na Índia, na cidade de Kanpur, com um aumento de quase 100 casos", destaca Enny Paixão Cruz, professora da faculdade inglesa e pesquisadora associada da Fiocruz, além de primeira autora do estudo. "Para os mais vulneráveis em nossa sociedade e país, continua sendo uma preocupação global."

De abril de 2015 a novembro de 2016, o Brasil foi afetado por uma devastadora epidemia de zika, com uma estimativa de 1,5 milhão de infectados. Houve mais de 3,5 mil casos de microcefalia infantil ou síndrome congênita do zika — uma condição rara, em que a cabeça do bebê é menor do que o esperado, condição, muitas vezes, associada a cérebros subdesenvolvidos e dificuldades de aprendizagem na vida adulta.

Anomalias

O vírus zika é transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti. Para muitos, é inofensivo e assintomático, mas, se transmitido da mãe para o bebê através da placenta, pode resultar em bebês nascendo com condições como microcefalia e outras anormalidades congênitas, além de disfagia (dificuldade de engolir líquidos e alimentos).

Embora se saiba que a exposição pré-natal ao vírus pode afetar o desenvolvimento fetal e resultar em SCZ, há muito menos dados sobre a sobrevivência e os resultados a longo prazo de crianças nascidas com a síndrome, em comparação com as demais. Também não está claro o impacto de importantes preditores de risco de mortalidade infantil, como peso ao nascer e idade gestacional ao nascimento, podem nesses desfechos.

Os pesquisadores analisaram dados de mais de 11 milhões de bebês nascidos no Brasil entre 2015 e 2018. Eles exploraram a associação entre taxas de mortalidade e a SCZ, usando informações de saúde pública, registros de nascidos vivos e de óbitos. O país exige que todas as crianças que apresentarem sintomas associados à síndrome, com microcefalia ou outros sinais no sistema central sejam notificadas.

Prematuros

Dos mais de 3 mil bebês nascidos com SCZ, quase 20% eram prematuros, 36% foram classificados como de baixo peso ao nascer e 37% eram pequenos para a idade gestacional. O risco de mortalidade de crianças nascidas antes de 32 semanas ou com tamanho menor que o esperado foi igual, independentemente da infecção por zika, observaram os pesquisadores. Além disso, eles não encontraram diferença estatisticamente significativa entre a taxa de óbitos naqueles com ou sem microcefalia.

"Embora os pais devam observar que o risco geral de morte permanece pequeno, nosso trabalho destaca a necessidade de as mulheres serem protegidas contra o vírus e de sistemas de assistência pós-natal bem estabelecidos", destaca Enny Paixão Cruz. "Intervenções precoces após o nascimento de um bebê com síndrome congênita do Zika podem reduzir os efeitos duradouros na saúde e melhorar as chances de sobrevivência. Agora que identificamos quais bebês provavelmente correm maior risco, precisamos estabelecer cuidados e tratamentos pós-natais para dar a eles a melhor chance de sobrevivência."

 

Risco alto de falso negativo

A proporção de pessoas com infecção por covid-19 não detectada pelo teste de fluxo lateral (LFT), o exame rápido de antígenos, é grande o suficiente para mascarar dados epidemiológicos reais, segundo um alerta publicado ontem na revista The British Medical Journal (BMJ). A análise, liderada por Jonathan Deeks, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, sugere que esse método deixa de diagnosticar até 20% dos casos positivos de Sars-CoV-2.

Os autores reconhecem que os LFTs são uma ferramenta importante no controle da pandemia de covid-19, mas dizem que as alegações de que esses testes são capazes de identificar a grande maioria das infecções são exageradas. Assim, corre-se o risco de fornecerem falsas garantias para aqueles que procuram descartar a doença.

Dados empíricos mostram que os LFTs apontam o resultado positivo quando o vírus está presente em um swab em grandes quantidades. Portanto, podem detectar pessoas com probabilidade de estarem infectadas. Porém, até agora a proporção de falsos negativos não foi avaliada.

Políticas públicas

O foco do trabalho publicado no BMJ foi identificar a probabilidade conjunta de que as pessoas provavelmente infectadas tenham recebido um resultado negativo no exame rápido. O estudo baseia-se em testes sintomáticos realizados em um centro do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde do Reino Unido, em detecções em massa feitas em Liverpool em pessoas assintomáticas, e no rastreamento de casos entre estudantes da Universidade de Birmingham.

Comparando com resultados dos testes de cultura viral, o de teste rápido perderia 20% dos casos positivos detectados no Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde, 29% dos rastreados em Liverpool, e 81% da triagem em Birmingham. "Os formuladores de políticas precisam garantir que o público esteja ciente do risco de ser infeccioso, apesar dos testes negativos, e que esses testes não sejam usados em situações em que as consequências dos resultados falsos negativos sejam consideráveis", escreveram.

Mais uma vacina


A farmacêutica francesa Sanofi anunciou resultados positivos em grande escala de sua vacina anticovid-19, desenvolvida em parceria com o laboratório britânico GSK, após um ano de testes e adiamentos. Embora os estudos completos ainda não tenham sido publicados, os dados mostram que o fármaco contribui para prevenir a hospitalização relacionada com o coronavírus. Além disso, teria uma eficácia ligeiramente superior a 50% para a covid sintomática.