Os resíduos plásticos já estão em todas as partes dos oceanos e ameaçam a biodiversidade marinha, alerta um relatório da organização Fundo Mundial para a Natureza (WWF), que pediu um tratado internacional para combater o problema. A contaminação "atingiu da superfície ao fundo do mar, dos polos às costas das ilhas mais isoladas, do menor plâncton à maior baleia", afirma a ONG, a poucas semanas de uma assembleia sobre meio ambiente das Nações Unidas.
Entre 19 e 23 milhões de resíduos plásticos param no mar a cada ano, afirma o relatório, que resume mais de 2 mil estudos sobre o tema. Os resíduos sofrem uma decomposição e viram partículas minúsculas, transformando-se em nanoplásticos, de tamanho inferior ao mícron (milésima parte de um milímetro).
A situação é tão grave que, mesmo com o fim do constante despejo de lixo atual, o volume de microplásticos dobraria até 2050 devido aos resíduos já presentes. Porém, o mais inquietante é que a inundação de material não será interrompida: a produção de plástico novo deve dobrar até 2040, o que triplicará os dejetos nos oceanos. "Estamos chegando a um ponto de saturação em vários lugares, o que representa uma ameaça não apenas para as espécies, e sim para todo o ecossistema", explica Eirik Lindebjerg, diretor de pesquisas sobre resíduos plásticos no WWF.
Além das imagens impactantes de tartarugas ou focas presas em redes, toda a cadeia alimentar está em perigo. Um estudo de 2021 sobre 555 espécies de peixes localizou restos de plásticos em 386 delas. Outros cientistas que examinaram a pesca de bacalhau, um dos peixes mais comercializados, detectaram que até 30% das espécies pesqueiras no Mar do Norte tinham microplásticos no estômago.
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No limite
Quase 17% dos arenques capturados no Mar Báltico também tinham microplásticos. No Atlântico Norte, 74% das aves marinhas haviam ingerido plástico. Um estudo no Havaí calculou o percentual nessa região do Pacífico em 69%. "O que demonstramos com esse relatório é que os ecossistemas têm um limite para absorver a contaminação", explica Eirik Lindebjerg.
No Mediterrâneo, no Mar Amarelo, no Mar da China Oriental (entre China, Taiwan e a península coreana) e nas águas geladas do Ártico, o limite já foi alcançado. "O sistema não admite mais plástico. Por isso, temos que seguir para zero emissão, poluição zero, o mais rápido possível", diz Lindebjerg. "Limpar os oceanos é extremamente difícil e caro", recorda.
Uma conferência sobre o meio ambiente organizada pela ONU acontecerá em Nairóbi, de 28 de fevereiro a 2 de março. Este é o momento de propor um acordo internacional "que possa resultar no fim de alguns produtos que não precisamos" e em critérios de produção e de reciclagem internacionais, pede o especialista.