A melhor maneira de combater uma alergia ao amendoim em crianças é promover a ingestão do alimento. Parece controverso — e perigoso —, mas um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa para Crianças Murdoch, na Austrália, e publicado nesta sexta-feira (4/2), comprovou que a ingestão de doses de amendoim, a chamada imunoterapia oral, provocou a perda da alergia em crianças entre 1 e 10 anos.
De acordo com o estudo, feito com 201 crianças de instituições médicas da Austrália, 51% das crianças que passaram por um tratamento que se baseia na ingestão comedida do alimento em um período de 18 meses, alcançaram a remissão, ou seja, a extinção da alergia.
Os pequenos foram acompanhados por quatro anos e aqueles que alcançaram a recuperação conseguiram, após a interrupção do tratamento, consumir o alimento sem ter a reação alérgica.
“Os resultados mostram que a imunoterapia oral com altas doses de amendoim oferece benefícios significativos para as crianças tratadas”, disse a professora Mimi Tang, que liderou o estudo. “Após 18 meses de tratamento, 51 por cento alcançaram remissão clínica e foram capazes de interromper o tratamento completamente. Já 74% conseguiram se alimentar com uma porção padrão de amendoim, o que equivale a um pacote de M&Ms de amendoim”, explicou.
“O restante dos participantes da pesquisa, que representam 24%, foram dessensibilizados ao alimento, ou seja, não correm mais risco de ter um choque anafilático”, acrescentou.
Um outro tratamento também foi testado e alcançou ótimos resultados: a combinação da ingestão do alimento com o consumo de probióticos, ou seja, bactérias benéficas que vivem no intestino e melhoram a saúde geral do organismo, trazendo benefícios como facilitar a digestão e a absorção de nutrientes, e fortalecer o sistema imunológico. Nesse caso, 46% das crianças participantes entraram em remissão.
“A adição de um probiótico não melhorou significativamente a eficácia em comparação com a imunoterapia oral, mas pareceu aumentar a tolerabilidade do tratamento, com menos sintomas gastrointestinais, especialmente em crianças entre um e cinco anos de idade”, pontua a especialista.
Para os pesquisadores, tanto a remissão quanto a dessensibilização promovem um aumento de qualidade de vida das crianças, que poderão parar de ter a responsabilidade de se preocuparem com a alimentação quando estiverem fora de casa.
"Alívio"
Um dos participantes do estudo, um menino chamado Declan, de 9 anos, conseguiu alcançar a remissão e come amendoim semanalmente. A mãe dele, Kate Lawlor, afirmou que “foi um grande alívio” ver que o filho pode comentar o alimento livremente.
“Ter um filho com alergia alimentar é bastante estressante”, disse ela. "Em casa, você pode controlar o ambiente em torno da comida, mas a escola, as datas para brincar e as festas de aniversário estão em grande parte fora de suas mãos”, conta.
“Com Declan agora em remissão, minha ansiedade foi aliviada e ele está gostando de comer M&Ms de chocolate com amendoim. Ele vê isso como um verdadeiro deleite e espera comê-los toda semana’, acrescentou.
Os pesquisadores ressaltam que o estudo é um grande passo científico e humanitário, já que “a alergia ao amendoim é a causa mais comum de choques anafiláticos e uma das causas mais frequentes de morte por alergia alimentar”.