Meio ambiente

Inventário inédito mapeia vazamento de metano

Pela primeira vez em escala global, usando imagens de satélite, cientistas quantificaram volumes de emissões maciças de metano associadas às atividades de extração de combustível fóssil, avaliando também o impacto disso no clima. As descobertas, publicadas na revista Science, explicam em parte por que os inventários oficiais geralmente subestimam a quantidade de emissões. A equipe mostra também que limitar a liberação do gás mitigaria os efeitos climáticos e economizaria bilhões de dólares para os principais países produtores dessas fontes energéticas não renováveis.

Um dos principais contribuintes para a mudança climática, o metano (CH4) tem um potencial de aquecimento global aproximadamente 30 vezes maior que o do CO2, em um período de 100 anos. Um quarto das emissões antropogênicas desse gás de efeito estufa tem origem na extração mundial de carvão, petróleo e gás natural (dos quais ele é o principal componente). Um estudo em 2018 já revelou que os inventários oficiais dos EUA subestimaram muito as emissões reais das atividades de extração e distribuição de petróleo e gás. Aparentemente, a discrepância observada se deve a liberações esporádicas não declaradas de grandes quantidades por operadores da indústria.

Para obter os dados, os pesquisadores analisaram metodicamente milhares de imagens diárias geradas pelo satélite Sentinel-5P, do observatório ESA, durante dois anos. Isso permitiu mapear 1,8 mil plumas de metano em todo o mundo, das quais 1,2 mil foram atribuídas à extração de combustível fóssil. Os cientistas, liderados pelo Laboratório de Ciências do Clima e do Meio Ambiente (CNRS /CEA/UVSQ), na França, em cooperação com a empresa Kayrros, consideram o impacto de tais lançamentos no clima comparável ao de 20 milhões de veículos na estrada por um ano.

Essas emissões representam 10% do total estimado para a indústria. No entanto, elas são apenas a ponta do iceberg, porque o satélite só é capaz de detectar rotineiramente as maiores plumas (> 25 toneladas por hora de CH4), que também são as mais intermitentes. Os pesquisadores demonstram que essas liberações maciças de metano não são localizadas aleatoriamente, mas sempre aparecem em pontos específicos de extração de petróleo e gás.

Monitoramento

Ao levar em conta os custos sociais subjacentes relacionados às mudanças climáticas e à qualidade do ar, bem como o valor monetário do gás desperdiçado, o estudo mostra que limitá-los renderia bilhões de dólares em economia líquida para os países em questão. Ele enfatiza a necessidade de um sistema de monitoramento atmosférico confiável para rastrear minuciosamente as emissões e estimar o impacto das medidas locais visando à redução das liberações.

"Nosso estudo fornece uma primeira estimativa sistemática de grandes vazamentos de metano que só podem ser vistos do espaço, mostrando como essas detecções se relacionam com processos mais amplos de monitoramento do gás", explica o cofundador e diretor científico da Kayrros, Alexandre d'Aspremont. "Esse é um passo gigantesco para superar as limitações atuais do sistema de relatórios de metano, que é fundamental para cumprir os compromissos da COP26 de reduzir suas emissões. Estudos recentes fornecem evidências crescentes de que suas emissões foram amplamente subestimadas pelos protocolos internacionais, na ausência de um sistema de monitoramento global capaz de capturar todo o petróleo e vazamentos de gás", afirma.