Um novo estudo do Instituto Pasteur, na França, publicado na última quarta-feira (2/2) no jornal científico Nature Communications (e que pode ser lido neste link), indica a descoberta de que certos anticorpos já conhecidos por direcionar efetivamente a proteína do envelope (Env) do HIV-1 podem impedir que as células infectadas liberem partículas virais, interrompendo assim a propagação viral.
Os anticorpos são em forma de Y, permitindo que eles se liguem entre a célula infectada e as partículas virais ou diretamente entre as partículas virais. Esta cadeia composta por anticorpos e partículas virais impede a propagação viral. Essa descoberta demonstra que esses anticorpos exibem diferentes atividades antivirais além da neutralização.
Anticorpos amplamente neutralizantes (bNAbs) direcionados a proteína do envelope do vírus (Env) têm um potencial significativo para o tratamento do HIV-1 — forma pandêmica do vírus da imunodeficiência humana.
Esses anticorpos foram inicialmente identificados em casos raros de pacientes cujo soro era capaz de inibir inúmeras cepas do HIV e exibem múltiplas atividades antivirais. Além de neutralizar o vírus, ou seja, impedir que ele infecte novas células, eles também matam as células infectadas, sendo chamados, consequentemente, de moléculas polifuncionais.
Assim, os pesquisadores indicam que é necessário entender completamente o escopo dessas atividades antivirais para usar os anticorpos existentes de forma mais eficaz ou refinar os critérios de seleção para novos anticorpos. Além disso, investigar mais a polifuncionalidade dos anticorpos anti-HIV-1 para melhorar a compreensão do papel desempenhado pelos anticorpos e, assim, combater outras infecções virais, seria de extrema importância.
Para a descoberta, os pesquisadores procuraram determinar se os anticorpos eram capazes de impedir que células infectadas produzissem partículas virais. Eles cultivaram células T CD4 (alvo natural do HIV) in vitro com vários anticorpos por 24 horas. Em seguida, eles mediram a quantidade de partículas virais produzidas pelas células no meio de cultura e a quantidade de partículas virais remanescentes nas células.
Como resultado desses experimentos, os cientistas conseguiram demonstrar que certos anticorpos aumentavam a quantidade de vírus nas células, mas a reduziam no meio de cultura. Essa descoberta intrigante os levou a acreditar que certos anticorpos impediam a liberação de partículas virais sem impedir sua produção.
Na prática
Para testar essa teoria, os cientistas usaram várias técnicas de microscopia para observar a produção de partículas virais pelas células. Eles examinaram inicialmente as células por microscopia de fluorescência, uma técnica usada para diferenciar as proteínas do vírus. Isso permitiu que eles demonstrassem que as células infectadas acumulam grandes quantidades de proteína viral madura. Essa descoberta sugere que partículas virais completas se acumulam nas células.
Para determinar a localização precisa dessas partículas virais, os cientistas usaram a microscopia eletrônica de varredura para observar a superfície das células infectadas. “Usando esse método, observamos que esses anticorpos (bNAbs) provocam um acúmulo de partículas virais na superfície das células, formando aglomerados e estruturas altamente atípicas" explica Timothée Bruel, um dos pesquisadores do estudo.
Depois disso, foram combinados uma técnica de microscopia eletrônica de transmissão com marcação "immunogold". Assim, pode-se demonstrar que os anticorpos se interpõem entre as partículas virais e a célula infectada, formando um aglomerado de cadeias.
Além disso, experimentos com anticorpos mutantes posteriormente demonstraram que a forma Y dos anticorpos cria essa estrutura agrupada. Seus braços são capazes de ligar dois vírus, ou um vírus à membrana da célula infectada, e seus pontos de fixação são suficientemente fortes para provocar esse fenômeno.
"Demonstramos que apenas os anticorpos mais poderosos prendem as partículas virais na superfície das células infectadas. As partículas virais presas não podem mais infectar novas células”, conclui Olivier Schwartz, um dos autores do estudo.
*Com informações do Institut Pasteur.