Pesquisa

A eliminação global da produção de carne pode salvar o planeta, diz estudo

Pesquisa norte americana demonstra que eliminar a pecuária deveria ser uma prioridade tão alta quanto eliminar o uso de combustível fóssil

Um novo estudo, publicado nesta terça-feira (1/2), no jornal acadêmico PLOS Climate, observou os impactos climáticos da criação de animais para alimentação e concluiu que se forem eliminadas gradualmente todas as agriculturas animal, há um potencial de alterar substancialmente a trajetória do aquecimento global.

A pesquisa da Universidade de Berkeley, na Califórnia (EUA), usou um modelo climático simples para analisar o impacto combinado da eliminação de emissões ligadas à pecuária e da restauração da vegetação nativa nos 30% da superfície terrestre atualmente usada para abrigar e alimentar o gado.

A queda resultante nos níveis de metano e óxido nitroso, e a conversão de 800 gigatoneladas de dióxido de carbono em floresta, pastagens e biomassa do solo, teriam o mesmo impacto benéfico no aquecimento global que a redução anual e global das emissões de CO2 em 68%.

“Nosso trabalho mostra que acabar com a pecuária tem o potencial único de reduzir significativamente os níveis atmosféricos de todos os três principais gases de efeito estufa, o que, porque hesitamos em responder à crise climática, agora é necessário para evitar uma catástrofe climática”, explica Michael Eisen, um dos pesquisadores do estudo.

Segundo a pesquisa, uma das principais razões para este efeito em longo prazo seria que os benefícios se acumulam rapidamente. Isso demonstra que eliminar a pecuária deveria ser uma prioridade tão alta quanto eliminar o uso de combustível fósseis. 

“A eliminação da agricultura animal teria um impacto mais rápido e maior nos próximos 20 a 50 anos, a janela crítica para evitar a catástrofe climática e, portanto, deveria estar no topo da lista de possíveis soluções climáticas”, ressalta Patrick Brown, que também assina a pesquisa.

Não é uma tarefa impossível

Ambos veganos, os dois cientistas passaram os anos da pandemia pesquisando modelos climáticos e textos sobre mudanças climáticas para quantificar o impacto direto e indireto da eliminação da agricultura animal em todo o mundo.

Enquanto vacas e outros bovinos, como búfalos, representam cerca de 80% do impacto da pecuária, eles também consideraram o impacto de porcos, galinhas e outros animais domésticos usados para alimentação, embora não a pesca mundial.

Embora pessoalmente optarem pela ideia de eliminar a agricultura animal de uma vez, os pesquisadores escolheram um cenário mais realista na pesquisa: uma eliminação gradual ao longo de 15 anos.

"Uma eliminação gradual de 15 anos não é irreal - muitas coisas acontecem nesse período", disse Eisen. "Passamos de não ter celulares para celulares onipresentes em menos tempo do que isso. Não é que estamos dizendo que vamos nos livrar da agropecuária nos próximos 15 anos”.

As conclusões dos pesquisadores são que uma eliminação gradual de 15 anos eliminaria imediatamente cerca de um terço de todas as emissões de metano globalmente e dois terços de todas as emissões de óxido nitroso, permitindo que a atmosfera alcançasse um novo equilíbrio em níveis mais baixos de ambos.

Nutrição com e sem produtos de origem animal

Eisen e Brown reconhecem que os produtos de origem animal são fundamentais para a nutrição na maioria dos países —fornecendo cerca de 18% das calorias, 40% das proteínas e 45% da gordura na alimentação humana mas, segundo eles, em todo o mundo, cerca de 400 milhões de pessoas já vivem com dietas inteiramente baseadas em vegetais. As culturas existentes podem substituir as calorias, proteínas e gorduras dos animais com um impacto muito reduzido sobre terra, água, gases de efeito estufa e biodiversidade, exigindo apenas pequenos ajustes para otimizar a nutrição.

“Há evidências convincentes de que a agricultura animal pode ser substituída sem exigir que os amantes da carne comprometam a nutrição ou qualquer um dos prazeres sensoriais que amam”, explica Brown.

“Há muita incerteza, muitas incógnitas, mas acho que provavelmente a maior incerteza é se as pessoas vão olhar para esse potencial e agir como sociedade”, conclui Eisen.

“Espero que outros, incluindo empreendedores, cientistas e formuladores de políticas globais, reconheçam que esta é a oportunidade mais importante que a humanidade tem para reverter a trajetória das mudanças climáticas e aproveitá-la”, diz Brown.

“O clima do planeta está sob uma ameaça maior agora do que jamais esteve na história, e na medida em que os cientistas podem encontrar maneiras de contribuir, acho que é realmente incumbência que façamos isso", completa Eisen.

 

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