A ideia de um ser humano bicentenário ou de produtos antienvelhecimento que atuem no corpo a nível celular parece estar cada vez mais próxima. No Reino Unido, uma empresa chamada Genflow já desenvolve produtos voltados para garantir aos futuros clientes uma longevidade saudável. “Descobrimos que era possível, graças à descoberta de uma variante do SIRT6 encontrada apenas em centenários”, disse o fundador da companhia Eric Leire ao portal Longevity Technology.
O SIRT6, citado por ele, é um gene responsável por produzir uma proteína de mesmo nome. Juntos, eles comandam funções essenciais ao processo de envelhecimento como reparo de DNA, manutenção de telômeros (extremidades dos cromossomos), regulação da glicólise e controle de inflamações. As diferentes variações desse gene têm o poder de aumentar ou reduzir a longevidade e a qualidade de vida dos mamíferos.
Em um estudo feito com camundongos, a equipe de cientistas liderada por Vera Gorbunova, da Universidade de Rochester, constatou que uma quantidade maior do gene SIRT6 era responsável por manter a maioria das células jovens, o que previne problemas típicos do envelhecimento, como a baixa imunidade e a alta incidência de alguns tipos de tumor. Depois, a biogeneticista estudou o genoma dos humanos centenários e descobriu que, além de maior abundância desse gene, eles tinham uma variante mais eficiente do SIRT6.
“Então decidimos criar uma empresa que entregará essa variante SIRT6 para evitar o processo de envelhecimento acelerado”, explicou Leire. Ele conta que os produtos da empresa serão baseados em pesquisas como as da doutora Gorbunova. A ideia é ter tratamentos para uma gama de problemas ligados à senilidade, inclusive doenças degenerativas como Alzheimer.
“Agora concordamos na comunidade da longevidade que o envelhecimento é um problema multifatorial, e se você abordar apenas um nono do problema, é muito improvável que você tenha um grande impacto em termos de solução. Então queríamos ter algo que atuasse o mais abrangente possível no processo de longevidade. E o SIRT6 foi uma grande oportunidade para nós”, contou o CEO da Genflow.
Embora outros genes tenham funções semelhantes de reparo do DNA e renovação celular, o SIRT6 surgiu como um grande trunfo porque essa é a única função dele. Isso o torna extremamente relevante do ponto de vista terapêutico por que sua manipulação tem efeitos que podem ser mais facilmente previstos e manipulados.
“Dez anos atrás, terapia genética era uma palavra ruim associada a alto custo e alta toxicidade – uma perigosa terapia de último recurso. Agora, vemos progresso todos os anos. Portanto, agora é possível ter uma intervenção ética, amigável ao paciente e econômica no nível genético”, comemora Leire. Ainda há uma lacuna grande de regulamentação para testes, pesquisas e comercialização de terapias genéticas na maioria dos países, apesar disso, o panorama é positivo.
A Genflow já desenvolveu dois medicamentos baseados nessa tecnologia para fibrose pulmonar idiopática (FPI) e síndrome de Werner (doença do envelhecimento precoce). Há também uma droga veterinária para melhorar o envelhecimento dos cães. O próximo passo para essas drogas, segundo o empresário, é desenvolver formas de entregar o medicamento que sejam mais amigáveis aos pacientes.
Atualmente os remédios são administrados via intravenosa, mas podem ser até de uso tópico em um futuro próximo. “Se você dissesse há 10 anos que uma terapia genética seria entregue como um creme, pareceria ficção científica, mas agora foi feito – já existem dois grupos que infectaram fibroblastos da pele com AAVs com grande sucesso”, finaliza.
A entrevista completa intitulada Terapia genética usa variante SIRT6 encontrada em centenários pode ser lida, em inglês, na página do site especializado Longevity Tecnology.