Uma nova análise de restos humanos escavados na África produziu o DNA mais antigo do continente, reescrevendo a história como os primeiros homens modernos viveram, viajaram e até interagiram entre eles. O artigo, de 44 pesquisadores liderados pela Universidade de Harvard, nos EUA, foi publicado ontem na revista Nature e relata as descobertas sobre o genoma de seis indivíduos enterrados no Malawi, na Tanzânia e na Zâmbia, que viveram entre 18 mil e 5 mil atrás.
"Isso mais do que dobra a antiguidade dos dados de DNA antigos provenientes da África subsaariana", disse David Reich, cujo laboratório gerou os dados no artigo. "O estudo é particularmente empolgante como uma colaboração verdadeiramente igual de arqueólogos e geneticistas", afirmou. O resultado foi um conjunto sem precedentes de DNA de antigos forrageiros africanos (nômades que caçavam, coletavam ou pescavam).
Graças a esses dados, os cientistas conseguiram delinear grandes mudanças demográficas que ocorreram entre cerca de 80 mil e 20 mil anos atrás. Há 50 mil anos, pessoas de diferentes regiões do continente se mudaram e se estabeleceram em outras áreas, desenvolvendo alianças e redes de longas distâncias para negociar, compartilhar informações e até encontrar parceiros reprodutivos. Essa integração social os ajudou a sobreviver e prosperar, escreveram os pesquisadores.
Redes
Elizabeth Sawchuk, coautora do estudo e pesquisadora da Universidade de Alberta, no Canadá, disse que uma "mudança cultural" dramática ocorreu durante esse período, pois contas, pigmentos e outras artes simbólicas tornaram-se comuns em todo o mundo. Os pesquisadores há muito assumiram que esses movimentos no registro arqueológico de cerca de 50 mil anos atrás refletiam uma alteração nas redes sociais e, talvez, até no tamanho da população. No entanto, tais hipóteses permanecem difíceis de testar. Agora, o DNA antigo fornece informações diretas sobre os próprios indivíduos do passado, que era a parte que faltava no quebra-cabeça.
Os pesquisadores também conseguiram demonstrar que, há cerca de 20 mil anos, as pessoas pararam de se movimentar tanto. "Talvez seja porque, a essa altura, as redes sociais previamente estabelecidas permitiam o fluxo de informações e tecnologias sem que as pessoas tivessem que se mover", disse Sawchuk.
"Nosso estudo genético confirma um padrão arqueológico de comportamento mais local no leste da África ao longo do tempo", disse Jessica Thompson, professora da Universidade de Yale, autora do estudo e uma das pesquisadoras que descobriram os restos mortais. "No início, as pessoas encontraram parceiros reprodutivos de amplos grupos geográficos e culturais. Mais tarde, eles priorizaram os que moravam mais perto, e que eram potencialmente mais semelhantes culturalmente".
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.