Um dos países mais afetados pela pandemia do novo coronavírus deu fim às restrições sociais, uma das medidas consideradas mais eficazes no combate à covid-19. Apesar de ter recebido críticas da oposição, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou ontem o fim do isolamento obrigatório na Inglaterra para os casos positivos do Sars-CoV-2, além da suspensão da realização de testes gratuitos da enfermidade no país, medida prevista para abril. As decisões fazem parte de uma nova e controversa estratégia de saúde pública, que se baseia em conviver com a doença como se faz com a gripe.
O fim do isolamento para as pessoas infectadas entra em vigor na próxima quinta-feira. No entanto, até 1º de abril, recomenda-se permanecer em casa em caso de teste positivo, informou o governo inglês. Nesse dia, os testes para detectar o coronavírus deixarão de ser gratuitos, exceto para as pessoas idosas ou vulneráveis. Johnson destacou que a pandemia não acabou, mas que, graças à "incrível" dispersão das vacinas, o país está um passo mais perto de "voltar à normalidade" e de, "finalmente, devolver a liberdade às pessoas", sem que elas deixem de se proteger.
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Imunização
Ao ser perguntado pela imprensa sobre o pedido de cautela de cientistas, que reforçam a necessidade de manter os cuidados preventivos, já que a pandemia ainda não teve fim, Johnson frisou que o governo tem uma "visão clara de que a covid-19 não foi embora". "Podemos fazer essas mudanças agora, por causa das vacinas, e do alto nível de imunidade. Temos que encarar o fato de que, provavelmente, haverá outra variante que nos causará problemas. Mas acredito que, graças a muitas coisas que fizemos, particularmente investimento em vacinas e tecnologia, estaremos em uma posição muito melhor para enfrentar essa nova variante, quando ela chegar", detalhou o líder do governo.
Johnson lembrou que mais de 71% dos adultos receberam três doses de alguma das vacinas anticovid na Inglaterra, cobertura que sobe para 93%, no caso da população de mais de 70 anos. O governo também se empenha em continuar com sua campanha de imunização, com a aplicação da quarta dose da vacina para maiores de 75 e os mais vulneráveis durante a primavera no hemisfério norte, disse. "As restrições têm um custo importante para nossa economia, nossa sociedade, nosso bem-estar mental e para as oportunidades dos nossos filhos, e não temos que continuar pagando este preço por mais tempo", frisou Johnson, no Parlamento inglês.
Após o pico de infecções provocado pela variante ômicron em janeiro, o primeiro-ministro tinha suspendido a maioria das restrições em vigor, como o uso de máscaras em ambientes fechados e o passaporte sanitário para acessar discotecas ou eventos maciços. Dois anos depois do início da pandemia, o Reino Unido é uma das nações mais afetadas pela covid-19, com 160 mil mortos.
Embora o número de casos tenha diminuído com força na Inglaterra (cerca de 40 mil por dia), a própria rainha Elizabeth II testou positivo, segundo informações divulgadas no último domingo. A monarca de 95 anos tem um quadro leve, com sintomas similares aos de um resfriado. Na área da saúde, as decisões do governo de Londres se limitam à Inglaterra, enquanto os outros três países do Reino Unido (Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) têm suas próprias competências sanitárias.
"Imprudente e perigoso"
O levantamento das medidas preventivas foi alvo de críticas severas. O Bereaved Families for Justice, grupo de familiares de vítimas do novo coronavírus, declarou em um comunicado que se trata de algo "imprudente e perigoso", e que a eliminação de testes gratuitos causará mortes evitáveis. Os sindicatos da educação do país alertaram que o fim das restrições pode resultar em caos nas escolas na Inglaterra e colocar os líderes escolares em uma posição "impossível", informou o jornal The Guardian.
David Nabarro, um delegado da Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou que eliminar a lei sobre o isolamento dos contagiados parece "realmente pouco sábio". A decisão também é alvo de críticas de partidos da oposição, que acusam Johnson de querer "distrair" os ingleses, em um momento em que seu cargo está em perigo, pela investigação de uma série de festas realizadas com o aval do líder, na residência oficial de Downing Street, durante o confinamento.
Marcelo Daher, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), destaca que a medida adotada pelo governo inglês é ainda controversa, apesar da queda de casos recentes no país e da alta taxa de vacinação. "A própria OMS já citou a possibilidade de reduzir aos poucos as medidas de prevenção, mas que isso deveria ser feito com cautela, para evitar danos. A Dinamarca mesmo já está indo nessa linha, e a situação por lá parece estar controlada, mas cada região tem suas características, que precisam ser levadas em consideração", diz o especialista.
"Esta é uma decisão que muitos ingleses têm condenado, mostrando que as pessoas ainda têm muito receio", afirma o médico. Daher também explica que a mesma tomada de decisão não seria indicada para outros países, como o Brasil. "Nós não temos as mesmas taxas de vacinados com o reforço que o Reino Unido, por exemplo. Para suspender essas medidas, nós temos que avançar muito, aumentar o número de imunizados com as três doses e torcer para se manter a queda de casos. Com certeza esse é um passo para o futuro", frisa.
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