PANDEMIA

Covid-19 longa é ligada a falhas no nervo vago, mostram estudos

Efeitos do Sars-CoV-2 sobre um dos principais componentes do sistema nervoso pode explicar sintomas persistentes da infecção, como tontura, pressão baixa e dificuldades para falar e engolir, mostra estudo espanhol

Correio Braziliense
postado em 12/02/2022 06:00
 (crédito:  DANIEL MIHAILESCU)
(crédito: DANIEL MIHAILESCU)

Milhares de pacientes recuperados da infecção pelo Sars-CoV-2 sofrem os efeitos de longo prazo — uma condição que, segundo uma pesquisa que será apresentada em abril, no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, pode estar associada à ação do coronavírus no nervo vago, um dos mais importantes do organismo. O estudo foi conduzido por Gemma Lladós e Lourdes Mateu, do Hospital Universitário Alemão Trias i Pujol, em Barcelona.

O nervo vago se estende do cérebro para o tronco, chegando ao coração, aos pulmões e aos intestinos, bem como a vários músculos, incluindo os envolvidos na deglutição. Ele é responsável por uma ampla variedade de funções corporais, incluindo controle de frequência cardíaca, fala, reflexo de vômito, transferência de alimentos da boca para o estômago, movimentação de alimentos pelos intestinos e sudorese, entre outros.

A covid longa é uma síndrome potencialmente incapacitante que afeta cerca de 10% a 15% das pessoas que sobrevivem à infecção por Sars-CoV-2. As autoras do estudo propõem que a disfunção do nervo vago (VND) mediada pelo coronavírus pode explicar alguns sintomas persistentes, incluindo disfonia (problemas de voz), disfagia (dificuldade em engolir), tontura, taquicardia (frequência cardíaca anormalmente alta), hipotensão (pressão arterial baixa) e diarreia.

As pesquisadoras realizaram uma avaliação morfológica e funcional do nervo vago, usando exames de imagem, em um grupo de pacientes de covid longa com sintomas sugestivos de VND. Dos 348 participantes, 228 (66%) tinham pelo menos um sinal associado à VND. Desses, 22 foram incluídos na fase inicial do estudo, que continua a recrutar pacientes.

Dos 22 sujeitos analisados, 20 (91%) eram mulheres com idade mediana de 44 anos. Os sintomas relacionados ao VND mais frequentes foram diarreia (73%), taquicardia (59%), tontura, disfagia e disfonia (45% cada) e hipotensão ortostática (14%). Quase todos (86%) tiveram pelo menos três sinais associados à disfunção no nervo vago, com duração média de 14 meses.

Inflamações

Seis dos 22 pacientes (27%) apresentaram alteração do nervo vago no pescoço mostrada pelo ultrassom — incluindo espessamento do nervo e aumento da ecogenicidade, o que indica alterações reativas inflamatórias leves. Um exame de imagem torácico mostrou curvas diafragmáticas achatadas em 10 dos 22 (46%) indivíduos — clinicamente, essa condição se traduz como uma diminuição da mobilidade diafragmática durante a respiração, ou simplesmente respiração anormal. Sessenta e três por cento dos avaliados apresentaram pressões inspiratórias máximas reduzidas, evidenciando fraqueza dos músculos respiratórios.

Os exames também comprovaram diversas outras alterações associadas à disfunção do nervo vago, como dificuldade de deglutição, refluxo gastroesofágico e disfonia. "Nessa avaliação piloto, a maioria dos pacientes de covid longa com sintomas de disfunção do nervo vago apresentaram uma série de alterações estruturais e/ou funcionais significativas, clinicamente relevantes, incluindo espessamento do nervo, dificuldade para engolir e sintomas de respiração prejudicada. Nossas descobertas, até agora, apontam para a disfunção do nervo vago como uma característica fisiopatológica central da covid longa", escreveram as autoras no resumo do artigo.

 


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OMS: com 70% de vacinados, acaba a fase aguda

Em visita à África do Sul, o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que a fase aguda da pandemia da covid-19 pode terminar este ano caso se atinja uma taxa de vacinação de 70% da população mundial até o meio do ano, por volta de junho ou julho. "Está em nossas mãos… É uma questão de decisão", declarou.

Na quinta-feira à noite, o diretor-regional da OMS na África, Matshidio Moeti, disse, em comunicado, que o continente está deixando a fase pandêmica graças ao avanço das imunizações. Contudo, a cobertura vacinal ainda é a mais baixa do mundo: 11%. Moeti destacou que o número de casos de infecções pode estar subnotificado e que, provavelmente, a covid se transforme em uma doença endêmica na região.

O chefe da OMS foi à África para visitar os laboratórios da empresa de biotecnologia Afrigen, com sede na Cidade do Cabo, que fabricou a primeira vacina de RNA mensageiro contra a covid-19 no continente. Preparado a partir do sequenciamento do código genético publicamente disponível do laboratório Moderna, o imunizante estará pronto para testes clínicos em novembro e deve ser aprovado até 2024. "Essa vacina será mais adaptada aos contextos em que será utilizada, com menos obrigações de armazenamento e a um preço mais baixo", disse Ghebreyesus. O projeto Afrigen é apoiado pela OMS e pelo mecanismo Covax de acesso a vacinas.

FDA adia decisão sobre vacina

A FDA, agência regulatória norte-americana, e a Pfizer-BioNTech afirmaram que vão esperar dados sobre a eficácia de três doses da vacina para covid em menores de 5 anos antes de autorizar a imunização. A FDA tinha uma reunião de especialistas marcada para terça-feira, onde seria avaliada a questão, mas adiou o encontro. A previsão é de que os resultados do teste sobre a eficácia de três doses para a faixa etária saiam no início de abril. No ensaio clínico com duas doses, que testou um décimo da dosagem para adultos no grupo mais jovem, a vacina não conseguiu produzir a resposta imune desejada em crianças de 2 a 4 anos, alcançando apenas 60% do nível de anticorpos identificados para o sucesso da imunização. Crianças de 6 meses a 2 anos produziram o nível desejado de anticorpos.

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