Com o avanço da variante ômicron e o aumento de casos de covid-19, especialistas têm buscado maneiras para ampliar as medidas protetivas. Médicos do centro de estudos Physicians Committee for Responsible Medicine (PCRM), nos Estados Unidos, defendem que seguir uma dieta à base de vegetais deve se somar aos cuidados mais conhecidos, como a vacinação, o distanciamento social e o uso de máscaras. Eles usam resultados de pesquisas científicas recentes para fazer a recomendação, publicada em um artigo opinativo na revista especializada European Journal of Clinical Nutrition.
No artigo, os autores relatam que as células de defesa do corpo humano podem sofrer queda quando o indivíduo tem uma enfermidade crônica, como obesidade e hipertensão. Uma das melhores formas para reduzir essa vulnerabilidade é apostar na alimentação, defendem Hana Kahleova, diretora de Pesquisa Clínica do PCRM, e Neal Barnard, presidente do órgão. "Essas condições médicas estão fortemente ligadas a escolhas de dieta e estilo de vida que podem ser alteradas. E, de fato, as pessoas que fizeram essas mudanças têm proteção comprovada também contra o vírus da covid-19."
Uma das constatações científicas usadas pela dupla para defender a dieta como medida protetiva é o resultado de um estudo conduzido na Universidade de Harvard com 529.271 voluntários cujos resultados foram publicados, no ano passado, na plataforma MedrXiv. Os autores observaram que aqueles que se alimentavam com uma dieta à base de plantas apresentavam risco 9% menor de serem infectados pelo coronavírus e 41% menor de terem a forma grave da covid-19.
Outro estudo relatado no artigo foi conduzido na Universidade John Hopkins com dados de mais de 2 mil profissionais da área de saúde de seis países: França, Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos. Os resultados, publicados, em 2020, no British Medical Journal (The BMJ), mostraram que aqueles que seguiram uma dieta baseada em vegetais e tiveram uma exposição substancial a pacientes com covid-19 apresentaram um risco 73% menor de sofrer com as formas moderada e grave da doença.
Pressão controlada
A própria dupla de autores do artigo opinativo também investigou o fenômeno. O trabalho, publicado, em novembro, no American Journal of Lifestyle Medicine, mostra como uma dieta baseada em vegetais ajudou funcionários de hospitais da cidade de Washington, nos Estados Unidos, a melhorarem a saúde e a qualidade de vida durante a primeira onda da pandemia.
Durante 12 semanas, cerca de 40 voluntários seguiram um regime alimentar rico em vegetais e com baixo teor de gordura. Eles tiveram o peso corporal, a pressão arterial, o colesterol e o açúcar no sangue medidos no início e no fim do estudo, e os cientistas se impressionaram com os resultados. "Os funcionários do hospital continuavam a correr risco de doença e morte provocada pelo novo coronavírus todos os dias. Mas nossa pesquisa mostra que uma dieta baseada em vegetais ajudou todo o grupo a reduzir a pressão alta e os níveis elevados de colesterol — que estão ligados a doenças mais graves e morte por covid-19. E isso garantiu que eles permanecessem saudáveis para melhor atender os pacientes", afirma Kahleova.
Os autores do artigo opinativo também usam o exemplo da Okinawa, no Japão, para defender a nutrição como uma medida protetiva contra o Sars-CoV-2. Os moradores da região seguem uma dieta rica em vegetais, como batata-doce, folhas verdes e produtos de soja, e têm uma taxa de mortalidade por covid-19 muito menor do que a de Tóquio, que é semelhante em tamanho, mas tem uma densidade populacional menor. "Esse tipo de alimentação representa a abordagem mais econômica e deve ser amplamente promovida e incorporada na prática cotidiana. Esse é um reforço necessário neste momento sem precedentes e que pode realmente funcionar para mitigar a covid-19", defendem.
Menos inflamação
A opinião é compartilhada pela nutricionista Mariana Melendez. Ela explica que a dieta com base no consumo de frutas e verduras pode servir como um escudo extra de proteção contra o coronavírus devido aos nutrientes presentes nesses alimentos e à ação deles no corpo humano. "Essa é uma dieta estudada e considerada importante no combate a enfermidades que envolvem qualquer tipo de inflamação, como obesidade, diabetes e pressão alta. Na covid, também há ação inflamatória. Então, quando consumidos mais vitaminas, minerais e principalmente antioxidantes, que controlam essa ação, temos uma proteção maior", explica.
A especialista lembra que a alimentação precisa seguir também outros requisitos, considerando o perfil de cada pessoa. "É muito importante ter em mente que a dieta é algo individualizado. Não adianta só comer plantas e frutas. É necessário ingerir as proteínas e os carboidratos necessários para a sua rotina e as suas condições médicas", alerta.
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