Um estudo feito por dois pesquisadores da Universidade de Bath, no Reino Unido, revelou que, diferente do esperado, o aumento no uso da internet, causado pelas medidas de isolamento contra a covid-19, contribui para combater o desenvolvimento da síndrome de Hikikomori, que provoca o isolamento social extremo de pessoas ao redor do mundo. O trabalho conduzido pelos cientistas Jeff Gavin e Mark Brosnan revela que o contato on-line feito pelas mídias sociais pode manter o usuário conectado à vida relacional.
A pesquisa tinha como objetivo identificar a relação entre o risco de isolamento social extremo e as mudanças no uso da internet por jovens de 16 e 24 anos durante o período em que as medidas restritivas contra a covid-19 estiveram em vigor. Foram entrevistadas 661 pessoas, de 45 países, que responderam perguntas sobre demografia, experiências de restrições nos 12 meses anteriores e as mudanças no uso da internet.
Os pesquisadores deixaram claro que as medidas de restrição eram as previstas na região em que o entrevistado mora – entravam na lista medidas que tratavam desde proibição de viagens, acesso a espaços públicos, toques de recolher até o lockdown total, que inibiu a circulação de pessoas exceto para ida a farmácias ou hospitais.
Já o nível de Hikikomori também foi explicado no estudo. “A condição foi identificada em uma ampla gama de países e a extensa retração social associada à condição pode resultar em um hikikomori economicamente inativo a longo prazo, no qual as pessoas não estão presentes nem na educação, nem em um emprego e nem em um treinamento (NEET)”, detalham.
Os diretores do estudo partiram da ideia de alguns pesquisadores que afirmaram que o isolamento causado pela covid-19 e o uso de tecnologia, podem “desempenhar um papel central” no aparecimento da hikikomori, “Pesquisadores especulam que as restrições sociais causadas pela covid-19 possam acelerar o desenvolvimento da hikikomori, para aqueles suscetíveis à condição”, explicam os diretores do estudo.
“Por um lado, há evidências de que as culturas online podem estar associadas a problemas de saúde mental, como vício em internet e isolamento social; por outro lado, acredita-se que as mídias sociais e a tecnologia sejam ferramentas úteis para aliviar o isolamento social e a distância física”, disseram.
Com o problema em mãos, os pesquisadores desenvolveram o desenho da pesquisa. A parte principal era as respostas dos entrevistados em relação à escala de risco do Hikikomori. Nessa parte, eles tiveram que responder, por exemplo, se não achavam “necessário encontrar um emprego imediatamente”, ou se sente que se “comunicar com os outros é extremamente difícil” e até mesmo não saber “o que quer fazer do futuro”. Eles avaliaram as frases com os indicativos “concordo totalmente”, “concordo em parte”, “concordo”, “discordo”, “discordo em partes”, “discordo totalmente”.
Além disso, eles responderam a frequência que saíram de casa nos últimos dias, semanas e meses e detalharam o tipo de medida restritiva que viveram. Para relacionar os dados da covid com o risco de isolamento causado pelas redes sociais, os cientistas perguntaram sobre mudanças de hábito no uso da internet.
Sair de casa aumenta risco de isolamento relacional; mas uso de internet ajuda
De acordo com a conclusão dos pesquisadores após analisarem os dados, o maior risco de desenvolver a condição de isolamento extremo está associado a sair de casa com menos frequência de maneira contínua, ou seja, para aqueles que passaram meses a fio sem sair de casa.
No total, 23 participantes foram identificados com a condição mais extrema de hikikomori. Homens foram a maioria. No entanto, os dados revelaram que, tanto para pessoas do genêro feminino quanto para o masculino, “o aumento no uso de mídia social está relacionado à redução do risco de hikikomori”.
“Isso é pertinente, pois hikikomori é caracterizado por retraimento social, e esses achados são indicativos de aumento da comunicação social on-line, reduzindo o risco da condição, em vez de serem indicativos de um pré aparecimento da doença”, escreveram os pesquisadores.
No entanto, eles alertam: o risco só é diminuído se mídias sociais que promovem o relacionamento com outras pessoas foram usadas. Homens e mulheres que utilizam a internet para, prioritariamente e majoritariamente, estarem envolvidos em jogos on-line individuais estão mais propensos, de maneira alarmante, à síndrome.
“Isso ocorre porque o uso da mídia social apoia as relações sociais físicas, enquanto o jogo social não”, detalharam. Por fim, os cientistas sociais sugeriram um novo estudo em que seja feita uma análise que mensure se as mídias sociais também reduzem o risco de isolamento em um mundo pós-covid, ou seja, sem restrições.