Ainda não é a comunicação telepática que os filmes de ficção científica nos fizeram imaginar, mas, aparentemente, um dispositivo desenvolvido pela empresa Blackrock Neurotech está pronto para conectar o cérebro humano diretamente a uma máquina. Foi o que afirmou Florian Solzbacher, cofundador e presidente da companhia sediada em Salt Lake City, Utah, Estados Unidos.
Em entrevista à revista MedGadget, ele contou que o novo sistema estará disponível até o fim de 2022, após aprovação dos órgãos reguladores do país. De acordo com o executivo, a tecnologia vai devolver as habilidades de escrita a pacientes com dificuldades motoras, como aqueles com paralisia, por exemplo. O sistema é composto por um implante, formado de eletrodo miniaturizado, um software e um decodificador.
O aparelho é diferente de outros mecanismos disponíveis porque se liga diretamente ao cérebro e interpreta os pensamentos. Em comparação, o mecanismo utilizado por Stephen Hawkingm, por exemplo, dependia da captação do movimento dos olhos. Neste novo implante, os eletrodos substituem o tecido neural que não está funcional, da mesma forma como um braço mecânico executa as funções do braço orgânico, sem mais intermediários.
“A maioria dos nossos pacientes com BCI [interface cérebro computador, na sigla em inglês] até hoje usa o implante para aplicações físicas, como controlar uma cadeira de rodas ou braço robótico. Mas não acreditamos que os casos de uso precisem terminar aí. Os objetivos imediatos desta iniciativa são demonstrar que os pacientes experimentam maior independência, melhor qualidade de vida e a capacidade de retornar à força de trabalho”, explicou Solzbacher.
A ideia é que os pacientes com o dispositivo possam se comunicar apenas imaginando que estão escrevendo à mão. Isso aumenta a velocidade de digitação em até dez vezes em relação a outras BCIs disponíveis, apontou um estudo prévio do algoritmo feito na Universidade de Stanford. No primeiro uso, foi possível a digitação de até 90 caracteres por minuto com 94% de precisão ao vivo de pensamento para texto. Essa precisão aumenta para 99% com a autocorreção feita ao longo do uso graças ao sistema de aprendizado de máquina do dispositivo.
O principal ponto contra essa tecnologia no momento é a cirurgia para implantação do eletrodo, feito de material flexível de poli-imida. Ele pode ser colocado em uma área profunda do cérebro, em um procedimento invasivo, ou superficial, menos invasivo. Solzbacher espera que em um futuro próximo a colocação fique cada vez mais simplificada. “Em 20-30 anos, prevejo que esses tipos de implantes podem ser tão comuns quanto os marca-passos cardíacos são hoje”, anuncia.