Mesmo se alimentando basicamente de bambu, os pandas conseguem se manter gordinhos para resistir ao inverno. Esse biotipo protetivo se dá devido à microbiota dos animais, segundo cientistas da China. Eles observaram que mudanças nos micro-organismos que compõem o intestino desses herbívoros os ajudam a acumular gordura, que serve como uma reserva de energia. Detalhes da descoberta foram apresentados na última edição da revista Cell Reports.
"Essa é a primeira vez que estabelecemos uma relação causal entre a microbiota intestinal de um panda e seu fenótipo", relata, em comunicado, Guangping Huang, pesquisador do Instituto de Zoologia da Academia Chinesa de Ciências e um dos autores do estudo. No artigo, o cientista e sua equipe explicam que muitos animais experimentam uma mudança sazonal nas bactérias intestinais ao se depararem com alterações na disponibilidade de alimentos. "Por exemplo, certas espécies de macacos têm uma microbiota intestinal diferente no verão, quando comem folhas e frutas frescas, em comparação com o inverno, quando se alimentam de casca de árvore", ilustram.
A equipe, que estuda, há décadas, pandas gigantes selvagens que vivem nas montanhas Qinling, no centro da China, explica que, na maior parte do ano, esses animais se alimentam de folhas fibrosas de bambu, mas, durante o fim da primavera e o início do verão, eles podem desfrutar de brotos de bambu, que são ricos em proteínas. "Vimos que esses pandas selvagens têm, no intestino, um nível significativamente maior de uma bactéria chamada Clostridium butyricum durante a estação de alimentação de brotos, quando comparado à estação de alimentação de folhas", detalham.
Para investigar se a mudança na microbiota intestinal poderia afetar o metabolismo dos pandas, os investigadores realizaram um transplante de fezes desses animais para camundongos. Em seguida, alimentaram os ratos com uma dieta à base de bambu, simulando o que os pandas comem durante três semanas. "Quando se trata de animais selvagens ameaçados e vulneráveis, não podemos fazer testes diretamente neles", explica Huang.
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Compensação nutricional
As análises indicaram que, apesar de se alimentaram da mesma quantidade de comida, os camundongos transplantados com fezes de panda coletadas durante a estação de alimentação de brotos ganharam significativamente mais peso e tinham mais gordura do que os roedores que receberam o material colhido durante a dieta à base de folhas.
"As mudanças na microbiota intestinal na estação em que os brotos de bambu nutritivos se tornam disponíveis ajudam os pandas a ganharem mais peso e a armazenarem mais gordura, o que pode compensar a falta de nutrientes nas estações em que há apenas folhas de bambu para mastigar", detalham os autores. "É muito óbvio que eles se mantêm mais gordinhos durante essa época do ano por causa dessas bactérias", frisa Huang.
A equipe planeja mapear mais micro-organismos no intestino de pandas e descobrir qual o papel de cada um deles em relação à saúde desses animais. "A pesquisa causal do fenótipo do hospedeiro e da microbiota intestinal em animais selvagens está apenas começando. Identificar quais bactérias são benéficas para esses bichos é muito importante porque, um dia, poderemos tratar algumas doenças com probióticos", adianta Huang.