Três estudos divulgados nesta semana reforçam a necessidade de gestantes se vacinarem contra a covid-19. Realizados de forma independente em diferentes populações, todos apresentam resultados semelhantes: a infecção por Sars-CoV-2 durante a gravidez aumenta significativamente o risco de morte da mãe e do bebê, além de outros desfechos negativos, como parto prematuro e baixo peso ao nascer. Uma das pesquisas, com dados de 870 mil mulheres que deram à luz nos EUA, encontrou uma probabilidade 15 vezes maior de óbito e 14 de intubação de infectadas, comparado às não afetadas pelo vírus.
A boa notícia é que um dos artigos avaliou o efeito das vacinas: elas não só se mostraram seguras como evitaram desfechos negativos. Estatisticamente, não houve aumento na probabilidade de aborto, parto prematuro e defeitos congênitos. "Embora gestantes não tenham risco maior de pegar covid, elas têm risco maior de complicações do que outras mulheres, incluindo de morrer ou necessitar de terapia intensiva. E, mesmo se não precisarem de hospitalização, estão mais propensas a perder seus bebês", comenta o virologista Peter English, ex-diretor da revista Vacinas em Prática. "Isso enfatiza a questão de que gestantes devem ser vacinadas, e que estar grávida é uma razão extra para se imunizar, e não uma contraindicação."
O estudo norte-americano, publicado, na quarta-feira, na revista Jama, comparou ocorrências adversas entre gestantes que tiveram ou não covid entre março de 2020 e fevereiro de 2021. Dessas, 2,2% haviam sido infectadas durante a gestação. O risco de parto prematuro no grupo das que testaram positivo para Sars-CoV-2 foi 42% mais elevado. Além disso, entre essas últimas, a probabilidade de ser admitida na unidade de terapia intensiva (UTI) foi seis vezes maior.
Divulgada ontem na revista The Lancet Digital Health, outra pesquisa mostrou que a infecção por Sars-CoV-2 durante a gravidez aumenta o risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer e de óbito do bebê, especialmente quando o contágio ocorre no segundo e no terceiro trimestre. Baseado nos prontuários médicos de mais de 18 mil gestantes que testaram positivo para Sars-CoV-2, o estudo, liderado pelo Instituto de Sistemas Biológicos, nos EUA, constatou risco aumentado de complicações mesmo em mulheres com as formas leve e moderada da doença. "A covid-19 coloca em risco tanto a saúde materna quanto a fetal. Isso reforça a necessidade de proteger as gestantes", diz Jennifer Hadlock, autora correspondente do artigo.
Hadlock conta que outros fatores associados a desfechos negativos na gestação e no parto, como a idade gestacional mais avançada, foram ajustados, no estudo, para se ter certeza da associação com a infecção por covid-19. Ela observa que os dados foram coletados quando a vacina ainda não estava amplamente disponível nos Estados Unidos e diz que pesquisas futuras devem indicar se a imunização pode prevenir os riscos em mulheres infectadas, ainda que vacinadas.
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Duas doses
Foi isso que fizeram pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia. A equipe analisou dados relativos a todas as gestações no país, entre dezembro de 2020 e outubro de 2021. Até aquele mês, 32% das grávidas haviam recebido duas doses da vacina para covid, um percentual expressivamente menor quando comparado à população em geral (77%). Diferentemente do estudo norte-americano, o risco maior de prematuros, natimortos e morte do recém-nascido foi mais comum em mulheres que contraíram o Sars-CoV-2 no fim da gestação, por volta de 28 dias antes do parto. A maioria das complicações, incluindo internação em UTI, ocorreu entre pessoas não vacinadas. O estudo foi publicado ontem, na revista Nature Medicine.
De acordo com os dados, a taxa de mortalidade perinatal estendida relativa a mulheres que tiveram covid-19 foi 23 por mil nascimentos. O índice mede a morte do bebê, no útero, após 24 semanas de gravidez ou nos primeiros 28 dias após o nascimento. No período analisado, todos os óbitos do tipo ocorreram entre crianças cuja mãe não havia se vacinado. Estatísticas anteriores à pandemia mostram que, no país, essa taxa era de 6 por mil nascimentos.
A internação hospitalar também foi significativamente mais comum em gestantes com covid-19 que não foram vacinadas no momento do diagnóstico do que em grávidas imunizadas. Segundo o estudo, 98% das infectadas pelo Sars-CoV-2 na gestação que precisaram ser hospitalizadas nas unidades intensivas não haviam tomado a vacina.
Por fim, os pesquisadores monitoraram as taxas de complicações em mulheres que receberam a vacina para covid durante a gravidez. A mortalidade perinatal e as taxas de parto prematuro dentro de 28 dias após o recebimento da vacina foram muito semelhantes às estatísticas de base, fornecendo mais garantias sobre a segurança da vacinação durante a gravidez. "Nossos dados reforçam a evidência de que a vacinação na gravidez não aumenta o risco de complicações, mas a covid- 19, sim", comenta Sarah Stock, obstetra e pesquisadora do Instituto Usher da Universidade de Edimburgo.