Com características próprias de transmissão e de impacto no corpo humano, a variante ômicron tem exigido maior mobilização das autoridades de saúde de todo o mundo. Novos dados científicos divulgados nesta semana podem ajudá-las a traçar medidas mais eficazes de combate à fase atual da pandemia. Um estudo americano com dados de quase 70 mil infectados pela nova cepa reforça a tese de que ela representa um risco menor de hospitalização e de morte. Cientistas britânicos, por sua vez, indicam que o coronavírus perde a capacidade de infectar 20 minutos depois de entrar em contato com o ar. Por fim, uma equipe chinesa atesta que duas doses da CoronaVac, vacina produzida no Brasil, conseguem neutralizar a nova cepa do Sars-CoV-2.
Para realizar a análise, os cientistas americanos usaram dados do sistema hospitalar Kaiser Permanente, na Califórnia, referentes ao atendimento de cerca de 4,7 milhões de pessoa entre 1º de dezembro de 2021 e 2 de janeiro de 2022, quando as cepas delta e ômicron circulavam amplamente na região. "Esse estudo monitorou parâmetros-chave, como idade, sexo, infecção prévia por Sars-CoV-2, vacinação prévia e comorbidades", afirmou, em coletiva de imprensa, Rochelle Walensky, uma das diretoras do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e autora do estudo, feito em parceria com a Universidade da Califórnia.
As análises mostram que pessoas infectadas pela ômicron têm metade da probabilidade de serem hospitalizadas, 75% menos risco de precisarem de cuidados intensivos e 90% menos risco de morrer, quando comparadas às que contraíram a variante delta. Os especialistas também observaram que, no caso da ômicron, as hospitalizações duraram, em média, 1 dia e meio — contra cinco dias para a delta. De acordo com os autores, 90% dos pacientes com ômicron receberam alta em três dias ou menos.
A equipe usou dados de estudos semelhantes — feitos em outros países, como África do Sul e Reino Unido — e testes em animais e células para entender ainda mais peculiaridades da nova cepa. Constataram que ela se replica melhor no trato respiratório superior do que nos pulmões de infectados. Esses resultados, avaliam, sugerem que a cepa mais recente do novo coronavírus é "intrinsecamente menos grave que a delta". Os cientistas também concordaram que as reduções observadas em casos graves não são resultado apenas de mais pessoas sendo vacinadas e infectadas ao longo do tempo, mas também das características próprias da cepa.
O estudo indicou, ainda, uma pequena redução na eficácia das vacinas disponíveis contra a infecção pela ômicron, mas uma proteção contínua e substancial contra os casos graves. Para Walensky, os resultados não justificam que estamos em um momento de reduzir os cuidados, pois a extrema transmissibilidade da cepa pressiona o já sobrecarregado sistema de saúde, nem de deixar de completar o ciclo vacinal.
Saiba Mais
CoronaVac
No caso da imunização pela CoronaVac, as duas doses conseguem neutralizar a nova variante, segundo um estudo da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa e da Universidade de Fudan divulgado na última edição da revista especializada Emerginf Microbes & Infections. Em teste laboratorial, a equipe constatou que o poder de proteção do imunizante é o mesmo da fórmula protetiva desenvolvida pela empresa americana Pfizer.
Para chegar à conclusão, eles criaram partículas semelhantes ao Sars-CoV-2, com características idênticas a sete variantes do patógeno, e as expuseram a anticorpos de pessoas vacinadas com a CoronaVac e a Pfizer. As análises indicaram uma queda no poder de combate dos anticorpos desenvolvidos por ambas as vacinas em relação à ômicron, quando comparados à variante original do vírus, mas o suficiente para neutralizar a nova cepa.
"Observamos diminuição de 10,5 vezes na potência dos anticorpos, mas, ainda assim, constatamos uma ação eficaz contra a variante ômicron e com níveis semelhantes em cada imunizante avaliado", destacam. A equipe pondera que a análise foi feita com poucos voluntários (16 pessoas). Por isso, são necessárias novas avaliações e a manutenção de medidas preventivas.
Vinte minutos no ar
Seguir adotando as regras de distanciamento é um dos pontos indicados. Um estudo da Universidade de Bristol, no Reino Unido, mostra que o novo coronavírus perde 90% da capacidade de infecção 20 minutos após ser transportado pelo ar, sendo que a maior parte desse fenômeno se dá nos primeiros cinco minutos. A equipe chegou a essas conclusões após realizar uma série de experimentos em laboratório. Aparelhos geravam um número ilimitado de partículas minúsculas contendo vírus e as "sopravam" suavemente entre dois anéis elétricos, por cinco segundos a 20 minutos.
"Essa é a primeira vez que alguém pode realmente simular o que acontece com o aerossol durante o processo de expiração", explicou, ao jornal The Guardian, Jonathan Reid, diretor do Aerosol Research Center da Universidade de Bristol e principal autor do estudo. Enquanto o material se dissipava, a equipe controlava a temperatura e a umidade do local. A hipótese é de que, à medida que as partículas virais deixam as condições relativamente úmidas e ricas em dióxido de carbono nos pulmões, elas, rapidamente, perdem água e secam, sofrem mudanças em seu pH e, com isso, perdem o poder de contágio. O estudo não revisado por pares foi publicado na plataforma digital MedRxiv.