Astronomia

O Sistema Solar pode ter cerca de 150 planetas, incluindo Plutão

Cientistas de grandes universidades dos EUA, incluindo Johns Hopkins e Flórida Central, argumentam que os critérios para o rebaixamento a planeta anão são uma espécie de "teologia cultural" em vez de princípios racionais

Uma das maiores brigas da astronomia moderna, o rebaixamento de Plutão a "planeta anão", é novamente retomada no meio científico. Um grupo de pesquisadores de diversas universidades dos Estados Unidos, incluindo a Universidade da Flórida Central e a Johns Hopkins, publicou um artigo no qual argumentam pela revogação da mudança de categoria.

Intitulado “Luas são planetas: utilidade científica versus teleologia cultural na taxonomia da ciência planetária”, em tradução livre, o texto ataca diretamente os critérios usados pelos pesquisadores para definir o que, afinal de contas, é um planeta. Segundo a regra vigente, é preciso que o corpo celeste seja esférico, orbite o sol e seja o maior dentre os objetos que o circundam.

É neste quesito que Plutão foi excluído, já que sua massa é comparável à de Caronte, antes considerado um satélite de Plutão e agora parte de um sistema de planeta duplo com ele. Essa reformulação, de 2006, teve a intenção de limitar o número de corpos celestes que poderiam ser considerados planetas. Segundo a argumentação da época, a intenção é que a categoria não perdesse o sentido e pudesse ser estudada como um grupo específico de astros com características comuns entre si.

Um resgate da Revolução Copernicana

Entre sua descoberta, no ano de 1930, e a data do rebaixamento, Plutão sequer tinha dado uma volta completa em torno do sol. Isso mostra como a mudança de categoria ocorreu relativamente rápido, se for usada a régua do tempo científico. Mas o que este novo grupo propõe, embora possa parecer uma discussão pueril, é uma reformulação no próprio conceito do que é um planeta.

Segundo o artigo, as bases usadas para a definição que temos hoje são muito mais culturais, históricas e próximas à astrologia do que algo criado racionalmente dentro da ciência astronômica. Para sustentar essa argumentação, os pesquisadores revisaram registros históricos da revolução feita por Nicolau Copérnico nos estudos do céu.

Segundo as análises, os divulgadores científicos da época adotaram rótulos mais populares e próximos do senso comum para que a rejeição às mudanças, do geocentrismo para o heliocentrismo, por exemplo, diminuísse. Retornar a um conceito mais próximo ao que Copérnico propôs, segundo este grupo de cientistas, ampliaria o leque de planetas para mais de 150 só no Sistema Solar.

Horizontes ampliados

Mas, isso não reduziria a importância e utilidade do termo, como dito em 2006? Não, segundo o grupo. “A literatura demonstra que os cientistas planetários utilizam um conceito de planeta que é fundamentalmente geofísico/geológico, não limitado pelo estado orbital atual de um corpo. Um planeta é um condensado de tamanho intermediário onde a física produz complexidade em geologia, mineralogia, química e possivelmente atmosferas, oceanos, magnetosferas, biologia e muito mais, tornando este conceito de planeta não apenas uma definição arbitrária, mas um dos alinhamentos mais importantes com explicações explicativas. discernimento em toda a ciência”, concluem.

Quer dizer que os planetas são caracterizados, principalmente, pelo que acontece no interior deles, dentro das atmosferas e não pela forma como se comportam no universo. Este novo conceito poderia se juntar a uma vertente ainda mais radical de revisionismo científico, de pesquisadores que pretendem reformular o que entendemos como ‘vida’, criando o termo ‘vyda’.

Ampliar tanto assim os horizontes teóricos não é mera formalidade, mas implica em orientar futuras gerações de pesquisadores a buscar e analisar coisas diferentes do que já conhecemos até aqui, ao mesmo tempo em que comparam as novidades com todo o conhecimento já acumulado. Agora, se a União Astronômica Internacional (UAI) vai reabrir o debate e se Plutão realmente voltará a ser considerado um planeta em sentido pleno, é algo que só o futuro dirá.

O artigo completo pode ser lido (em inglês) no site da publicação científica Ícaro, da editora Elsevier.

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