Muito tem se estudado sobre atividades cotidianas que podem reduzir o risco de contrair o coronavírus. Um estudo desenvolvido pelo Shenzhen Kangning Hospital, na China, publicado no jornal acadêmico Frontiers in Nutrition, analisou os diferentes tipos de bebidas alcoólicas e se elas poderiam ajudar nos riscos de contrair a covid. Pessoas que tomam vinho tinto regularmente, por exemplo, se mostraram com 10% a 17% menos chances de contrair a doença. No entanto, pessoas que bebem cidra ou cerveja, se mostraram com mais chance de contrair a covid-19.
O estudo analisou dados de 473.957 pessoas do UK Biobank Study — um projeto de pesquisa que coleta informações sobre saúde e estilo de vida de quase 500.000 participantes no Reino Unido desde 2006. Eles investigaram a associação do álcool com a covid, observando o impacto na infecção e na mortalidade.
A partir das análises, os pesquisadores perceberam que os bebedores de vinho branco e champanhe — que consomem entre 1 a 4 copos por semana — tiveram um risco de 7% a 8% menor de contrair a covid-19, em comparação com os não bebedores. Mas, esse efeito não foi significativo quando consumiram cinco ou mais copos por semana.
Quem consumiu vinho fortificado (entre 1 a 2 copos por semana), apresentaram risco 12% menor de infecção. No entanto, qualquer consumo de três ou mais copos por pessoa não foi associado a menores riscos.
Analisando a cerveja e a cidra, os que consumiram apresentaram de 7% a 28% maior risco de contrair covid-19, independentemente da quantidade que consumiram, em comparação com os não bebedores.
Ou seja, o alto consumo de vinho tinto, vinho branco, champanhe e a baixa ingestão de vinho fortificado tiveram efeitos protetores contra a covid-19. Já o consumo de cerveja e cidra, independentemente da frequência e quantidade de ingestão de álcool, e alto consumo de destilados (mais de cinco copos por semana) foram associados ao aumento do risco de contrair a covid-19.
E por que isso acontece?
Segundo os pesquisadores o menor ou maior risco de covid não está no grau de álcool presente nas bebidas, mas e sim no teor de polifenóis, que têm propriedades antioxidantes.
O vinho tinto, por exemplo, tem as maiores concentrações de compostos fenólicos, como estilbenos, proantocianidinas e resveratrol. Esses polifenóis podem diminuir a pressão arterial, reduzir a inflamação e inibir os efeitos de vírus como a gripe e outras infecções relacionadas ao trato respiratório.
Quando se aderem às células humanas, essas partículas ajudam o corpo a se defender. A cerveja não apresenta esse composto e isso pode ser a chave para entender porquê o vinho se provou mais “defensivo” contra a covid, enquanto outras bebidas não.
Essas descobertas podem sugerir que a classe específica de constituintes polifenólicos pode ser responsável pelo efeito benéfico das bebidas alcoólicas contra a covid-19, e não pela concentração de álcool.
Os pesquisadores explicam ainda que não levaram em consideração os ingredientes e a concentração de polifenóis (estrutura química comum, que atuam como antioxidantes) dos subtipos de bebidas alcoólicas, sendo necessário um estudo com mais detalhes sobre os ingredientes e a concentração de polifenóis no futuro.
Mas fica um alerta
Após a divulgação do estudo, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool — que é uma das principais referências no Brasil sobre este tema — faz um alerta sobre os riscos da pesquisa incentivar um consumo abusivo de bebidas alcoólicas. “Começar a beber ou consumir em excesso seja qual for o tipo de bebida alcoólica não é uma forma segura para a prevenção da covid-19. A vacinação e a adoção das medidas sanitárias (uso de máscara, higienização constante das mãos e distanciamento) são as melhores estratégias para diminuir o risco de contrair a doença”, diz um trecho da nota divulgada à imprensa.
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