Alerta

Mudança em rota de migração de peixes pode gerar disputas econômicas

Pesquisa revela que 45% dos estoques de peixes que transitam entre países deixarão seus habitats históricos até 2100, o que pode gerar um conflito internacional em zonas de interesse pesqueiro

Jéssica Gotlib
postado em 18/01/2022 13:04 / atualizado em 18/01/2022 13:11
Cientistas propõem que os países revisem os acordos internacionais sobre pesca para evitar conflitos por peixes que migram sazonalmente -  (crédito: JOHN WESSELS/AFP)
Cientistas propõem que os países revisem os acordos internacionais sobre pesca para evitar conflitos por peixes que migram sazonalmente - (crédito: JOHN WESSELS/AFP)

Cientistas estão cada vez mais empenhados em mostrar que as mudanças climáticas podem prejudicar a economia global. Em um dos esforços mais recentes nesse sentido, pesquisadores da Universidade da Columbia Britânica demonstraram que as zonas pesqueiras internacionais podem gerar conflitos entre países. De acordo com a modelagem, até 2100, 45% dos peixes que atravessam duas ou mais fronteiras comerciais vão mudar a rota de migração.

E engana-se quem pensa que os maiores impactos só serão sentidos daqui a várias décadas. Os pesquisadores concluíram que, até 2030, data limite para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unida, 23% desses cardumes já terão abandonado o habitat natural. Dessa forma, os pesquisadores acreditam que 78% das áreas em que ocorre a maior parte da pesca em alto mar, as chamadas zonas econômicas exclusivas (ZEEs), deve sem impactadas em até oito anos.

"Muitos dos acordos de gestão pesqueira feitos para regular estoques compartilhados foram estabelecidos em décadas passadas, com regras que se aplicam a uma situação mundial que não é a mesma de hoje", explicou Juliano Palacios-Abrantes ao portal Eureka Alert. Ele conduziu o estudo enquanto estava no Instituto de os Oceanos e Pescas (IOF). Ele lembrou que essas zonas são responsáveis pela movimentação de grandes somas em dinheiro. Só entre 2005 e 2010, elas movimentaram cerca de US$ 76 bilhões, cerca de R$ 420 bilhões na cotação atual do dólar.

O cientista citou como exemplo um conflito gerado pela mudança na migração de salmão entre as décadas de 1980 e 1990. Na época, Estados Unidos e Canadá viram seus cardumes adotarem novos habitats, o que levou a uma interrupção dos acordos bilaterais que vigoravam até então. Como resultado da disputa, houve uma sobrepesca da espécie que quase acabou com os estoques de salmão na região.

Com a nova rodada de aquecimento das águas oceânicas, os países mais afetados devem ser os tropicais, especialmente na região do Caribe e Sul da Ásia. Assim, o artigo sugere formas de se antecipar aos problemas para evitar uma guerra econômica na região. Uma das sugestões é de que as nações adotem uma política de pesca conjunta, permitindo que barcos de um país capture peixes em água de outro em troca de parte da produção ou dos lucros, por exemplo.

“Devemos aceitar que a mudança climática está acontecendo, e depois agir com rapidez suficiente para adaptar os regulamentos de gestão da pesca para que ela seja responsável”, evidenciou Gabriel Reygondeau, um associado de pesquisa da IOF e co-autor do estudo.

A íntegra do artigo O calendário e a magnitude das mudanças de área, causadas pelo clima, dos estoques de peixes transfronteiriços que desafiam sua gestão pode ser encontrada (em inglês) aqui.

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