Desde o início da pandemia de coronavírus, os brasileiros nunca procuraram tanto no Google por respostas sobre o teste considerado "padrão ouro" para detectar a covid-19.
Segundo dados da plataforma de buscas fornecidos com exclusividade à BBC News Brasil, este mês de janeiro — que nem chegou à metade — registrou o maior volume de buscas sobre o teste PCR desde março de 2020, quando foi declarada a pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em comparação com dezembro de 2021, o volume de pesquisas sobre o teste mais que dobrou neste mês, com alta de 110%.
De um mês para outro, também cresceram em 240% as buscas sobre testes rápidos de covid-19. Neste mês de janeiro, o interesse no termo "teste rápido" foi o mais alto desde dezembro de 2020.
Na liderança de buscas pelos dois testes, estão os Estados do Rio de Janeiro (1º) e São Paulo (2º).
A BBC News Brasil conversou com dois especialistas e buscou as orientações da OMS, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Centro de Controle de Doenças (CDC) do Departamento de Saúde dos EUA para responder a algumas das principais perguntas registradas no Google sobre os testes PCR e rápidos.
A busca na internet reflete o recente aumento de casos da doença no país, o que naturalmente leva à maior procura por testes.
Embora o país já esteja enfrentando há um mês um apagão de dados do Ministério da Saúde relativos à covid-19 — atribuído pelo governo federal a um ataque hacker —, serviços de saúde em várias partes do país estão registrando maior procura por atendimento não só pela covid-19, mas também pelo vírus influenza A.
E os dados mais recentes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), de terça-feira (11/1), mostram que o Brasil voltou a patamares de julho de 2021 nos indicadores de novos casos diários de covid e da média diária de casos dos últimos sete dias. Ou seja, o país se aproxima de uma situação de volume de infecções semelhantes a quando começava a sair da pior fase da pandemia, em meados do ano passado.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou na segunda-feira (10/1) que a expectativa do governo é que o aumento de casos não seja acompanhado por um crescimento crescimento significativo no número de óbitos. Especialistas têm apontado que o avanço da vacinação tem se mostrado essencial para evitar mais casos graves da doença.
Vale lembrar que os testes sobre os quais há tanta procura na internet estão escassos em várias partes do país, tanto na rede privada e ainda mais na rede pública. É uma novidade diante do avanço da ômicron, mas não na pandemia como um todo, já que especialistas sempre apontaram a testagem no Brasil como problemática e insuficiente.
Confira abaixo respostas a algumas das perguntas mais feitas por brasileiros no Google nos últimos sete dias.
O que é o PCR?
Literalmente, as letras PCR remetem (em inglês) à "reação em cadeia por polimerase" (polymerase chain reaction), uma técnica que multiplica segmentos de material genético até que se possa analisar se o coronavírus está ali ou não. O nome completo da técnica é RT-PCR, e o RT significa "transcriptase reversa", uma espécie de cópia invertida do material genético fruto da conversão do RNA em DNA.
A infectologista Melissa Valentini, do grupo Pardini (rede especializada em medicina diagnóstica), explica que o PCR é um teste "viral", porque detecta pedaços do vírus, e não anticorpos produzidos por nosso organismo, como fazem os exames sorológicos; e "molecular", por buscar genes do vírus, de preferência pelo menos dois ou três.
Quando fazer o PCR? E o teste rápido de covid?
Tanto o PCR quanto os testes rápidos estão sendo usados para as mesmas ocasiões: o aparecimento de sintomas e/ou contato recente com alguém que teve a covid-19 confirmada.
No entanto, eles são diferentes. O RT-PCR tem alto grau de confiança, mas o resultado costuma demorar. E o antígeno tem resultados menos certeiros, mas a acessibilidade pesa a favor. Veja aqui mais detalhes.
José Eduardo Levi, virologista da rede Dasa (rede de laboratórios e hospitais), diz que, no caso do contato com alguém cuja infecção foi confirmada, a recomendação é fazer testes de três a cinco dias após esse contato.
"Não adianta fazer imediatamente. Há uma limitação porque tem um tempo até que o vírus entre nas nossas células e comece a se reproduzir. Isso demora em torno de três dias. Antes da variante ômicron, a gente falava de cinco a sete dias depois do último contato, agora reduziu para três porque com ela tudo é mais aceleradinho: começa mais rápido e termina mais rápido também", explica Levi, doutor em microbiologia.
Melissa Valentini lembra ainda que há situações específicas em que o PCR é recomendado, como em pacientes pré-cirúrgicos e antes do embarque em voos internacionais.
Como é feito o PCR para Covid?
A forma mais comum de realização do teste RT-PCR é o uso de um swab nasal (haste semelhante a um cotonete).
José Eduardo Levi, da Dasa, diz que a "melhor amostra" é aquela coletada especificamente na nasofaringe, em que o vírus tende a estar mais presente. Mas há locais que ainda fazem coletas também na orofaringe, o que segundo o especialista é menos eficaz — que continua por ser uma herança de práticas do início da pandemia.
Existe ainda a modalidade do PCR-Lamp, um teste molecular que também investiga a presença do RNA viral na saliva, mas não tem um resultado considerado tão preciso quanto o do RT-PCR.
O que significa PCR positivo?
Um PCR positivo significa simplesmente que uma pessoa está infectada pelo vírus, o que é evidenciado pela presença dele no trato respiratório superior (onde o material para análise é coletado).
Onde fazer o PCR?
Na rede particular, laboratórios realizam o teste sem necessidade de prescrição médica e pagamento avulso. Em caso de convênio médico, costuma ser necessária a prescrição.
Na rede pública, os testes são bem mais difíceis de serem acessados e isso varia por realidade local.
A infectologista Melissa Valentini diz que, na situação atual, é comum que os hospitais públicos estejam reservando os testes para pacientes graves.
PCR positivo, o que fazer?
Uma pessoa que teve teste PCR positivo para coronavírus e manifesta sintomas deve observá-los e procurar assistência médica em caso de manifestações mais preocupantes, como dificuldade de respirar, desidratação e dificuldade de comer.
Para casos mais leves ou até assintomáticos, deve ser feito o isolamento. Mas o tempo recomendado para isso, que já foi de 14 dias, tem mudado.
Na segunda-feira (10/1), o Ministério da Saúde anunciou que o tempo mínimo de isolamento passou para 7 dias desde que não haja mais febre e sintomas nas 24 horas finais desse período e nem uso de antitérmicos.
Segundo a diretriz, aqueles que realizarem testagem (RT-PCR ou teste rápido de antígeno) para covid com resultado negativo no 5º dia poderão sair do isolamento antes do prazo de 7 dias - desde que não apresentem sintomas respiratórios e febre há pelo menos 24 horas, e sem o uso de antitérmicos. Se o resultado for positivo, é necessário permanecer em isolamento por 10 dias a contar do início dos sintomas.
Em quanto tempo sai o resultado do PCR?
Existem testes que podem ter seus resultados entregues em poucas horas, no mesmo dia. Alguns deles são comercializados em aeroportos. Mas em geral, na situação de alta demanda hoje no Brasil, o tempo para entrega de resultados tem sido estendido. Na rede Pardini, por exemplo, o prazo atual é de quatro dias, enquanto em outros momentos da pandemia foi de 24h.
O que é teste rápido antígeno?
Melissa Valentini, do grupo Pardini, explica que enquanto os testes PCR procuram pelo material genético do vírus no nosso corpo, os testes rápidos de antígeno buscam proteínas produzidas pelo vírus. Ambos usam o swab nasal.
Assim como apontou José Eduardo Levi, Valentini diz que o PCR é o "padrão ouro" para diagnóstico, mas mesmo assim defende que os testes antigênicos têm seu lugar.
"A gente sabe que o teste antigênico tem uma sensibilidade limitada em relação ao PCR, mas ele é positivo, te dá um norte. É um resultado rápido, que faz com que você consiga ter uma ação imediata, isolando aquela pessoa imediatamente", diz a infectologista, definindo sensibilidade como "a chance daquele teste dar positivo em uma pessoa doente".
Para os testes rápidos de antígeno, a situação mais delicada é a dos falsos negativos — resultados negativos para pessoas que na verdade, estão sim infectadas.
"O teste antigênico precisa ser interpretado da seguinte forma: deu positivo, você vai considerar positivo. Se deu negativo mas o paciente tem sintomas e alta chance de ter tido uma infecção por covid-19, o ideal é fazer o RT-PCR e não liberar da quarentena antes disso. Com alta chance de covid, o ideal é fazer o RT-PCR. Todo teste precisa ser interpretado junto com a história epidemiológica", aponta Melissa Valentini.
A vantagem desse teste está no próprio nome — ele é rápido, com padrão de entrega em menos de uma hora — e no seu preço, mais barato que o PCR (um teste de antígeno varia entre R$ 100 e R$ 200 em laboratórios privados).
Em um cenário de muitas infecções como a atual, isso é especialmente valioso, pois permite a resolução de parte considerável dos diagnósticos.
Como funciona o teste rápido de Covid?
A infectologista Melissa Valentini explica que o teste rápido de antígeno é um teste do tipo imunocromatográfico — como aqueles usados para detectar uma gravidez, embora estes não busquem um antígeno, e sim um hormônio.
A plataforma em que esses testes são realizados lembram um cartãozinho. Há um orifício onde será depositada a amostra; um papel de celulose por onde o material vai escorrer; e um pequeno visor onde aparecerão tracinhos indicando o resultado.
Onde fazer o teste rápido de Covid?
Os testes rápidos também estão disponíveis em unidades de saúde e laboratórios, sendo oferecidos mediante regras próprias e pedidos médicos. Outra opção popular também é a realização destes testes em farmácia mediante pagamento avulso. Entretanto, diferente de alguns outros países que permitem os autotestes, apenas alguns profissionais de saúde estão habilitados a aplicar este teste no Brasil.
Com informações de reportagem de André Biernath, da BBC News Brasil em São Paulo
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