Indivíduos com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) geralmente recebem remédios desenvolvidos para tratar depressão e ansiedade. Segundo especialistas, apesar de esses medicamentos ajudarem, como não foram projetados para o TEPT, podem deixar alguns pontos a desejar. Por isso, pesquisadores têm se dedicado a encontrar drogas que resultem em uma terapia mais completa para os traumas persistentes. Mesmo iniciais, estudos científicos mostram que anestésicos, moléculas naturais e até drogas psicodélicas são alternativas com chance de, em algum momento, serem prescritas em abordagens mais eficazes que as atuais.
A cetamina, também conhecida como ketamina, é um tipo de anestésico usado principalmente em cavalos. Nos últimos anos, porém, essa droga se tornou alvo de uma série de pesquisas da área psiquiátrica. A substância, que já mostrou resultados positivos no tratamento da depressão, também foi testada para o TEPT. "Esse transtorno é uma condição extremamente debilitante e, ao testar essa droga, nosso objetivo foi encontrar uma opção terapêutica eficaz para tantas pessoas que precisam de alívio de seu sofrimento", afirma Dennis S. Charney, pesquisador do Hospital Mount Sinai, nos Estados Unidos.
Charney e colegas de pesquisa selecionaram um grupo de 30 pessoas diagnosticadas com TEPT há 14 anos. Parte delas recebeu seis infusões de cetamina três vezes por semana, durante duas semanas consecutivas. O resto dos voluntários recebeu infusões de um medicamento padrão utilizado no tratamento do transtorno. Os voluntários foram acompanhados diariamente, e os cientistas constataram que 67% dos que receberam cetamina apresentaram redução de 30% dos sintomas. Por outro lado, 30% dos integrantes do grupo padrão apresentaram quase 20% de melhora.
Além disso, os benefícios observados no grupo experimental surgiram antes. "Esse é um passo importante em nossa busca para desenvolver novas intervenções farmacológicas para um transtorno crônico e incapacitante, já que um grande número de indivíduos não responde aos tratamentos disponíveis atualmente ou sofre por um longo tempo até obter melhoras. Agora, precisamos de estudos que determinem como podemos manter essa resposta rápida e robusta ao longo do tempo", afirma Adriana Feder, professora-associada de psiquiatria na Icahn School of Medicine at Mount Sinai e uma das autoras do estudo.
Pesquisadores japoneses também resolveram avaliar o poder terapêutico de uma nova substância, o trihexifenidil, no tratamento do TEPT. A droga anticolinérgica retirada de uma planta é usada para controlar distúrbios como o Parkinson. Agora, a equipe focou em um dos principais sintomas do transtorno dos traumas persistentes: os pesadelos. Eles administraram o remédio, por algumas semanas, em 34 pacientes que não respondiam bem ao tratamento psiquiátrico padrão e os entrevistaram ao longo da terapia experimental.
Como resultado, observaram que 88% dos voluntários relataram a ocorrência de pesadelos leves ou de nenhum sonho negativo relacionado aos traumas vividos. Além disso, 79% dos pacientes relataram respostas semelhantes em relação a flashbacks de experiências perturbadoras. "Embora mais estudos sejam necessários para provar o mecanismo visto, reaproveitar o trihexifenidil para o TEPT seria uma reviravolta promissora, uma vez que o medicamento é barato e não tem efeitos adversos. Essa, com certeza, é uma esperança para os pacientes que sofrem com esse transtorno tão cruel", destaca Masanobu Sogo, pesquisador da Medical Corporation Sogoka, no Japão, e um dos autores do estudo.
Saiba Mais
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Danielle H. Admoni, psiquiatra na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), conta que o número de pesquisas em busca de novas drogas para tratar o TEPT tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. "Hoje, temos exames de imagem que nos ajudam a mostrar determinadas alterações cerebrais relacionadas a esse problema de saúde, confirmando o que antes eram apenas suspeitas. Temos esses dados novos e não podemos esquecer o grande estresse que vivenciamos, o que agrava os transtornos psiquiátricos. Esses efeitos negativos à saúde mental também influenciam a busca por novas opções terapêuticas, e podemos esperar até mais estudos nessa área", explica.
Apesar do grande número de pesquisas e das possibilidades terapêuticas que têm surgido, a médica destaca que os dados vistos, até agora, são muito prematuros. "Nenhuma dessas novas drogas conseguiu autorização para uso, pois os resultados são bastante iniciais. Dessa forma, não temos como saber se os benefícios realmente existem. Apenas mais investigações vão esclarecer e nos garantir o sucesso delas", justifica. "Por enquanto, só podemos contar com os antidepressivos a aguardar para saber se teremos opções direcionadas especificamente para esse transtorno."