De RNA

Vacina contra o HIV tem resultado promissor

Imunização estimula uma reação imune relacionada a duas proteínas-chave do vírus, a Env e a Gag

Uma vacina experimental contra o HIV baseada em mRNA, tecnologia usada no desenvolvimento de dois imunizantes que evitam a infecção pelo novo coronavírus, demonstrou resultados promissores em testes com camundongos e macacos. O experimento foi conduzido por cientistas dos Estados Unidos, que apresentaram os resultados na última edição da revista especializada Nature Medicine.

“Apesar de quase quatro décadas de esforços por parte da comunidade de pesquisa global, uma vacina eficaz para prevenir o HIV continua a ser um objetivo indescritível,” destaca, em comunicado, Anthony S. Fauci, chefe de Laboratório do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) e um dos autores do estudo. “Essa vacina experimental de mRNA combina vários recursos que podem superar as deficiências de outras vacinas experimentais contra o HIV e, por isso, representa uma abordagem promissora”, acrescenta.

A vacina desenvolvida por Fauci e sua equipe funciona da mesma forma que os imunizantes da covid-19, mas, em vez de transportar instruções de mRNA para gerar proteção contra proteína spike do coronavírus, o fármaco estimula uma reação imune relacionada a duas proteínas-chave do HIV: a Env e a Gag. “Embora não possam causar infecção porque não carregam o código genético completo do vírus, essas moléculas correspondem ao HIV infeccioso e, por isso, conseguem estimular respostas imunológicas adequadas”, detalham os autores do estudo.

Várias doses

Em experimentos com camundongos, duas doses da vacina experimental induziram anticorpos neutralizantes em todos os animais. De acordo com os cientistas, as proteínas Env produzidas nos roedores se assemelhavam às do vírus inteiro, uma melhoria em relação às vacinas experimentais contra HIV testadas anteriormente.

Como segundo passo, a equipe testou a fórmula protetiva em primatas não humanos. Dessa vez, observou-se que macacos rhesus que receberam a primeira dose da vacina e 13 doses de reforço administradas semanalmente tiveram um risco 79% menor de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana símio (SHIV), o equivalente ao HIV em macacos. Isso quando comparados a cobaias não protegidas pelo fármaco.

Após 13 semanas, dois dos sete primatas imunizados não estavam infectados. Enquanto os outros não vacinados desenvolveram a doença cerca de três semanas depois do início do experimento, os imunizados demoraram em média oito semanas. “Esse nível de redução de risco pode ter um impacto significativo na transmissão viral", enfatizou o estudo. Apesar das altas doses de mRNA, o produto foi bem tolerado, causando efeitos colaterais moderados, como perda temporária de apetite.

Os cientistas observaram, no entanto, que os níveis de anticorpos produzidos foram relativamente baixos e que uma vacina que exigisse múltiplas injeções seria difícil de ser aplicada em humanos. Segundo Paolo Lusso, também autor do estudo e pesquisador do NIAID, há a possibilidade de essa quantidade de doses ser reduzida. “Agora, estamos refinando nosso protocolo de vacina para melhorar a sua qualidade, reduzindo também a quantidade de reforços necessários para uma resposta imune robusta. Se for confirmado como seguro e eficaz, planejamos realizar um estudo com humanos saudáveis”, adianta. A equipe trabalha em conjunto com pesquisadores da Moderna, empresa americana responsável por uma das vacinas da covid-19.

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