A criadora da vacina Oxford/AstraZeneca, a primeira a ser desenvolvida contra a covid-19, afirmou que a pandemia está longe de terminar e que uma próxima poderá ser ainda mais letal. Dame Sarah Gilbert falou aos colegas durante uma palestra no domingo, transmitida ontem pela rede britânica BBC. "Esta não será a última vez que um vírus ameaçará nossas vidas e a nossa economia", alertou, acrescentando: "A verdade é que o próximo poderia ser pior. Pode ser mais contagioso, ou mais letal, ou ambos."
Desde novembro de 2019, quando se acredita que surgiram os primeiro casos da doença, mais de 5 milhões de pessoas morreram em todo o mundo e cerca de 265 milhões foram infectadas. Gilbert também destacou que a nova variante do Sars-CoV-2, a ômicron, contém mutações conhecidas por aumentar a transmissibilidade do vírus e que os anticorpos induzidos tanto pela vacinação quanto por infecção anterior parecem ser menos eficazes contra a cepa.
Porém a professora de infectologia da Universidade de Oxford também afirmou que isso não significa "necessariamente, proteção reduzida contra doenças graves e mortes". "Até que saibamos mais, devemos ser cautelosos e tomar medidas para desacelerar a disseminação desta nova variante", disse.
Ressaltando os avanços científicos dos últimos dois anos, com a criação de vacinas em tempo recorde e o desenvolvimento de remédios que começam, agora, a entrar no mercado, Dame Sarah Gilbert afirmou que esses ganhos de conhecimento não podem ser perdidos. "Não podemos permitir uma situação em que passamos por tudo o que passamos e depois descobrirmos (...) que ainda não há financiamento para a preparação para uma pandemia", assinalou. "Assim como investimos em forças armadas e inteligência e diplomacia para nos defender contra guerras, devemos investir em pessoas, pesquisa, manufatura e instituições para nos defender contra pandemias", defendeu.
Essa não é a primeira vez que se alerta para a possibilidade de uma pandemia futura mais grave que a de covid-19. Há três meses, o Centro Global para o Desenvolvimento (CDG), uma organização não-governamental e multinacional de pesquisa, apresentou um relatório, indicando que, em todo o mundo, "o risco de pandemias é amplamente subestimado e as ações para se preparar para surtos têm um investimento insuficiente".
O CGD elaborou um modelo estatístico de risco de pandemias futuras estimando que, nos próximos 25 anos, o risco de uma nova ameaça tão ou mais letal que a covid tem 47-57% de chance de acontecer. Os países mais desfavorecidos seriam os mais afetados, apontou a ONG. (PO)