Chance de ação personalizada

Correio Braziliense
postado em 27/12/2021 06:00

Ao contrário da meditação, que faz parte dos recursos prescritos para complicações psiquiátricas e psicológicas, a estimulação transcraniana magnética é um recurso terapêutico bastante recente, ainda sendo testado por especialistas da área. Nos testes voltados para o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) — conduzidos por cientistas americanos —, ela mostra resultados positivos, sinalizando, inclusive, quais pessoas poderiam se beneficiar com a abordagem.

"A estimulação cerebral é uma intervenção cara. Sabendo desde o início que seria o tratamento mais eficaz para um determinado tipo de paciente, poderia economizar tempo e sofrimento. Ir direto para essa terapia poderá reduzir o dinheiro gasto em tratamentos que não funcionam", explica Amit Etkin, pesquisador da Universidade de Stanford, nos EUA, e um dos autores do estudo.

Etkin e sua equipe realizaram uma análise de ondas cerebrais de mais de 700 pessoas com TEPT e detectaram dois subtipos de atividades neurais relacionadas ao transtorno (subtipo 1 e subtipo 2). Cada subtipo tinha padrões de conectividade (ação de neurônios) distintos no cérebro. Além disso, o subtipo 2 era caracterizado por uma resposta ruim à psicoterapia, um dos métodos tradicionais de enfrentamento ao transtorno.

Em uma segunda análise, os investigadores observaram que os pacientes com subtipo 2 respondiam melhor a terapias de estimulação cerebral. Para a equipe, os dados podem ser usados para o desenvolvimento de técnicas de estimulação cerebral que se adéquem às características neurais de cada indivíduo. "Nossas descobertas são empolgantes porque refletem o progresso na identificação de biomarcadores com base em evidências sólidas, além de significar um avanço no desenvolvimento de uma escolha personalizada de tratamento. Esperamos que, com testes futuros, que envolvam um número maior de pacientes, consigamos uma aprovação da estimulação magnética transcraniana para indivíduos com TEPT", afirma Etkin.

Depressão

Adiel Rios, pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), destaca que a busca por novas opções terapêuticas para tratar o TEPT é extremamente importante. "Essa é uma doença complexa, que nem sempre apresenta uma boa resposta aos tratamentos convencionalmente aprovados, fortemente associado ao suicídio e que costuma causar graves prejuízos na funcionalidade. Um número robusto de pacientes, cerca de 50%, pode não responder ou desenvolver importantes efeitos colaterais relacionados à medicação. Por isso, vem aumentando as pesquisas envolvendo novos tratamento", detalha.

O especialista acredita que a estimulação magnética transcraniana tem ganhado cada vez mais espaço nesse cenário. "Os resultados no tratamento desse transtorno com essa terapia, principalmente nos casos em que a comorbidade associada é a depressão e para aqueles pacientes que apresentam efeitos colaterais ou não respondem à medicação convencional, parecem animadores. Algumas evidências sugerem que a estimulação magnética transcraniana melhora também a ação da serotonina, reequilibrando a área de controle da ansiedade e da depressão", afirma.

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