Não deveria existir, e ainda assim, "b Cen (AB)b", um planeta gigante do tipo super-Júpiter orbita um sistema estelar muito massivo na constelação de Centauro, de acordo com um estudo divulgado nesta quarta-feira (8).
O par de estrelas, apelidado de "b Cen", pesa muito, com uma massa de seis a dez vezes a do Sol. Até agora, nenhum planeta havia sido detectado em torno de um sistema estelar de mais de três massas solares.
Essas estrelas "formam um ambiente considerado bastante destrutivo e perigoso, a ponto de ser considerado muito difícil para grandes planetas se formarem", explica o astrônomo Markus Janson, da Universidade de Estocolmo, principal autor do estudo publicado na Nature e citado pelo Observatório Europeu Austral (ESO).
A mais brilhante das estrelas gêmeas "b Cen" - cerca de 325 anos-luz da Terra - irradia a uma temperatura de superfície estimada em mais de 18.000 graus Celsius, mais de três vezes a do Sol.
Quando este ainda estava em formação, seu disco protoplanetário, uma nuvem de gás e poeira, viu a formação de planetas, com Júpiter à frente, por aglomeração de poeira. Seu núcleo rochoso então acretou o gás que hoje forma a a atmosfera do planeta mais massivo no sistema solar.
Mas estrelas como "'b Cen' são tão quentes e brilhantes que sua luz sopra a matéria ao redor delas e não há o suficiente para formar um núcleo rochoso" nas proximidades, explica à AFP o astrônomo Gaël Chauvin do CNRS, co-autor do estudo.
Nuvem de poeira
Então, "qual é o mecanismo de formação do planeta em ação em um ambiente tão hostil, devido à radiação muito forte?", questiona o pesquisador. Porque se a teoria tornava a formação de um planeta em torno de uma estrela massiva dificilmente crível, ela foi "superada pela observação".
A saber, pelo Very Large Telescope do ESO, no Chile, e seu instrumento SPHERE. O planeta que encontrou enriquece o bestiário planetário com características notáveis.
"b Cen (AB) b" pertence à mesma espécie de Júpiter, a dos gigantes gasosos, mas tem quase onze vezes sua massa. Acima de tudo, a distância que o separa de seu par de estrelas é colossal, 100 vezes a que separa Júpiter do Sol.
Em primeiro lugar, foi necessário garantir que, apesar da distância, o astro estava de fato em órbita em torno das estrelas de "b Cen". E aí, surpresa, um trabalho de arquivo constatou que o planeta tinha sido observado, mas não identificado como tal, por um pequeno telescópio do ESO, há vinte anos.
A comparação com 2000 confirmou o movimento próprio do planeta e mostrou que ele se movia da mesma maneira que sua estrela hospedeira. Então, em órbita.
Sobre como conseguiu se formar, "não há cenário privilegiado", acrescenta. O sistema observado pode ser jovem, apenas 15 milhões de anos, mas já está estabelecido. Seria preciso observar um alter ego em plena gênese, com apenas um a dois milhões de anos.
Para aparecer, "b Cen (AB) b" poderia ter formado um núcleo rochoso por aglomeração de poeira a uma distância suficientemente grande de seu par de estrelas, ou então por um fenômeno de instabilidade gravitacional, em que parte da nuvem de poeira repentinamente desabou sobre si mesma.
A busca por respostas apenas começou. A equipe internacional de Markus Janson buscará conhecer a composição química do planeta. Isso pode apontar para um cenário mais claro. A resposta virá dentro de alguns anos.
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