Com a chegada de mais uma black friday, a onda de promoções e propagandas começam a tomar as redes sociais e diversas outras mídias. No meio de tanto preço e “oportunidade” fica fácil se sentir "de fora", caso não aproveite uma ou outra facilidade de compra. Mas vale lembrar: comprar por impulso — ou pressão — nem sempre é a melhor escolha.
Para entender mais sobre o tema, e especialmente como proteger a saúde mental no meio desse furacão de compra e venda, o Correio bateu um papo com Marcelo Santos, professor de psicologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.
A priori, o especialista explica as razões que levam ao impulso das compras. De acordo com Santos, o histórico de relacionar a posse de um novo bem com o prazer é um dos motivos. “As pessoas têm impulso para comprar por várias razões, uma delas é a questão da mídia e da propaganda atrelar essas compras ao bem-estar, então as pessoas buscam satisfazer suas necessidades. Ao consumir algo novo, elas se sentem bem e com isso acabam comprando coisas que não são úteis".
O professor também pontua o limite entre uma compra adequada e uma possível doença. “O ato de comprar não é patológico, ele se torna assim quando o ato de comprar fica incontrolável, e aí nós temos uma doença, a oniomania, onde a pessoa compra por impulso, sem se incomodar com gastos”, e ainda completa: “Devemos lembrar que consumir não é um problema, apenas que a questão do consumo pelo consumo por si só, meramente para gerar um prazer momentâneo, isso sim acaba levando a um problema, pode ser a porta de entrada para uma doença”.
“A compra por impulso é aquela que não existe uma necessidade pelo produto, mas que, por algum ganho, como uma promoção, a pessoa compra sem saber se terá uma utilidade. A impulsividade está muito atrelada ao apelo da questão do consumismo no capitalismo, afinal de contas, a relação é bem essa: precisa-se produzir para consumir e consequentemente precisa-se estimular o consumo para produzir mais, e isso gera nas pessoas essa impulsividade”, detalha Santos.
Como se proteger
O professor ainda conta que um dos problemas para a saúde mental das pessoas, em períodos como a Black Friday, é a angústia vivida entre a culpa por uma compra impulsiva e a não disponibilidade de recursos financeiros suficientes. Contudo, o especialista também indica três passos para ajudar quem deseja preservar a saúde mental contra as compras por impulso:
- “A primeira delas é ter uma organização financeira. Nós sabemos que a necessidade do dia a dia precisa ser atendida, se a pessoa precisa comprar uma calça, trocar um aparelho eletrodoméstico, seja ele qual for, essas questões precisam ser sanadas, não só pela necessidade pessoal, mas pela necessidade do dia a dia. O primeiro ponto é ter um planejamento financeiro, saber até onde a pessoa pode gastar."
- "O segundo é ver as prioridades que precisam ser atendidas. O desejo por muitas coisas é algo seu, mas a necessidade propriamente dita não precisa estar ligada aos desejos. No segundo momento, o certo é você fazer uma seleção exata daquilo que você realmente necessita."
- "No terceiro momento, é importante as pessoas perceberem que outros desejos também vão precisar de todo o planejamento já feito uma vez, o certo é sempre a pessoa ter esse movimento de realizar escolhas e trabalhar dentro das suas possibilidades financeiras”.