A mortalidade de pacientes de covid-19 que precisam de um tratamento com ventilação mecânica é de cerca de 50%. Cientistas têm testado medicamentos desenvolvidos para outras finalidades na tentativa de descobrir drogas que também possam tratar as complicações pulmonares graves geradas pelo novo coronavírus. Um estudo divulgado, ontem, na revista científica American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine indica que a prostaciclina pode ter esse efeito. Em ensaios clínicos, a droga conseguiu reduzir pela metade as mortes em pacientes sob cuidados intensivos.
A prostaciclina é usada desde a década de 1980 para tratar a hipertensão pulmonar — quadro em que a pressão nas artérias pulmonares é anormalmente alta, podendo causar falta de ar e fadiga na execução de atividades leves, como caminhar. Em um estudo anterior, cientistas da Faculdade de Saúde e Ciências Médicas da Universidade de Copenhague demonstraram que, em baixa dosagem, a droga pode ter um efeito benéfico em pacientes com covid-19 atendidos em unidades de terapia intensiva (UTIs).
Segundo o professor Pär Johansson, há, nesses pacientes, prejuízos nas células endoteliais dos menores vasos sanguíneos do corpo, os capilares. "Quando essas células são danificadas, ocorrem microcoágulos sanguíneos que limitam a disponibilidade de oxigênio no órgãos vitais e causam sérios danos a pulmões, coração, fígado e rins. Parece que esse processo pode ser revertido com o tratamento de pacientes com prostaciclina", detalha, em nota.
A equipe decidiu, então, avaliar a terapia experimental em um grupo de 80 pessoas internadas, em razão da covid, em hospitais da Dinamarca. Metade dos voluntários recebeu prostaciclina, enquanto o outro grupo, o de controle, uma solução salina tradicional. Três dias depois, constatou-se que aqueles que receberam a droga tiveram, em geral, significativamente menos danos aos órgãos vitais durante o período que estiveram na UTI.
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Além disso, a mortalidade caiu pela metade — 22% no grupo tratado com prostaciclina, contra 44% no grupo de controle. Os autores observam, porém, que esses resultados foram obtidos em um número pequeno de pacientes. Por isso, a necessidade de continuidade do estudo. "É importante examinar se o mesmo efeito também pode ser observado quando um número maior de pacientes é investigado", enfatiza Pär I. Johansson.
Atualmente, o grupo conduz um estudo maior com foco no efeito da prostaciclina na falência de órgãos em pacientes com choque séptico e endoteliopatia grave. Segundo Johansson, se pacientes de covid-19 atenderem aos critérios de participação, eles poderão ser incluídos nesse estudo.
A expectativa dele, porém, é de que outros pesquisadores façam o acompanhamento dos resultados divulgados ontem. "Descobrimos que os pacientes que receberam prostaciclina tinham, em geral, melhor funcionamento dos órgãos e melhores chances de sobrevivência. Ainda existem muitos pacientes com covid-19 em departamentos de terapia intensiva em todo o mundo, e estamos muito satisfeitos que, agora, parece haver uma melhor opção de tratamento melhor", afirma Johansson.
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