Coronavírus

Nova cepa do vírus da covid-19 apresenta alto número de mutações

Detectada na África do Sul, a B.1.1.529 tem ao menos 32 alterações na proteína spike — parte do vírus que é o foco das vacinas. Há casos de infectados também em Botsuana e Hong Kong. OMS deve avaliar o caso hoje

Correio Braziliense
postado em 26/11/2021 06:00
 Monitoramento em Gauteng: 90% dos casos de infecção na província mais urbanizada do país podem ser pela nova cepa -  (crédito: PHILL MAGAKOE)
Monitoramento em Gauteng: 90% dos casos de infecção na província mais urbanizada do país podem ser pela nova cepa - (crédito: PHILL MAGAKOE)

Uma nova variante do Sars-CoV-2 potencialmente mais contagiosa acaba de ser descoberta na África do Sul e pode estar ligada ao aumento dos casos de covid-19 registrado, nas últimas semanas, no país africano. Trata-se da B.1.1.529, que, aparentemente, parece ser mais incidente em jovens e tem um número "extremamente alto" de mutações, segundo o virologista Túlio de Oliveira, do instituto de pesquisa KRISP. As informações foram anunciadas pelo especialista, ontem, em uma coletiva de imprensa, que contou com a participação do Ministério da Saúde sul-africano. Hoje, membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) devem se reunir para determinar a periculosidade da nova cepa.

O Instituto KRISP, vinculado à Universidade de Kwazulu-Natal, foi o responsável por descobrir, no ano passado, a variante beta, também na África do Sul. No momento, a equipe de cientistas não pode afirmar se a B.1.1.529 poderá causar algum impacto na eficácia das vacinas anticovid existentes, mas essa possibilidade não está descartada. "O que nos preocupa é que essa variante pode não só ter uma capacidade de transmissão aumentada, mas também ser capaz de contornar partes do nosso sistema imunológico", afirma o professor Richard Lessell, especialista em doenças infecciosas da instituição de ensino sul-africana.

Segundo Túlio Oliveira, há ao menos 32 mutações na proteína spike da B.1.1.529 — justamente a estrutura que o vírus usa para infectar as células humanas e que é o foco de atuação das vacinas disponíveis. Em sua conta no Twitter, Tom Peacock, virologista do Imperial College London, escreveu que "perfil de pico de mutações horrível (devido à quantidade)" deve ser monitorado com rigor. Segundo ele, existe a possibilidade de esse excesso de alterações ser um "aglomerado estranho", mas, de qualquer forma, há um cenário de "preocupação real".

As mutações sofridas pelo vírus podem também, potencialmente, deixá-lo mais transmissível a ponto de torná-lo dominante. Foi o que aconteceu com a variante delta, cujo primeiro caso foi registrado, em outubro de 2020, na Índia. No início deste mês, a OMS declarou que essa cepa é predominante no mundo e representa mais de 98% dos sequenciamentos de genoma do Sars-CoV-2. Além disso, a delta reduziu a eficácia das vacinas em termos de transmissão do vírus para 40%, estima o órgão.

À época, a líder técnica da resposta à pandemia da covid-19 da agência das Nações Unidas, Maria Van Kerkhove, alertou que o mundo estava "bem no meio da pandemia" e que, sem a adoção e o cumprimento de todas as medidas preventivas, o cenário poderia ser agravar. "Se focarmos apenas na vacinação, estaremos permitindo que o vírus se espalhe e haja novas variantes", justificou.

"Dados limitados"

Diretor executivo do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD) sul-africano, Adrian Puren avalia que "não é surpreendente" a detecção de uma nova variante em seu país. Porém, segundo ele, ainda não há informações suficientes para avaliar o impacto dessa versão recente do Sars-CoV-2. "Embora os dados sejam limitados, nossos especialistas estão trabalhando horas extras com todos os sistemas de vigilância estabelecidos para entender a nova variante e quais podem ser as implicações potenciais", informou.

Ontem, o NICD informou que haviam sido diagnosticados 22 casos de infecção com a nova cepa e que, com a conclusão de outros exames de diagnóstico e sequenciamento, a taxa deveria aumentar. "O número de casos detectados e a porcentagem de testes positivos estão aumentando rapidamente", confirmou o instituto em um comunicado, sendo o cenário mais preocupante o da província mais populosa do país, Gauteng, que inclui Pretória e Joanesburgo. Estima-se que até 90% dos novos casos em Gauteng possam ser da B.1.1.529.

Rastreamento

Na mesma coletiva de imprensa, o ministro da Saúde, Joe Phaahla, admitiu que o surgimento dessa variante é, provavelmente, o motivo do aumento "exponencial" das infecções nas últimas semanas e considerou "uma boa notícia" o fato de a B.1.1.529 poder ser detectada por um teste PCR, o que, segundo ele, ajuda no rastreamento de sua disseminação. Phaahla enfatizou ainda que o fato de a cepa ter sido detectada pela primeira vez na África do Sul não significa que ela se originou lá. Também foram relatados casos de infectados na vizinha Botsuana e em Hong Kong.

Para o ministro, o surgimento da nova variante "reforça o fato de que esse inimigo invisível com o qual lidamos é muito imprevisível". A África do Sul tem quase 2,9 milhões de casos e 89.600 mortes em razão da covid-19. Na última quarta-feira, foram registrados 1.200 novos casos de infecção em 24 horas — no início deste mês, o número era, em média, 100. Apenas 35% dos adultos que reúnem os requisitos necessários estão totalmente vacinados.

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