Em sua semana decisiva, a conferência do clima das Nações Unidas em Glasgow, a COP26, pode ter um desfecho de pouco impacto, alerta a própria ONU. Segundo a agência, os novos compromissos de combate às mudanças climáticas anunciados, até agora, no evento dificilmente mudam a trajetória atual do planeta, que caminha rumo a um aumento catastrófico da temperatura.
Apesar das coalizões de dezenas de países para combater o desmatamento, reduzir as emissões de metano em 30% e acabar com a dependência de combustíveis fósseis, a situação continua alarmante, enfatiza uma nova estimativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). De acordo com o documento intitulado Climate Action Tracker, uma coalizão de análise climática, a conferência tem um "vácuo gigantesco entre credibilidade, ação e comprometimento".
Na avaliação da diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, Glasgow tem sido palco de grandes discursos e compromissos por 10 dias. Ela comemora avanços, como as mudanças nas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) — as contribuições para reduzir a quantidade de gases de efeito estufa — anunciadas por alguns países. "Mas a realidade é que, até agora, a soma total de nossos esforços é como um elefante dando à luz um rato. Quando martelamos a COP26, precisamos fechar a lacuna de liderança", escreveu em sua página do Twitter.
Em relatório anual divulgado no mês passado, o Pnuma estima que há uma tendência de o mundo enfrentar um aumento da temperatura global de até 2,7°C. Mesmo depois dos últimos compromissos nacionais das quase 200 partes presentes em Glasgow, essa estimativa não melhora até 2030, avaliam especialistas do programa. Ontem, Anne Olhoff, principal autora do relatório, disse que o mundo ainda precisa de "sete vezes mais ambição" para cumprir a meta de 1,5ºC estabelecida no Acordo de Paris de 2015.
Com base no que foi acordado há seis anos, os países reunidos em Glasgow devem impor regras de transparência, de controle mútuo de emissões, pactuar financiamento de médio prazo e indenizar os danos sofridos pelas nações mais vulneráveis. Os relatórios com avaliações sobre as reuniões da conferência "mostram que houve avanços", segundo o presidente das negociações da COP26, o britânico Alok Sharma. "Mas é claro que não foram suficientes", admitiu.
As negociações foram divididas em mesas setoriais, com dois ministros em cada mesa encarregados de ouvir as partes na preparação de um projeto de declaração final, prevista para este fim de semana. A ministra do Meio Ambiente da Costa Rica, Andrea Meza, foi escolhida por Sharma para sincronizar todas as propostas para o produto final.
Pressão
A aposta no consenso, porém, esbarra em expectativas sombrias por parte dos países mais vulneráveis. Uma coalizão formada por 10 países da América Latina, Ásia e África pressiona pelo recebimento de US$ 1,3 trilhão anuais, a partir de 2030, a serem repartidos igualmente entre medidas de mitigação das mudanças climáticas e medidas de adaptação. O grupo lembra que, antes de 2020, as nações desenvolvidas prometeram investir US$ 100 bilhões anuais para ações com esse objetivo e ainda faltam 20% desse valor.
"A meta para depois de 2025 deve refletir a ambição, a progressão e o acordo coletivo de ficar abaixo de 2ºC e ter como objetivo ficar dentro da meta de 1,5ºC", enfatiza o comunicado desses países. Segundo a ministra francesa de Transição Ecológica, Bárbara Pompili, a cifra de US$ 1,3 trilhão "faz parte das negociações" em andamento. "No momento estamos ouvindo", informou.
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