Cúpula do clima

COP26: 'Delegação' da indústria do petróleo é maior que a de qualquer país na COP26

ONGs internacionais como a Global Witness analisaram a lista de participantes publicada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no início da cúpula do clima em Glasgow, na Escócia

BBC
Matt McGrath - BBC News
postado em 08/11/2021 15:29
 (crédito: Getty Images)
(crédito: Getty Images)


O número de delegados associados à indústria de combustíveis fósseis na COP26 supera o de qualquer outro país, segundo um levantamento ao qual a BBC teve acesso.

ONGs internacionais como a Global Witness analisaram a lista de participantes publicada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no início da cúpula do clima em Glasgow, na Escócia, e constataram que 503 pessoas ligadas aos interesses desse setor foram credenciadas para o evento.

Há relatos de que esses delegados fazem lobby para as indústrias de petróleo e gás. Ativistas defendem que sua presença deveria ser proibida.

"A indústria de combustíveis fósseis passou décadas negando e adiando uma ação real sobre a crise climática, e é por isso que este é um problema tão grande", diz Murray Worthy, da Global Witness.

"A influência deles é uma das maiores razões pelas quais 25 anos de negociações climáticas da ONU não levaram a cortes reais nas emissões globais."

Brasil tem maior delegação oficial

Cerca de 40 mil pessoas estão participando da COP26.

O Brasil tem a maior equipe oficial de negociadores segundo dados da ONU, com 479 delegados.

Já o Reino Unido, que está abrigando o evento em Glasgow, tem 230 delegados registrados.

Então, em que consiste um lobista de combustíveis fósseis?

A Global Witness, Corporate Accountability e outras entidades que realizaram o levantamento definem um lobista de combustíveis fósseis como alguém que faz parte de uma delegação de uma associação comercial ou é membro de um grupo que representa os interesses de empresas de petróleo e gás.

No cômputo geral, foram identificadas 503 pessoas empregadas ou associadas a esses interesses na cúpula.

Eles também descobriram que:

  • Lobistas de combustíveis fósseis são membros de delegações de 27 países, incluindo Canadá e Rússia
  • O número de delegados associados a combustíveis fósseis na COP é maior do que o total combinado das oito delegações dos países mais afetados pelas mudanças climáticas nos últimos 20 anos
  • Mais de 100 empresas de combustíveis fósseis estão representadas na COP, com 30 associações comerciais e organizações associadas também presentes

Um dos maiores grupos identificados foi a Associação Internacional de Comércio de Emissões (IETA, na sigla em inglês), com 103 delegados presentes, incluindo três pessoas da multinacional de petróleo e gás BP.

Segundo a Global Witness, a IETA é apoiada por muitas grandes empresas de petróleo que promovem a compensação e o comércio de carbono como uma forma de permitir que continuem a extrair petróleo e gás.

"Esta é uma associação que tem um número enorme de empresas de combustíveis fósseis como membros. Sua agenda é impulsionada por empresas de combustíveis fósseis e atende aos interesses das empresas de combustíveis fósseis", disse Worthy.

"O que estamos vendo é a apresentação de falsas soluções que parecem ser uma ação climática, mas na verdade preservam o status quo e nos impedem de tomar ações claras e simples para manter os combustíveis fósseis no solo que sabemos serem as verdadeiras soluções para a crise do clima."

Outro lado

A IETA afirma que existe para encontrar meios mais eficientes para reduzir as emissões com base no mercado. Seus associados incluem empresas de combustíveis fósseis, mas também uma série de outras companhias.

"Temos escritórios de advocacia, desenvolvedores de projetos, as pessoas que estão colocando tecnologia limpa no mundo todo, eles também são membros de nossa associação", disse Alessandro Vitelli, porta-voz da IETA.

"Não vamos parar de uma hora para outra e, de repente, não haverá mais emissões da combustão de combustíveis fósseis."

"Há um processo de transição em andamento e os mercados de carbono são a melhor maneira de garantir que essa transição aconteça".

Ativistas argumentam que a Organização Mundial da Saúde não levou a sério a proibição do tabaco até que todos os lobistas da indústria fossem banidos das reuniões da Organização Mundial da Saúde (OMS). Eles querem o mesmo tratamento para as empresas de petróleo e gás da COP.

"Empresas como Shell e BP estão dentro dessas negociações, apesar de admitirem abertamente que aumentaram sua produção de gás fóssil", disse Pascoe Sabido, pesquisador da ONG Corporate Europe Observatory, que também esteve envolvido na análise.

"Se estamos falando sério sobre aumentar a ambição, então os lobistas dos combustíveis fósseis deveriam ser excluídos das negociações."


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