Sob pressão de seus principais contribuintes, a Organização Mundial da Saúde (OMS), envolvida num escândalo de abuso sexual por alguns de seus trabalhadores na República Democrática do Congo (RDC), prometeu "tolerância zero" e está preparando um plano de ação.
"A OMS destinará um montante inicial de 7,6 milhões de dólares para reforçar imediatamente sua capacidade de prevenir, detectar e responder à exploração e agressões sexuais em dez países com um perfil de maior risco", explicou a agência da ONU à AFP.
Para isso, a OMS contratará especialistas no tema e os enviará ao Afeganistão, Venezuela, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Etiópia, Nigéria, Somália, Sudão do Sul e Iêmen.
Uma comissão de inquérito independente publicou em 28 de setembro um relatório devastador para a organização. O documento denunciava que 21 trabalhadores da OMS cometeram agressões sexuais contra dezenas de pessoas na RDC durante a epidemia de ebola entre 2018 e 2020.
Após a revelação dos abusos, várias dezenas de países, incluindo os Estados Unidos e alguns Estados da União Europeia, exigiram um "compromisso total" da OMS contra essas agressões num comunicado conjunto.
O chefe da agência, Tedros Adhanom Ghebreyesus, revelou o plano de ação aos membros da OMS na quinta-feira.
A apresentação do documento final ocorrerá "nos próximos dias", contou uma fonte da OMS à AFP.
O relatório que revelou os abusos denunciou "falhas estruturais" e "negligências individuais". Assim, o plano "apresenta ações imediatas, de médio e longo prazo, para resolver as falhas identificadas"”, disse a OMS.
Especialista enviado à RDC
O documento da organização enfatiza vários aspectos para "melhorar a prevenção para as vítimas" e "aumentar as responsabilidades individuais e de gestão".
Também visa "reformar a cultura da OMS, suas estruturas e seus sistemas para criar uma cultura interna na qual a exploração e a agressão sexual não possam ocorrer, na qual não haja impunidade e exista tolerância zero para a inação".
Segundo as primeiras estimativas, a entidade deve investir 15 milhões de dólares anuais para implementar o plano.
Após a publicação do polêmico relatório, a OMS rescindiu os contratos de quatro de seus 21 funcionários diretamente envolvidos. Também suspendeu os de dois altos cargos.
Diante da nova epidemia de ebola que afeta o leste da RDC, "enviamos um especialista em prevenção de agressões sexuais entre a equipe de 15 pessoas destacadas em Beni", afirmou a agência da ONU nesta sexta-feira.