David MacMillan, professor da Universidade de Princeton, foi contemplado nesta quarta-feira (6) com o Prêmio Nobel de Química por seu trabalho no desenvolvimento de uma nova ferramenta para aumentar as reações químicas de forma respeitosa com o meio ambiente, conhecido como "organocatálise".
De Nova Jersey, onde trabalha e reside, o escocês com dupla nacionalidade britânico-americana, concedeu entrevista à AFP poucas horas após o anúncio.
Moléculas orgânicas
P: Por que a organocatálise é tão diferente e importante em comparação aos catalisadores anteriores, como os metais e as enzimas?
R: As reações químicas produzem todas as coisas que nos cercam: medicamentos, materiais, etc. E essas reações frequentemente requerem "catálise".
Para fazer a catálise, o mundo usou muitas coisas que eram tóxicas ou provocavam problemas ao meio ambiente.
Há 23 anos, pensamos: "o que aconteceria se você pudesse usar os mesmos tipos de moléculas que encontra no seu corpo?" Em outras palavras, moléculas orgânicas porque sabemos que estão bem no meio ambiente e estão felizes de estar em nossa atmosfera.
Eureca
P: Pode lembrar de um momento eureca específico?
R: Estava de pé em frente a um quadro negro com um estudante, mostrando-lhe uma reação. De repente, tive essa ideia de como poderíamos tomar tudo isso de uma forma muito diferente, usando estas moléculas orgânicas. Este foi o primeiro momento eureca.
O segundo foi quando outro estudante tentou a reação de fato e ela funcionou. Foi uma sensação fantástica neste momento, assim como me sinto agora.
Quando o publicamos, divulgou-se loucamente e entrou rapidamente na comunidade. As pessoas começaram a adotá-lo muito rapidamente, o que também foi muito emocionante.
Metais trabalhados
P: Por que as moléculas orgânicas foram desconsideradas como ferramentas para construir moléculas no passado?
R: É uma grande pergunta. Acho que é porque quando a gente tentou usar metais pela primeira vez, funcionou. E como muitas coisas na vida, quando algo funciona, a gente vai nessa direção.
"O mundo é um lugar muito grande"
P: As aplicações da sua descoberta são abundantes, mas há alguma da qual se sinta mais orgulhoso?
R: As pessoas a usam para fabricar estes medicamentos em uma escala muito, muito grande porque o mundo é um lugar muito grande.
Poder usar estes catalisadores para fazer isso e, ao mesmo tempo, ser seguro e bom ambientalmente é parte do que certamente me sinto mais orgulhoso.
Usando a luz para romper átomos
P: Atualmente, o senhor é líder em "catálise fotoredox", que usa a luz para romper e voltar a unir elos atômicos, um elétron por vez. Como se sente sobre isso?
R: Este trabalho agora também é muito usado por pessoas que fabricam medicamentos e outros materiais.
Acabamos de começar a levar isso para a biologia e acreditamos que podemos começar a ter novos conhecimentos que serão realmente importantes para desenvolver novos medicamentos.
Licenciatura em Glasgow
P: Até onde remonta seu amor pela química?
R: A quando era estudante na Universidade de Glasgow e pela primeira vez fiz uma molécula, e o professor com quem trabalhava me disse que ninguém no mundo tinha feito essa molécula antes.
Era muito jovem. Mal sabia o que estava fazendo e já tinha feito uma molécula. E acho que tenho sorte de poder trabalhar com jovens todos os dias que têm ao menos esse nível de entusiasmo.
Coganhadores
P: Conhece Benjamin List, coganhador do Nobel juntamente com o senhor?
R: Publicamos nossos artigos em separado, aproximadamente ao mesmo tempo, mas nos conhecemos desde sempre.
Ele foi a pessoa que me enviou uma mensagem de texto às 5h30 desta manhã para me contar sobre o prêmio e de fato pensei que fosse uma brincadeira. Disse-lhe: "É só uma brincadeira, as pessoas estão brincando" e voltei a dormir.
Cerca de 20 minutos depois, meu telefone começou a tocar. Fui ver a capa do The New York Times e lá estava a minha foto.
Estou incrivelmente feliz, mas ao mesmo tempo ainda estou tentando entender o que está acontecendo. Tudo é um turbilhão.