CIÊNCIA

Rainha Elizabeth II crítica líderes que falam sobre mudança climática, mas não agem

A COP15, que ocorreu nesta última semana na China, tem a meta de anunciar um marco de proteção mundial para preservar os ecossistemas, fundamentais para ter água potável, ar limpo, alimento e matérias-primas até 2030

Correio Braziliense
postado em 16/10/2021 06:00
Sem perceber que estava próxima a um equipamento com o microfone aberto, a rainha Elizabeth II expressou sua irritação com os líderes mundiais que
Sem perceber que estava próxima a um equipamento com o microfone aberto, a rainha Elizabeth II expressou sua irritação com os líderes mundiais que "falam" sobre mudança climática, "mas não agem" - (crédito: Chris Jackson/AFP)

Depois de uma semana de negociações, a conferência da ONU sobre biodiversidade (COP15) concluiu a primeira etapa, com o compromisso da China, o país anfitrião, de fazer o possível para alcançar um acordo que melhore a proteção da natureza e permita um maior financiamento em ações de conservação e mitigação. “A comunidade internacional espera que a COP15 seja uma etapa-chave para inverter a perda de biodiversidade, como foi a reunião de Paris (em 2015) para a mudança climática”, disse o ministro chinês do Meio Ambiente, Huang Runqiu, durante a entrevista coletiva de encerramento em Kunming, no sudeste do país.

A COP15 tem a meta de anunciar um marco de proteção mundial para preservar os ecossistemas, fundamentais para ter água potável, ar limpo, alimento e matérias-primas até 2030, além de conseguir “viver em harmonia com a natureza em 2050”, segundo a ONU. Na quarta-feira, a conferência adotou a Declaração de Kunming, texto promovido pela China que defende ideias como a “civilização ecológica”. Em parte, o texto retoma os objetivos que os 196 países-membros da Convenção sobre a Biodiversidade (CDB) negociarão em janeiro, em Genebra, na introdução da segunda parte da conferência. A declaração reflete o objetivo de proteger 30% do planeta até 2030, mas sem especificar se Pequim a apoia.

“A liderança do país anfitrião é essencial para um resultado frutífero, define o nível de ambição necessário para resolver a crise da biodiversidade e soma alianças necessárias para esse objetivo”, declarou Lin Li, da organização não governamental WWF. Segundo Julien Rochette, do centro francês IDDRI, essa declaração permite “retomar o impulso político que gostaríamos de ver traduzido no texto das negociações”. O ministro de Meio Ambiente da China se comprometeu a fazer todo o possível para “alcançar o maior nível de consenso” nas negociações e a conseguir ‘um funcionamento harmonioso”.

Financiamento

Também foram apresentados programas para financiar a proteção da biodiversidade. A China anunciou um fundo destinado aos países em desenvolvimento de US$ 233 milhões. O Japão prometeu injetar quase US$16 milhões. A Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) calcula as necessidades econômicas para proteger a biodiversidade entre US$ 722 bilhões e US$ 967 bilhões até 2030, mas destaca que apenas de US$ 124 bilhões a US$ 143 bilhões são dedicados ao tema. E outros US$ 500 bilhões servem a subsídios que prejudicam a natureza, como setores econômicos que ameaçam a biodiversidade.

Os anúncios constituem um “começo tímido”, considera Li Shuo, do Greenpeace, que pede transparência nos fundos chineses: “Como isso será administrado, como completará os instrumentos financeiros que já existem e durante quanto tempo”, lista. Para alguns países, o Fundo para o Meio Ambiente Mundial (FEM) é a ferramenta mais apropriada para financiar as ações a favor da biodiversidade.

A primeira etapa da COP15 aconteceu, em boa parte, por videoconferência. Quase 2,9 mil delegados da conferência se reuniram presencialmente, enquanto outros 2,5 mil (incluindo alguns chefes de Estado) a acompanharam de maneira virtual. O formato foi adotado devido à pandemia da covid. A segunda parte da conferência da biodiversidade deve acontecer em 2022, e as autoridades esperam um evento presencial.

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Rainha critica quem "fala, mas não age"

Sem perceber que estava próxima a um equipamento com o microfone aberto, a rainha Elizabeth II expressou sua irritação com os líderes mundiais que “falam” sobre mudança climática, “mas não agem”, em uma conversa privada sobre a COP26 captada durante evento oficial e divulgada ontem pela imprensa britânica. A conferência climática começa no mês que vem, em Glasgow, na Escócia.

Depois de inaugurar a nova sessão legislativa do Parlamento regional de Gales, em Cardiff, na quinta-feira, a monarca, de 95 anos, conversava com Camilla, a esposa de seu filho Charles, e com Elis Jones, presidente da Câmara galesa. E o microfone de uma câmera de televisão captou sua fala: “Estou acompanhando tudo sobre a COP” e “ainda não sei quem vem” à conferência da ONU sobre mudança climática.

“Sabemos apenas quem não vem... É realmente irritante quando falam, mas não agem”, acrescentou a rainha. Entre os líderes que ainda não confirmaram presença estão o presidente chinês, Xi Jinping, o presidente russo, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. O presidente brasileiro Jair Bolsonaro também não sinalizou se participará do evento.

A família real britânica tem se pronunciado sobre questões climáticas. O príncipe Charles, 72 anos, um ambientalista de longa data, pediu, nesta semana, aos líderes mundiais para “porem mãos à obra”. E, na quinta-feira, William, neto da monarca e segundo na linha de sucessão ao trono britânico, pediu mais do que “palavras”. Também criticou a corrida pelo turismo espacial. Ele pediu que “algumas das mentes e dos cérebros mais brilhantes do mundo se concentrem, antes de mais nada, em tentar consertar este planeta, não tentar encontrar outro lugar para viver”. A presidente do Parlamento galês falou com a rainha sobre esse raro ataque frontal do príncipe William, que gerou muitas reações. “Sim, eu li”, respondeu a rainha Elizabeth II, com um sorriso.

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