A pouco mais de duas semanas da abertura da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente da COP 26, Alok Sharma, pediu aos líderes mundiais que evitem o fracasso do evento, que acontecerá em Glasgow, na Escócia, ao alertar que ainda é preciso fazer avanços em alguns pontos-chave.
“É preciso honrar as promessas feitas em Paris há seis anos e, em última instância, isso recai sobre os líderes mundiais”, declarou, em pronunciamento, durante a visita que fez à sede da Unesco, em Paris.
“O sucesso ou o fracasso da COP 26 está em suas mãos, assim como o futuro do Acordo de Paris”, afirmou. O documento, elaborado em 2015 na capital francesa, busca limitar o aumento da temperatura em 1,5 ºC, em relação à era pré-industrial. “Se não agirmos imediatamente, não poderemos respeitar o limite. Essa é a promessa de Paris e deve ser mantida em Glasgow.”
Segundo o britânico, embora tenham sido feitos alguns avanços, quatro pontos cruciais ainda precisam sair do papel: a redução das emissões, a adaptação aos efeitos da mudança climática, o financiamento aos países mais pobres e a cooperação internacional.
Mais de 120 dirigentes mundiais confirmaram presença em Glasgow, durante a cúpula de abertura da COP 26 em 1º e 2 de novembro, assinalou o presidente da conferência. As tensões entre Estados Unidos e China aumentam a preocupação sobre o progresso das negociações climáticas (leia mais nesta página). Sharma frisou que a reunião do G20, em 30 e 31 de outubro, em Roma, às vésperas da COP 26, será uma ocasião para avançar. “As mensagens que o evento deixará sobre a luta contra a mudança climática serão de vital importância.”
Ainda mais quando países como China e Índia, que são grandes emissores dos gases do efeito estufa, não entregaram suas contribuições determinadas em nível nacional das futuras reduções de emissões (NDC), como prevê o Acordo de Paris. “Espero que, nos 19 dias que restam (para a COP), vejamos novas NDCs, incluídas as do G20, que não apresentaram novas contribuições mais ambiciosas”, disse. “A COP não serve para posar para fotografias, não é um fórum de discussões. Deve ser o lugar onde se coloque o mundo no rumo certo em matéria climática, e isso cabe aos líderes. Creio que eles entendem a responsabilidade que têm pela frente.”
Biodiversidade
Na conferência da ONU sobre biodiversidade, que começou na segunda-feira e encerra na sexta-feira, a COP 15, a China anunciou a criação de um novo fundo para proteger a diversidade biológica nos países em desenvolvimento, dotado de US$ 233 milhões. O país é o anfitrião do evento, que acontece virtualmente agora e volta a reunir líderes e formuladores de políticas públicas em abril e maio, na cidade de Kunming. “A China convida (...) todas as partes a contribuírem para o fundo”, disse o presidente chinês, Xi Jinping.
Com uma sessão intermediária em Genebra, em janeiro, a COP 15 pretende estabelecer um novo marco para a proteção da natureza, prejudicada pelas atividades humanas, até 2050, com uma primeira etapa em 2030.“Estamos perdendo nossa guerra suicida contra a natureza”, alertou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Ele advertiu que o colapso dos ecossistemas pode custar quase US$ 3 trilhões por ano até 2030, impactando principalmente os países pobres. “A COP 15 é a nossa chance de um cessar-fogo, com a COP 26 sobre o clima”, acrescentou.
A questão do financiamento é um dos principais pontos de conflito, com os países em desenvolvimento pedindo aos países desenvolvidos que paguem por sua transição. O texto em negociação na COP15 prevê reorientar e eliminar subsídios ambientalmente prejudiciais de pelo menos US$ 500 bilhões por ano e aumentar os recursos financeiros, de todas as fontes, para pelo menos US$ 200 bilhões por ano. Para alguns países, o Fundo Global para o Meio Ambiente (EGF) é a ferramenta adequada para financiar ações em favor da biodiversidade.
“Todas as fontes, especialmente aquelas provenientes de fundos existentes, como o Fundo Global para o Meio Ambiente, mas também fundos climáticos, devem, portanto, ser mobilizadas para proteger, administrar de forma sustentável e restaurar a biodiversidade”, defendeu o presidente francês Emmanuel Macron. A França se comprometeu a dedicar 30% de seu financiamento climático internacional à biodiversidade.
EUA e China: rivalidade no centro do debate
A crise climática ganha impulso global, mas será impossível agir sem dois países, China e Estados Unidos, que, juntos, respondem por mais da metade das emissões mundiais e cujos governos não se dão bem. Na véspera da cúpula COP 26, em Glasgow, especialistas acreditam que a cooperação entre as duas nações pode ser o catalisador para um acordo histórico sobre a mudança climática.Também estimam que sua relação glacial não é necessariamente um obstáculo intransponível, já que a competição entre Washington e Pequim pode impulsionar o combate ao aquecimento global.
Ambas as nações intensificaram os esforços para conter as emissões, embora analistas digam que essas ações têm sido muito modestas para que a meta da ONU de manter o aumento da temperatura do planeta em 1,5 °C seja atingida, para evitar os piores efeitos da mudança climática.
“Se os governos da China e dos Estados Unidos não conseguirem chegar a um acordo sobre algo substancial, acho que ainda pode haver espaço para uma ação séria, porque os dois países são capazes e estão dispostos a fazer muito por conta própria”, diz Mary Nichols, que liderou importantes iniciativas climáticas como presidente do Conselho de Recursos do Ar da Califórnia. “Mas isso não significa que seja irrelevante. Sem um acordo explícito, outros países relutariam em agir.”
Competição
O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, descreveu Pequim como o principal desafio de longo prazo de seu país e o pressiona em questões que vão dos direitos humanos ao comércio, mas busca um compromisso com o clima. “Não é um mistério que a China e os Estados Unidos têm muitas diferenças. Mas, em termos de clima, a cooperação é a única maneira de nos libertar do atual pacto de suicídio coletivo”, disse John Kerry, o enviado dos Estados Unidos para o Clima, em um discurso recente. Ele visitou a nação asiática duas vezes, apesar do esfriamento das relações.
Alex Wang, codiretor do corpo docente do Instituto Emmett sobre Mudança Climática e Meio Ambiente da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, estima que a China e os Estados Unidos poderiam se engajar em uma corrida para ver quem faz mais pelo planeta. “Se os líderes da China sentirem que estão ficando para trás, acho que isso criaria alguma pressão para agir e teriam um motivo para ignorar as vozes das indústrias de combustível fóssil ou carvão em seu país.”
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EUA e China: rivalidade no centro do debate
A crise climática ganha impulso global, mas será impossível agir sem dois países, China e Estados Unidos, que, juntos, respondem por mais da metade das emissões mundiais e cujos governos não se dão bem. Na véspera da cúpula COP 26, em Glasgow, especialistas acreditam que a cooperação entre as duas nações pode ser o catalisador para um acordo histórico sobre a mudança climática.Também estimam que sua relação glacial não é necessariamente um obstáculo intransponível, já que a competição entre Washington e Pequim pode impulsionar o combate ao aquecimento global.
Ambas as nações intensificaram os esforços para conter as emissões, embora analistas digam que essas ações têm sido muito modestas para que a meta da ONU de manter o aumento da temperatura do planeta em 1,5 °C seja atingida, para evitar os piores efeitos da mudança climática.“Se os governos da China e dos Estados Unidos não conseguirem chegar a um acordo sobre algo substancial, acho que ainda pode haver espaço para uma ação séria, porque os dois países são capazes e estão dispostos a fazer muito por conta própria”, diz Mary Nichols, que liderou importantes iniciativas climáticas como presidente do Conselho de Recursos do Ar da Califórnia. “Mas isso não significa que seja irrelevante. Sem um acordo explícito, outros países relutariam em agir.”
Competição
O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, descreveu Pequim como o principal desafio de longo prazo de seu país e o pressiona em questões que vão dos direitos humanos ao comércio, mas busca um compromisso com o clima. “Não é um mistério que a China e os Estados Unidos têm muitas diferenças. Mas, em termos de clima, a cooperação é a única maneira de nos libertar do atual pacto de suicídio coletivo”, disse John Kerry, o enviado dos Estados Unidos para o Clima, em um discurso recente. Ele visitou a nação asiática duas vezes, apesar do esfriamento das relações.
Alex Wang, codiretor do corpo docente do Instituto Emmett sobre Mudança Climática e Meio Ambiente da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, estima que a China e os Estados Unidos poderiam se engajar em uma corrida para ver quem faz mais pelo planeta. “Se os líderes da China sentirem que estão ficando para trás, acho que isso criaria alguma pressão para agir e teriam um motivo para ignorar as vozes das indústrias de combustível fóssil ou carvão em seu país.”