Resultados preliminares de um estudo com o antiviral molnupiravir indicaram que o medicamento oral reduziu pela metade o risco de hospitalização e evitou mortes em pacientes com covid-19. A MSD (Merck, nos EUA e no Canadá), que desenvolveu a droga com a Ridgeback Biotherapeutics, anunciou, em um comunicado, que pedirá autorização da agência regulatória norte-americana, a Food and Drug Administration (FDA), “o mais rápido possível” para o uso emergencial do tratamento.
Se for autorizado, o fármaco será o primeiro do tipo no mercado para tratar a infecção por Sars-CoV-2. Segundo o laboratório norte-americano, o medicamento atua em todas as variantes do coronavírus. O estudo foi realizado com 775 pessoas com covid-19 de leve a moderada que apresentavam pelo menos um dos fatores de risco para o agravamento do quadro, como diabetes e obesidade.
Os pacientes receberam o tratamento até cinco dias depois do surgimento dos primeiros sintomas da infecção. A taxa de internação ou morte foi de 7,3%, enquanto que, entre os que tomaram um placebo, o índice foi de 14,1%. Além disso, não foram constatados óbitos entre os que receberam molnupiravir. Já no segundo grupo, houve oito mortes.
Principal assessor médico do presidente americano Joe Biden, Anthony Fauci disse a jornalistas que a eficácia do antiviral é “uma notícia muito boa” e que os dados apresentando “são impressionantes”, destacando a ausência de morte entre os que tomaram o fármaco. Muitos especialistas, no entanto, advertiram que gostariam de ver os dados clínicos completos da pesquisa e enfatizaram que, caso seja aprovado, o medicamento não deve substituir as vacinas contra o coronavírus.
Até agora, as terapias anticovid, como os anticorpos monoclonais e o remdesivir, do laboratório americano Gilead, são administradas por via intravenosa, o que dificulta o uso generalizado. Para Peter Horby, professor especializado em doenças infecciosas emergentes da Universidade de Oxford, “um antiviral oral seguro, acessível e eficaz seria um grande avanço”. “O molnupiravir parecia promissor no laboratório, mas o verdadeiro teste era ver se trazia algum benefício para os pacientes. Muitos medicamentos falham nesse ponto. Por isso, esses resultados provisórios são muito encorajadores”, disse o especialista.
Os antivirais atuam evitando que o vírus se replique e podem ser usados em duas situações: para permitir que as pessoas que já sofrem da doença não evoluam para o quadro grave e para evitar que os que tiveram contato próximo com o vírus não desenvolvam a doença. O tratamento com comprimidos por via oral, de fácil administração, é aguardado com grande expectativa e visto como uma forma eficaz de combater a pandemia. Contudo, os antivirais, de forma geral, não têm apresentado resultados convincentes contra a covid-19.
Como o vírus continua circulando e a maioria das soluções disponíveis requer uma visita a um centro de saúde, “tratamentos antivirais que possam ser administrados em casa para manter as pessoas infectadas com covid-19 fora dos hospitais são absolutamente necessários”, afirmou Wendy Holman, executiva do laboratório Ridgeback Biotherapeutics. “O problema de antivirais como o molnupiravir é que eles devem ser administrados antes que os pacientes sejam considerados doentes o suficiente para necessitarem de algo mais que o tratamento dos sintomas”, comentou Peter English, ex-presidente do Comitê de Medicina de Saúde Pública da Associação Médica Britânica.
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Resistência
Os antivirais contra a gripe e o herpes labial, por exemplo, apenas são efetivos se forem administrados precocemente. “Eles não substituem a vacina. Não é uma cura milagrosa, mas uma ferramenta complementar”, tuitou Peter Hotez, professor da faculdade Baylor College, em Houston (EUA), que também manifestou preocupação para o possível surgimento de algum tipo de resistência se o medicamento for usado de forma ampla e generalizada.
De qualquer maneira, a MSD já iniciou a produção em larga escala do molnupiravir e planeja entregar as doses necessárias para 10 milhões de tratamentos antes do fim deste ano. Os Estados Unidos, por sua vez, já adquiriram 1,7 milhão de tratamentos do medicamento, sob a condição de que o mesmo seja aprovado e com a opção de comprar ainda mais, informou Jeff Zients, coordenador da luta contra a pandemia na Casa Branca.
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Alto investimento
Dado que o mercado para fármacos contra a covid-19 é potencialmente enorme, vários laboratórios estão investindo em pesquisas, como o Atea Pharmaceuticals, também nos EUA, e o suíço Roche, que estão avaliando a eficácia de um tratamento similar, chamado de AT-527. Já a Pfizer, que desenvolveu uma das vacinas mais utilizadas contra o novo coronavírus, anunciou, na segunda-feira, que estava iniciando os testes clínicos em grande escala do seu antiviral.