Especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendaram o uso conjunto de dois anticorpos monoclonais para tratar pacientes com covid-19 que têm alto risco de internação hospitalar. A orientação foi divulgada em um guia de cuidados médicos criado pela instituição e também na edição de ontem da revista científica British Medical Journal (BMJ). Os pesquisadores passaram a defender a terapia à base dos anticorpos criados em laboratório após analisarem pesquisas clínicas que mostram resultados positivos das drogas casirivimabe e imdevimabe em infectados pelo novo coronavírus.
A recomendação foi feita pelo Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes (GDG), uma iniciativa da OMS para fornecer orientações atualizadas e confiáveis sobre tratamentos da covid-19. Os autores indicam o uso dos medicamentos para dois perfis de pacientes: aqueles com covid não grave, mas que estão em maior risco de hospitalização e indivíduos com covid-19 grave ou crítica que são soronegativos. “Isso significa que eles não apresentam uma resposta de anticorpos à doença”, explicou a equipe durante um painel de entrevistas promovido pelo BMJ.
Segundo o grupo, a orientação é baseada em novas evidências de três estudos que ainda não foram avaliados por especialistas (pares), mas mostram sinais significativos de que o casirivimabe e o imdevimabe reduzem o risco de hospitalização e a duração dos sintomas em pessoas com maior risco de ter covid grave, como não vacinados, idosos ou pacientes imunossuprimidos.
Os dados do estudo Recovery, outra iniciativa da OMS voltada para o enfrentamento à covid-19, também foram considerados na decisão. Nesse caso, o casirivimabe e o imdevimabe reduziram a mortalidade em 49% dos pacientes soronegativos e em 69% nos casos graves da doença. “Para todos os outros pacientes com covid-19, é improvável que quaisquer benefícios desse tratamento com anticorpos sejam significativos”, destaca a equipe do GDG.
Alto custo
Usadas conjuntamente, as duas drogas conseguem se ligar à proteína spike do Sars-CoV-2, neutralizando a capacidade do vírus causador da covid-19 de infectar as células humanas. Os especialistas da OMS também reconheceram alguns obstáculos que podem atrapalhar o uso dos dois medicamentos, como alto custo, que pode limitar a adoção da abordagem em países de baixa e média renda. Há ainda o risco de que os anticorpos produzidos em laboratório tenham o efeito reduzido em possíveis novas variantes do coronavírus.
No guia, os especialistas reforçam recomendações anteriores da OMS para o tratamento da covid-19, como o uso de bloqueadores da interleucina-6, uma proteína envolvida na resposta inflamatória do corpo, e de corticosteroides para pacientes com quadro grave da doença. A equipe se posiciona ainda contra o uso de ivermectina e hidroxicloroquina independentemente da gravidade da infecção.