A descoberta de pegadas antigas às margens de um lago no sudoeste dos Estados Unidos sugere que os humanos ocuparam a América do Norte entre 23 e 21 mil anos atrás, antes do fim da Era do Gelo. Os dados foram apresentados em um estudo publicado na última edição da revista Science e são decisivos para o debate sobre como o Homo Sapiens chegou a esse continente, o último povoado por essa espécie.
As pegadas foram deixadas às margens de um lago atualmente seco e onde há um deserto no Novo México, dentro do Parque Nacional White Sands. Com o tempo, os sedimentos cobriram as pegadas e as protegeram, até que a erosão voltou a deixá-las expostas. “Muitas pegadas parecem ser de adolescentes e crianças. As maiores, de adultos, são menos frequentes”, relatam os autores no artigo, que foram liderados por Matthew Bennett, pesquisador da Universidade de Bournemouth, no Reino Unido.
Também foram identificadas pegadas de animais: mamutes e lobos pré-históricos. Após análises minuciosas, os cientistas conseguiram estabelecer a idade dos rastros. Segundo eles, as descobertas de White Sands “indicam que os humanos estavam presentes na paisagem pelo menos há 23 mil anos”, o que muda teorias anteriores.
Antes de Bering
Durante décadas, a tese mais aceita foi a de que um grupo de viajantes proveniente da Sibéria tinha cruzado uma ponte terrestre, no atual estreito de Bering (região marítima que separa os continentes asiático e americano), para chegar ao Alasca e, logo, se espalhar para o sul. Mas esse episódio teria ocorrido em um período mais recente, de no máximo 13 mil anos atrás.
O novo estudo revela, ainda, que o período ao qual as pegadas antigas remetem foi provavelmente marcado por derretimentos de calotas polares, o que pode ter dificultado muito a migração humana, mas não impediu as viagens. “Esses dados indicam que os humanos estavam presentes no sul da América do Norte antes que os avanços glaciais impedissem a migração humana da Ásia”, enfatizam os autores.