Uma terapia conduzida pelos pais que estimula o desenvolvimento social de bebês com sinais precoces de autismo reduziu significativamente a probabilidade de um diagnóstico da síndrome na primeira infância. O resultado é de um estudo mundial liderado pelo Instituto Telethon Kids e pela Universidade da Austrália publicado na revista Jama Pediatrics, da Associação Médica Norte-Americana.
A equipe de pesquisadores, liderada por Andrew Whitehouse, descobriu que o diagnóstico clínico de autismo aos 3 anos foi 75% menor nas crianças que receberam a terapia preventiva (iBasis-Vipp), em comparação com aquelas submetidas à abordagem usual. Segundo os cientistas, essas descobertas foram as primeiras evidências em todo o mundo de que uma intervenção preventiva durante a primeira infância pode levar a uma melhora significativa no desenvolvimento social das crianças com diagnóstico de autismo.
“O uso do iBasis-Vipp resultou em três vezes menos diagnósticos de autismo aos 3 anos”, disse Whitehouse, em uma coletiva de imprensa on-line. “Nenhum teste de intervenção preventiva em bebês aplicado antes do diagnóstico mostrou até agora esse efeito.” O transtorno do espectro autista é uma síndrome caracterizada por problemas na socialização, no comportamento e na comunicação, diagnosticada, geralmente, entre os 2 e 3 anos. Porém, antes disso é possível, para especialistas, identificar bebês com sinais precoces.
De acordo com Whitehouse, muitas terapias para o autismo tentaram substituir as diferenças de desenvolvimento por comportamentos mais “típicos”. O iBasis-Vipp, por sua vez, procura trabalhar com as diferenças únicas de cada criança e criar um ambiente social que a ajude a aprender da maneira que seja melhor para ela. “A terapia usa feedback por vídeo para ajudar os pais a compreender e apreciar as habilidades únicas de seu bebê e a usar essas qualidades como base para o desenvolvimento futuro”, explica. “Ao fazer isso, essa terapia foi capaz de estimular o envolvimento social e outros comportamentos relacionados ao autismo, como características sensoriais e repetitividade, a ponto de, posteriormente, esses bebês serem menos prováveis de atender aos critérios de diagnóstico de autismo.”
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Novo paradigma
O ensaio clínico randomizado envolveu bebês de 9 a 14 meses para investigar os impactos do iBasis-Vipp. Todas as crianças mostraram sinais comportamentais precoces de autismo. Ao longo de um período de cinco meses, metade recebeu a intervenção por vídeo, enquanto um grupo de controle recebeu o tratamento das melhores práticas atuais.
Oitenta e nove crianças completaram uma avaliação no início do estudo, no fim do período de terapia e quando tinham de 2 a 3 anos. “O autismo não é tipicamente diagnosticado até os 3 anos; no entanto, as intervenções iniciadas durante os primeiros dois anos de vida, quando os primeiros sinais de diferença de desenvolvimento são observados e o cérebro está se desenvolvendo rapidamente, podem levar a um impacto ainda maior nos resultados de desenvolvimento posterior.”
“No campo do autismo, já sabemos que é muito importante intervir o mais cedo possível quando o diagnóstico for identificado. Esse estudo, entretanto, representa uma mudança de paradigma que defende de uma maneira muito rigorosa a intervenção antes de o transtorno ter se desenvolvido”, explica Marie Schaer, professora da Faculdade de Psiquiatria da Universidade de Genebra e diretora de uma clínica especializada em autismo da instituição.
Segundo a especialista, há uma pressão sobre médicos e familiares para se obter um diagnóstico da síndrome o mais cedo possível devido ao reconhecimento de que se deve intervir o quanto antes com terapias comportamentais adaptadas. “No estudo, os autores fornecem evidências científicas robustas de que não devemos esperar até que um diagnóstico de autismo possa ser feito, e que devemos intervir ainda mais cedo, antes que todos os sinais sejam evidentes.”
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