Saúde

Agosto Dourado: quais principais problemas que podem ocorrer na amamentação?

A amamentação é muito ansiada pelas mães, mas pode não corresponder às expectativas, já que os percalços do processo podem ser vários

Victória Olímpio
postado em 28/08/2021 06:00
 (crédito: Jenifer Mayla Dias/Material cedido ao Correio)
(crédito: Jenifer Mayla Dias/Material cedido ao Correio)

Estamos passando pelo Agosto Dourado: o oitavo mês do ano simboliza a luta pelo incentivo à amamentação, com a cor que representa o padrão ouro de qualidade que o leite materno detém. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de seis milhões de vidas são salvas todo ano devido ao aumento das taxas de amamentação até o sexto mês de vida do bebê. Ainda assim, não são raros os casos de mulheres que têm que enfrentar uma série de problemas para amamentar.

Segundo a enfermeira Ana Gabriella Santos, a falta de orientação ou a informação incorreta podem causar lesões tanto psicológicas, quanto físicas. Entre as mais comuns temos a fissura mamilar, que geralmente ocorre pela pega ou posicionamento incorretos do bebê; e a mastite, inflamação nos seios causadas por obstrução dos ductos mamários ou pelo acúmulo de leite nas mamas.

A especialista explica que a amamentação é muito ansiada pelas mães, mas pode não corresponder às expectativas, já que os percalços do processo podem ser vários. "Muitas mulheres idealizam esse momento e esperam ansiosas. Quando ocorrem dificuldades para amamentar, isso pode causar sentimento de frustração, culpa, ansiedade e tristeza na mãe e problemas na própria amamentação, levando à danos psicológicos, dúvidas quanto a sua capacidade de ser mãe, estresse e prejuízos na formação de vínculo com o bebê".

Dificuldades da prática

Para a estudante Jenifer Mayla Dias, que teve seu primeiro bebê aos 22 anos, o sonho de ter um filho e poder desfrutar do momento de amamentação não foi como o esperado. Segundo ela, assim que descobriu a gravidez, decidiu buscar informações sobre o assunto, já que costumava ouvir relatos sobre complicações no aleitamento.

"Meu bebê nasceu em julho de 2020, tive que fazer uma cesária após algumas complicações no parto, e meu leite demorou um pouco a descer. Assim que nasceu, meu filho tomava leite no copinho doado pelo hospital. Durante a madrugada, eu tentei muitas vezes amamentá-lo, mas sem sucesso, não conseguia fazer com que ele fizesse a sucção", explicou.

A jovem procurou ajuda de uma consultora de amamentação, mas ainda assim não conseguiu que o bebê mamasse, fazendo com que seus seios se enchessem de leite sem esvaziar, o que resultou em mastite. "Meu bebê sugava o leite uma, duas vezes e logo parava. Com isso meu seio enchia de leite, e não esvaziava, então tive a tão dolorosa mastite, e meu filho começou a perder muito peso".

Jenifer disse que pesquisou muito sobre o assunto antes do nascimento: "Sabia como fazer a massagem para tirar o leite empedrado do seio. Tive alta infelizmente sem conseguir amamentar meu filho, mas ainda em casa tentei por várias vezes amamentar, mas não consegui".

A busca por ajuda

A enfermeira explica que a principal forma de ajudar é se informar com profissionais de confiança e que tenham o mesmo objetivo que a mãe: insistir na amamentação. "Obter informações e apoio de um profissional durante o pré-natal ajuda bastante a mulher a passar pelas possíveis dificuldades que podem surgir durante a amamentação. Além disso, a pega e o posicionamento correto já reduzem a maioria dos problemas. Nos casos em que não resolvem, até a mulher receber ajuda de um profissional, é importante não oferecer outros bicos artificiais (mamadeira/chupeta) para evitar o desmame precoce, então o copinho é a melhor escolha", explicou.

"O leite pode ser ordenhado manualmente pela própria mulher (sem necessidade de bombas de extração, pois estas também podem causar lesões e bastante incômodo) e ofertado ao bebê através do copinho. A sonda também pode ser utilizada em um processo que chamamos de translactação, onde uma ponta da sonda é colocada em um recipiente com leite materno e a outra ponta é posicionada na boca do bebê junto ao mamilo da mãe. Desta forma, quando o bebê realizar a sucção o leite será ofertado pela sonda e, ao mesmo tempo, a sucção estimulará a produção de leite no seio", continuou Ana Gabriella.

A solução que a estudante conseguiu para alimentar o bebê foi a bombinha de leite: "Servia na mamadeira para ele, junto com o complemento, pois eu sabia que a sucção da bombinha não é a mesma que o bebê faz, então não saia tanto leite para suprir a necessidade dele. Tirando o leite na bombinha eu percebi que, se meu seio não estivesse tão cheio, seria mais fácil para meu bebê fazer a pega e conseguir fazer a sucção, mas infelizmente quando percebi isso já era tarde, meu bebê já tinha acostumado com o bico da mamadeira e não quis mais o seio".

Durante um mês, ela conseguiu manter esse processo, até que o leite foi secando, fazendo com que o bebê precisasse se manter com leite de fórmula. "Foi muito frustrante para mim, porque amamentar era uma das coisas que eu mais almejava na maternidade, até antes mesmo de engravidar já era uma coisa que eu queria muito, e infelizmente não consegui".

E se não der certo, quais soluções buscar?

A enfermeira indica que, caso os métodos não sejam eficazes, ir ao banco de leite é o mais recomendado para as mães: "Caso esses métodos não funcionem, a mulher deve buscar o banco de leite mais próximo e solicitar ajuda de um profissional. Os bancos de leite contam com equipes especializadas na consultoria e orientação relacionada à amamentação. É muito importante que se insista na amamentação tendo em vista os inúmeros benefícios para mãe e para o bebê".

"Quando o bebê nasce, o sistema digestivo dele ainda não está completamente maduro. Por isso, o leite materno possui uma composição ideal para oferecer todos os nutrientes necessários ao recém-nascido sem 'agredir' o trato gastrointestinal. Por outro lado, as fórmulas lácteas, por mais 'especializadas' que sejam, não possuem a mesma composição do leite materno produzido exclusivamente para aquele ser. Sendo assim, se a amamentação é interrompida e são ofertadas fórmulas lácteas ao bebê, o sistema digestório dele pode reagir de diversas formas como, por exemplo, desenvolvendo cólicas, gases, diarreias, alergias alimentares, alterações imunológicas, nutrição inadequada (ou seja, o bebê ganha peso, mas não está nutrido), dentre outras reações a longo prazo", finalizou.

Problemas e soluções

Mastite: inflamações do tecido mamário, que em geral, são acompanhadas de infecções, causando dores, aumento da temperatura local e vermelhidão na pele. A amamentação adequada, com boa orientação, pega correta do bebê ajudam na diminuição das fissuras, prevenindo a mastite.

Candidíase: a infecção fúngica pode atingir o mamilo, aréola e os ductos lactíferos. Os fatores são mamilos lesionados mantidos úmidos e abafados por utilização de absorventes, conchas, protetores de silicone e uso de medicamentos, como antibióticos. Pode ser tratado com a higienização das mãos, evitar o uso de acessórios de amamentação, manter os seios arejados e trocar de sutiã diariamente.

Obstrução dos ductos lactíferos: ocorre quando o leite produzido não flui de maneira adequada, podendo levar a formação de nódulos e pontos esbranquiçados no mamilo. É causado muitas vezes por inadequado esvaziamento das mamas, produção exacerbada de leite ou compressão externa da mama pelo uso de sutiãs apertados. Algumas das soluções são mamadas frequentes, realizar compressas mornas e massagens antes das mamadas.

Ingurgitamento mamário: surge em decorrência da retenção e acúmulo de leite nas mamas, causando dor e mamilos achatados, dificultando a pega do bebê e o leite não flui com facilidade. Algumas soluções podem ser massagens nas mamas antes da amamentação, ordenha areolar ou ordenha das mamas.

Galactocele: formação cística nos ductos mamários fazendo com que o leite adquira um aspecto viscoso. Pode ser causada por um bloqueio de ducto lactífero. Para o tratamento é necessário realizar aspiração, mas a depender da frequência, a formação cística pode ser extraída cirurgicamente, já que nesse caso, o cisto enche novamente mesmo após a aspiração.

Fenômeno de Raynaud: isquemia intermitente causada por vasoespasmo, ocorrendo principalmente depois das mamadas, pois, em geral, o ar é mais frio do que a boca da criança. Pode gerar dor ou sensação de queimação enquanto o mamilo está pálido. Compressas mornas podem aliviar a dor.

Infecção mamilar por Staphylococcus aureus: bactérias que 'habitam' na pele, como o Staphylococcus aureus, que é quando entra no tecido mamário por rachaduras em torno do mamilo, durante a amamentação. Causam inchaços, dor, febre e vermelhidão. O tratamento pode ser por aspiração ou o uso de antibiótico.

Abcesso mamário: é causado por mastite não tratada ou tratamento tardio ou ineficaz. O não-esvaziamento adequado da mama afetada pela mastite favorece o aparecimento de abscesso. Qualquer medida que previna o aparecimento de mastite também previne o abscesso mamário. O tratamento consiste em esvaziamento por meio de drenagem cirúrgica ou aspiração.

Bico rachado: são causados pelo atrito que o ato de amamentar gera, podendo estar relacionadas a má pega do bebê. Entre as soluções estão: manter os mamilos hidratados; usar sutiãs específicos para amamentação, que possuem forro; antes do bebê mamar, pressionar um pouco cada mamilo até sair um pouco do leite e molhar as auréolas antes de iniciar a mamada e, após o bebê mamar, deixar o leite secar naturalmente.

Bico invertido/plano: os mamilos planos são os que não se projetam para fora quando estimulados. Já os invertidos são os que se contraem ou se projetam para dentro ao serem estimulados. Dentre as opções estão usar a concha de amamentação, pedir ajuda de enfermeiras e evitar dar outros bicos ao bebê, como mamadeira, chupeta e bico de silicone.

Leite empedrado: acontece quando a mulher produz mais leite que o bebê consegue mamar ou quando a mãe passa muito tempo sem amamentar, podendo causar dor e incômodo. Nesse caso, podem ajudar massagear os seios, usar compressas frias, fazer ordenha, amamentar em livre demanda e estimular ambos os seios antes da amamentação.

 

* Dados do Hospital Israelita Albert Einstein

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação