Quando uma pessoa fala com outra, provavelmente não vai embora sem se despedir; isso seria indelicado. Os macacos parecem fazer algo semelhante, relata um estudo publicado na revista iScience, no qual pesquisadores documentaram os animais usando sinais propositalmente para iniciar e terminar as interações — um comportamento não visto fora da espécie humana até agora. Eles também descobriram que a dinâmica social e de poder entre esses primatas durante a interação afetou os esforços de comunicação usados, o que espelha padrões semelhantes à polidez humana.
Compartilhar intenções e trabalhar juntos em um objetivo comum leva a um senso mútuo de obrigação também conhecido como compromisso conjunto, diz Raphaela Heesen, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Durham, no Reino Unido. Agora, ela e sua equipe estão vendo evidências em grandes macacos que podem desafiar a antiga afirmação de que essa característica é exclusiva dos humanos.
Em experimentos anteriores de comprometimento conjunto, crianças humanas protestaram quando o pesquisador parou abruptamente de brincar com elas. Oferecendo brinquedos ou vocalizando, elas tentaram reengajar o cientista na brincadeira. Depois de testemunhar uma situação semelhante entre dois bonobos, Heensen e a equipe ficaram curiosos para saber mais sobre como e quando o compromisso conjunto surgiu pela primeira vez na linhagem humana.
Os pesquisadores propuseram que o compromisso conjunto não se baseia apenas no sentimento de obrigação entre dois participantes de cumprir uma promessa comum. Em vez disso, também envolve o processo de estabelecer o acordo e decidir mutuamente depois que a meta foi alcançada. Isso significa algo tão simples como entrar em um compromisso de conversação com contato visual, dizer um “olá” e, em seguida, sinalizar que a conversa está encerrando com a repetição de “tudo bem, parece bom” ou um “adeus”.
Saiba Mais
- Ciência e Saúde Os dinossauros teriam sobrevivido se não fossem atingidos por asteroide?
- Ciência e Saúde Menor bebê prematuro do mundo, nascida com peso de uma maçã, tem alta após 13 meses
- Ciência e Saúde CoronaVac: Chile vai aplicar terceira dose. Brasil fará o mesmo?
- Ciência e Saúde O que é o vírus de Marburg, doença 'prima' do Ebola que fez vítima na Guiné e preocupa a OMS
Depois de analisar 1.242 interações dentro de grupos de bonobos e chimpanzés em zoológicos, os pesquisadores descobriram que os macacos frequentemente se comunicam uns com os outros para iniciar e terminar as interações. Bonobos trocaram sinais de chegada e olhares mútuos antes de brincar uns com os outros 90% do tempo e chimpanzés, 69%.
As fases de saída foram ainda mais comuns, com 92% dos bonobos e 86% das interações de chimpanzés envolvendo um término. Os sinais incluíam gestos como tocar um no outro, dar as mãos ou dar cabeçadas, ou olhar um para o outro, antes e depois de encontros como cuidar de si ou brincar.
Curiosamente, quanto mais próximos os bonobos estivessem uns dos outros, menor a duração de suas etapas de chegada e saída, se é que existiram depois. Os autores dizem que esse padrão é semelhante a como se comunicam. “Quando você está interagindo com um bom amigo, é menos provável que você se esforce muito para se comunicar educadamente”, diz Heesen.
Quanto à compreensão da origem e evolução do compromisso conjunto, o estudo é mais um passo em frente, mas Heesen diz que ainda há muito a fazer. “O comportamento não fossiliza. Você não pode desenterrar ossos para ver como o comportamento evoluiu. Mas você pode estudar nossos parentes vivos mais próximos: grandes macacos como chimpanzés e bonobos. Se esse tipo de comunicação está presente em outras espécies, também será interessante estudar no futuro.”
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.