Saúde mental

Será que desaprendemos a conviver socialmente durante a pandemia?

A pandemia gerou um grande impacto social e deixa dúvidas sobre como as relações serão tratadas daqui para frente

Victória Olímpio
postado em 07/08/2021 14:00
 (crédito: Internet/Reprodução)
(crédito: Internet/Reprodução)

Há mais de um ano, a pandemia de covid-19 assolou o mundo, trazendo impactos políticos, econômicos e também sociais. Por ser uma doença de transmissão fácil, a primeira solução para diminuir a disseminação foi o isolamento social, mudando rotinas de trabalho, estudos e vida pessoal.

Bares, festas, restaurantes, celebrações ou qualquer evento que pudesse gerar aglomerações foram proibidos. Para que isso pudesse ser um pouco remediado, encontros virtuais e shows nas redes sociais trouxeram uma distração maior para os que estavam isolados dos amigos e família.

Ana Luiza Fanganiello, psicóloga e sexóloga, explica que o impacto social acabou gerando uma certa fobia social, além de ter aumentado casos de depressão, alcoolismo e violência doméstica.

É o caso de Ana Karolina da Silva, técnica em assuntos educacionais do IFB, que passou ao home office assim que foi decretado lockdown. "No início, o medo e a ansiedade tomaram conta da minha rotina. Nos primeiros meses, minha ansiedade aumentou muito, consequentemente, adotei atitudes autodestrutivas, como consumo excessivo de álcool, compulsão alimentar e excesso de gastos desnecessários com compras pela internet. Pela primeira vez na minha vida, senti medo da morte. Medo por mim e pelos meus pais. A sensação era de que realmente estávamos no fim", desabafou.

Ana Karolina revela que, ao se envolver com o trabalho, conseguiu amenizar os problemas, mas acabou se sobrecarregando: "Com o tempo, fui me adaptando, voltando a fazer as atividades de que gosto, iniciando projetos em outras áreas, fazendo cursos e entrando em um processo guiado de autoconhecimento que me ajudou muito. Agora, tenho uma rotina mais organizada, conseguindo o equilíbrio entre trabalho e lazer".

No entanto, algumas dúvida sobre como será a vida pós-pandemia ainda tomam conta de muitas pessoas, gerando questionamentos como "será que desaprendemos a conviver socialmente durante esse período?", "como será a volta da convivência social?" e "quero mesmo voltar à rotina de convívio social que tinha antes?".

Para Ana Luiza Fanganiello, o trauma desse período pode continuar, gerando algumas dificuldades na volta à rotina presencial, seja de trabalho ou de estudos: "Estamos passando por uma crise e toda crise tem algo que vai ter que ser cuidado depois. Essa questão social, essa questão do 'como voltar a conviver' vai ser muito difícil. Principalmente porque a gente está em tempos muito desgastados de questões políticas, questões ideológicas. A ciência virou uma questão ideológica e tudo isso está muito presente entre várias famílias que estão deixando de conviver, estão deixando de conversar por essas questões."

A especialista afirma também que o medo da contaminação pela covid-19 e as dúvidas sobre a doença geraram um grande desconforto para que o convívio social volte normalmente: "Isso vai ter que ser tratado e trabalhado.Tem gente que vai usar máscara, tem gente que não vai e todas essas questões vão fazer parte dessa nova sociedade teórica."

Ana Karolina conta que está vacinada há duas semanas, "mas ainda sem previsão de retorno presencial. Precisarei fazer uma readaptação quando houver esse retorno, pois não sinto mais falta do convívio com as pessoas. Sei que isso é um problema, mas a verdade é que estou confortável com a interação via redes sociais, não sinto vontade de conhecer pessoas novas e, agora que finalmente consegui me adaptar, fico ansiosa com mais uma mudança na rotina".

Por fim, a psicóloga afirma que, apesar das dificuldades, é possível se adaptar às novas maneiras de convivência que virão: "Como é que você vai se adaptar a tudo isso? É uma questão que o futuro vai ter que responder. Que isso tem um dano social, não tenha dúvida. A gente vai ter que se adaptar e a gente se adapta. Somos seres resilientes, então a gente se adapta e vai ter que também se adaptar as novas formas de fazer esse convívio social, de se entender como um ser social, mas também virtual".

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