Quando a moradora da Samambaia Ceciane Assunção, de 24 anos, teve covid-19, em agosto de 2020, além do medo da doença, ela teve que enfrentar o temor de passar o vírus para o filho de 1 ano e 5 meses e se viu diante de um dilema: continuar a amamentar ou interromper o ato tão importante para o bebê. A opção escolhida foi a segunda. “Meu filho é muito apegado a mim e vi que ele ia sofrer muito com o desmame. Fiquei com medo de transmitir, mas usei máscara o tempo todo”, lembra.
De acordo com especialistas, ela fez a melhor escolha que poderia ter sido tomada. “Ela vai passar anticorpos, não a doença”, ressalta Luciano Borges Santiago, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). A orientação da SBP, do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e também da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano da Fundação Oswaldo Cruz (Friocruz) é não parar a amamentação, já que o leite não transmite covid-19.
A única recomendação é que a mãe mantenha as medidas de higiene e o uso de máscara durante o aleitamento. “A mãe deve usar a máscara o tempo todo. Se ela espirrar tem que trocar e, caso seja de pano, utilizar duas ao mesmo tempo. Lavar bem as mãos ou usar luvas descartáveis, sempre que for pegar o bebê. E não deixar a criança ficar pegando no rosto e na máscara da mãe”, orienta Luciano.
A pediatra neonatologista e coordenadora de UTI Neonatal do Hospital Santa Lúcia, Sandra Lúcia Andrade, ainda orienta manter a distância do bebê sempre que possível. “Sempre higienizar bem as mãos, usar máscara e depois da amamentação, manter a distância de 2 metros entre a mãe e o bebê”, completa. Esta também é a recomendação da enfermeira neonatologista Soraia Silva de Souza. "Durante as mamadas evite falar ou tossir, caso isso aconteça a máscara deve ser imediatamente trocada”, explica.
Proteção ao bebê
Com a pandemia de covid-19, percebeu-se ainda mais um benefício que amamentação traz: a possibilidade de imunizar o bebê por meio do leite materno com anticorpos. “Existem inúmeros estudos que apontam que a amamentação passa anticorpos em quantidade importante. O que não se sabe ainda é o quanto de proteção que se passa. Então ainda não está definido se os bebês estão totalmente protegidos”, explica Luciano.
A passagem de anticorpos têm sido observada não só em mães que tiveram covid-19, mas também naquelas que se vacinaram contra a covid-19, o que mostra ainda mais a importância da imunização. “Estamos aprendendo todos juntos, mas os estudos estão mostrando que os anticorpos podem ser transmitidos. Também já temos visto casos de mães que tomaram as duas doses e conseguiram passar anticorpos para os bebês”, diz Sandra.
Soraia explica que as primeiras pesquisas feitas têm demonstrado que a possibilidade de passar anticorpos é maior quando a mãe teve covid-19 antes de iniciar a amamentação ou que continuem depois de já terem se curado da doença. “Segundo estudos, os anticorpos da fase aguda são muito grandes e não passam pela placenta, ao contrário dos que se desenvolvem posteriormente, ou seja, aquelas mães que tiveram covid, que já se recuperaram, que já produziram esses anticorpos de imunidade longa, esses sim passam pela barreira placentária e podem proteger o bebê nas primeiras semanas de vida, havendo assim a passagem de anticorpos protetor. Ressaltamos que não podemos mensurar o tempo desta ação protetora para o bebê”, explica.
No caso da vacinação, ela ainda ressalta que essa proteção é passada para o bebê no caso de outros imunizantes também. “Existem diversas vacinas no calendário da gestante com intuito de proteger o bebê, conferindo uma imunidade passiva e transitória esta ação protetora se dá desde a placenta, protegendo o feto, e através do leite materno, durante os primeiros meses do bebê, até completar as primeiras vacinas. Nessa lista estão os imunizantes contra o tétano, a coqueluche, a hepatite B e a Influenza (gripe), já que as grávidas podem evoluir mal para a H1N1 e o bebê só pode ser imunizado aos seis meses de idade”, afirma.
Estudos preliminares têm encontrado anticorpos presentes no leite materno das mães semanas depois delas terem se vacinado contra a covid-19. As evidências apontam para mais uma forma de proteção dos bebês por meio do leite materno. O que ainda não se sabe é como esses anticorpos agem no corpo do bebê, ou seja, se são capazes de dar uma proteção contra a infecção ou casos graves, como fazem as vacinas.
Na hora da amamentação
De acordo com Luciano, a amamentação durante a infecção de covid-19 só não é recomendada quando a mãe não estiver se sentindo disposta o suficiente para manter o aleitamento. Nesses casos, há uma segunda opção, que é a retirada do leite. “Se a mulher estiver debilitada, ela tem a opção de fazer a extração do leite, pode ser manual ou por uma bomba extratora, e outra pessoa oferece no copinho ou na colher à criança”, explica. Para isso, ele ressalta que é importante a pessoa que for alimentar o bebê ter conhecimento da técnica, caso contrário é possível conseguir orientação em unidades de saúde e em bancos de leite.
De acordo com o Unicef, é importante retirar o leite até mesmo para estimular a produção e mãe possa continuar a amamentação depois de curada da doença. A organização também orienta que caso o bebê contraia a covid-19 o aleitamento não seja interrompido.
Segundo os especialistas, a mãe deve manter os cuidados de quarentena por cerca de 14 dias após a infecção por covid.
Neste Agosto Dourado, mês de conscientização sobre a importância da amamentação, Luciano ainda ressalta que, para além da covid-19, os benefícios do leite materno são inúmeros, não só para o bebê, como também para a mãe. “O leite materno previne várias doenças crônicas, como diabetes, câncer, hipertensão. Inclusive a mãe também estará se protegendo de doenças como câncer de mama”, ressalta.
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